Maria João Abreu foi vítima de um aneurisma, a 30 de abril, quando se encontrava a gravar “A Serra”. Depois do seu triste desaparecimento, logo se levantou a questão relativa ao futuro da personagem Sãozinha. E, finalmente, depois de várias especulações, sabe-se agora qual o destino que coube à mãe de Tozé (António Camelier), Jacinta (Ana Marta Ferreira) e Guida (Laura Dutra).
Sãozinha vai para um convento depois de quase ter morrido. Laura Dutra revela como foi gravar tais cenas. “Não foi nada fácil gravar as últimas cenas da carta, porque era em casa e nós já sabíamos o que tinha acontecido e que aquilo era tudo normal, mas foi a altura mais difícil das gravações”, começa por dizer.
“Acho que foi uma homenagem justa a saída dela. A Maria João era muito ligada a Deus e a Sãozinha vai para um convento. Acho que ela gostou e há-de estar aí em qualquer lado a pensar nisso porque acho que foi a melhor maneira de a tirarem da cena sem haver um drama, nem nada, convertendo-se a Deus. E sendo ela e a família dela muito ligadas à igreja católica acho que não podia ter sido melhor.”
Laura Dutra revela ainda como foi continuar a gravar a novela depois da partida dela. “Não foi fácil. Foi uma luta constante desde que ela deixou de estar nos estúdios e era muito estranho gravar nos décor dos Grilo, havia ali uma energia muito saudosa. Era uma energia estranha e nós batalhávamos por cima”, explica a atriz, contando onde foi buscar forças. Ela, Ana Marta Ferreira e António Camelier.
“Como as cenas também eram sempre alegres, dava uma leveza e nós sentíamos sempre a presença dela. Falei imenso com a Ana Marta Ferreira e com o António Camelier, ela estava ali connosco e aquilo motivava-nos a fazer sempre mais e melhor, porque ela tinha sempre esse espírito. Então nós quisemos não baixar os braços e pensar: ‘ok, a João queria que nós fizéssemos bem e acreditava em nós, por isso vamos cumprir o que ela sempre quis’.”
As últimas cenas de Maria João Abreu em A Serra
Assim, nas últimas gravações, vemos Sãozinha colocar uma chaleira ao lume para fazer chá. Toca o telemóvel e, distraída, tira a chaleira do lume, mas deixa-o ligado. Pouco depois, abre a porta de casa, encosta-se à ombreira e uma corrente de ar apaga o bico do fogão. Ela não repara. Entretanto, desliga a chamada. Agarra na fotografia dos filhos e sente um odor estranho no ar. No fogão, o gás continua ligado.
Mais tarde, Salvador passa pela casa da família Grilo.
Sente um cheiro estranho no ar e bate à porta. Ninguém responde. Entra e sente o cheiro a gás. “Dona Sãozinha, acorde!”, grita. Ela está desmaiada e não se mexe. Quando se prepara para lhe fazer respiração boca-a-boca, ela recupera os sentidos. Está muito apática e tem dificuldade em manter os olhos abertos. “Tudo a andar à roda, valha-me Deus…” Jacinta leva-lhe leite e a padeira olha, atordoada, para Salvador: “Ai que me ia finando e nunca mais via os meus ricos filhos!”
“Tenho de expiar estes pecados”
No dia seguinte, Hortense vai ter com Jacinta e revela que encontrou duas cartas de Sãozinha no altar da senhora da Boa Estrela. “Uma é dirigida a ti e aos teus irmãos e a outra é para o Salvador.” Jacinta dá a carta ao namorado, que lê alto. “Meus queridos filhos do meu coração, ontem Deus mandou-me um recado que não posso ignorar. A noite foi reveladora e percebi que tenho de expiar estes pecados todos que trago comigo, todas as vezes que disse ou pensei mal de alguém. Sonhei que o meu lugar é ao serviço de Nosso Senhor, de maneira que vou penitenciar-me com um voto de silêncio e reclusão para o convento da Ordem das Cândidas, longe de Fraga Pequena, longe de tudo. Não vão conseguir impedir-me de seguir a minha fé, por isso nem vale a pena tentar.” Ficam incrédulos.
“Sentiu o chamamento”
De seguida, o filho de Carminho prepara-se para ler a sua carta, mas Jacinta tira-a e começa a ler. “Salvador, aceita o meu mais sincero pedido de desculpas por todo o mal que te fiz. Tu és um anjo. Obrigada por me teres mostrado um caminho novo. E, por favor, cuida da minha Jacinta, sei que ela não é fácil, mas tu tens fibra para a aturar.” Já em casa, os três irmãos estão reunidos e ainda em choque.
Hortense entra. “Eu já liguei para a Ordem das Cândidas, ela está mesmo com as freiras.” Eles querem ir ter com a mãe, mas Hortense ordena: “Parou! Vocês não vão a lado nenhum. Respeitem a decisão da vossa mãe. Se ela foi para um convento é porque sentiu o chamamento de Deus. Decidiu seguir um caminho diferente. Quem somos nós para interferir? A vossa mãe está bem, está entregue a Deus.” Os irmãos entreolham-se.
Sentimento de culpa
Guida fala com Remi. “Tem de conhecer a minha mãe”, diz a jovem. Ele força um sorriso. “Um dia desses vai ter de ser. A vossa mãe criou-vos sozinhos… Passaram dificuldades?”, pergunta. “Então não? Lembro-me de estarmos sempre com a corda ao pescoço.” Ele tem um sentimento de culpa.
Ausência dolorosa
As cenas da leitura das cartas foram feitas já depois da morte da atriz, pelo que a emoção tomou conta dos atores.
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Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Divulgação SIC
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