A Pipoca Mais Doce vai responder em tribunal pelo crime de difamação. O ex-marido da influencer, Ricardo Martins Pereira, escreveu uma crónica que tem como ponto de partida a agressão de Will Smith a Chris Rock, na cerimónia dos Oscares, e revela – sem nunca mencionar o nome de Ana Garcia Martins – que a namorada, Sara Veloso, agiu judicialmente contra a ex-comentadora do “Big Brother” devido a uma piada que esta fez num espetáculo de stand-up comedy.
“Não foi o Chris Rock que levou um estaladão, foram todos os humoristas que acham que no humor vale tudo. Não vale. Há uns meses, convivi com uma mulher destruída por causa de uma suposta piada. A vida dela mudou depois disso. Vale mais uma gargalhada ou a saúde mental de alguém?”, começou por questionar na MAGG, contando depois a origem do processo que deu entrada em tribunal contra A Pipoca Mais Doce.
“Há uns meses, estava tranquilamente a tomar o pequeno-almoço com a minha família quando recebo uma notificação no telemóvel. Olhei, e era um amigo a enviar-me uma notícia que tinha acabado de sair numa revista lida por milhões de pessoas onde era contada uma mentira grosseira sobre mim e sobre a minha namorada, mas supostamente dita em forma de ‘piada’. A coisa era ainda mais grave, porque a frase tinha sido dita num palco perante uma plateia de mais de cinco mil pessoas e era agora exposta na Internet, através de um vídeo, perante milhões de outras pessoas”, escreveu Ricardo Martins Pereira, mais conhecido como O Arrumadinho.
Pipoca recusou desmentir a piada
O ex-marido de Pipoca continuou: “A suposta história metia ao barulho o nome de um dos meus filhos, tinha contornos eróticos de gosto muito duvidoso e era absolutamente humilhante para a minha namorada. Pior ainda: o que era ali dito, por uma pessoa altamente poderosa e influente na sociedade portuguesa, tinha tudo para criar gravíssimos problemas não só emocionais como profissionais e sociais à minha namorada, já que aquela ‘notícia’ iria seguramente espalhar-se na Internet e ser lida (das mais variadas formas, com as mais variadas interpretações) por centenas de milhares de pessoas”.
Ricardo Martins Pereira percebeu que a notícia já era tendência no Twitter e que tinha sido publicada em vários sites de notícias, e entrou em contacto com A Pipoca Mais Doce. “Perante a indignação, o desespero, a vergonha, que imediatamente invadiu a minha namorada, não podia fazer outra coisa que enviar uma mensagem à autora da suposta ‘piada’ e pedir-lhe para, no imediato, desmentir o que havia dito, porque a história, tal como ela a contou, e tal como se podia ouvir no vídeo, era falsa e estava a causar danos gravíssimos na vítima dessa tal ‘piada’. Foi o que fiz. Imediatamente, enviei-lhe uma mensagem que dizia algo como: ‘Peço-te, por favor, para desmentires a história que está a circular, que já está em várias notícias de revistas, e que está a causar danos muito sérios na minha namorada’.”
Mas a resposta que recebeu não foi a esperada. “Qualquer pessoa de bem, que não fosse mal intencionada, e que tivesse tido como único intuito fazer uma piada inocente, perante aquela mensagem, teria tido um laivo de consciência e entendido que estava a prejudicar seriamente a imagem e a saúde mental de outra pessoa. E, assim, teria tido a humildade e a humanidade de reconhecer o erro e tentar, de alguma forma, minimizar o impacto que a sua ação estava a ter na vida de outra pessoa”, escreveu. “A resposta que obtive do outro lado foi algo como ‘Oi? Desmentir a história? Aquilo era uma piada. Desde quando é que os humoristas agora desmentem piadas? E desde quando é que os humoristas fazem humor com histórias que são sempre verdade. Seria ridículo desmentir isso’.”
Ricardo Martins Pereira fala em meses de “agressão psicológica”
O ex-marido de Pipoca conta ainda, nesta mesma crónica, que tentou convencer Ana Garcia Martins a falar publicamente sobre o assunto. “Insisti, de variadíssimas formas. Tentei a abordagem didática, explicando que a esmagadora maioria das pessoas não iria ler mais do que um título, e esse título era mentiroso e devastador para a minha imagem e sobretudo para a imagem da minha namorada. Não resultou. Tentei a abordagem humilde, de pedir, por favor, para pelo menos esclarecer a comunidade dela sobre o teor daquela história, que já estava em quase todas as revistas e jornais deste país, e a vitalizar nas redes sociais. Só pedi um story a dizer: ‘Aquilo era uma piada. O que eu disse não é verdade’. Uma vez mais, a resposta foi uma recusa”.
Ricardo Martins Pereira referiu ainda que entende a revolta de Will Smith, perante uma piada feita sobre a mulher, Jada Pinkett-Smith. “Acredito que o que o fez saltar da cadeira e subir ao palco para dar um tabefe no humorista foi a expressão da sua mulher, visivelmente incomodada e agastada com a piada (…) . Não sou por natureza violento, nunca resolvi nada na vida com estalos, e na verdade o alvo direto daquela história nem sequer era eu (embora fosse um alvo indireto). Restou-me aquilo que podia fazer na altura: apoiar a vítima, tranquilizá-la, isolá-la da toxicidade das redes sociais nos dias seguintes, aconselhá-la a reforçar a terapia, procurar mais ajuda e pontos de equilíbrio para superar a situação”, escreveu, para depois revelar que a ‘piada’ de A Pipoca Mais Doce foi apenas a “gota de água num processo continuado de uma agressão psicológica continuada que se havia iniciado meses antes”.
“Sempre em formato de historietas, revelações, piadas, brincadeiras, que foram causando enorme dano emocional, psicológico e muitas vezes profissional. À conta destas ‘piadas’, uma pessoa teve de meter baixa prolongada no trabalho, mudar de departamento na empresa para tentar minimizar a vergonha social, reforçar as consultas de apoio à saúde mental, passou por períodos muito próximos de uma depressão, e vi-a em estados emocionais muito débeis, frágeis, que me obrigaram a um apoio continuado. Do outro lado, do lado de quem fez ‘apenas’ piadas, tudo na maior, glória, espetáculo, fama, aplauso social”, contou.
“A única forma de não deixar uma situação destas impune é seguir a via que resta, a correta, aquela a que um cidadão comum, anónimo, que não tem o poder das estrelas do humor, pode recorrer: os tribunais. Será a Justiça a decidir se uma hipotética gargalhada de cinco segundos de três ou quatro mil pessoas é mais importante do que a saúde mental, o trabalho e a vida de outra pessoa. Será a Justiça a decidir se a liberdade de expressão é válida em qualquer circunstância, mesmo quando a usamos para humilhar, ofender, prejudicar e magoar outra pessoa de forma deliberada e com consequência óbvias e diretas no estado emocional e psicológico de uma pessoa inocente, que não concordou em participar daquela história. Será a Justiça a decidir se o humor é uma entidade que vive à parte da sociedade e sobre a qual não incidem as leis que regem todas as outras áreas de uma sociedade que vive num Estado de Direito”, conclui.
Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução redes sociais
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