Chegou aos “entas” este ano, tem o currículo repleto de conquistas e pretende continuar a somar objetivos. É de opiniões fortes e não se deixa influenciar. Provedora do ouvinte na Antena 1 e professora na universidade, Paula Cordeiro é uma mulher dos sete ofícios e não imagina a vida de outra forma. Divide o dia entre o ensino, a rádio, o site Urbanista e a família. Pelo caminho, tem tempo para ser embaixadora de um movimento defensor das mulheres e considera que a “luta” pelos direitos ainda não acabou. Sempre atenta às notícias do mundo digital, gosta de estar à frente dos alunos no que toca ao conhecimento e não há novidade no Facebook que deixe passar em branco. Aos 40 anos, projeta os próximos 40 e prepara-se para mais sucessos.
VIP – O que é que a levou ao universo da comunicação?
Paula Cordeiro – Acho que sempre soube aquilo que queria ser, mas tinha dificuldade em verbalizar. Um dia, percebi que queria ser escritora ou bailarina… Mas como achava que não era muito boa, nem escritora, nem bailarina, quando me perguntavam, eu dizia que queria ser arqueóloga. Na escola, fui fazendo sempre o percurso na área de Humanidades e, paralelamente, fui sempre desenvolvendo o meu interesse pela música e pela dança. Na vida temos de tomar decisões e sabia que não ia ser arqueóloga. Queria ser escritora ou trabalhar em publicidade. No fundo, queria algo que comunicasse. No nono ano, dei o meu contributo para desmitificar os testes psicotécnicos, porque dei as respostas que iam ao encontro dos meus objetivos. Portanto, os resultados foram: “Esta senhora tem um perfil para comunicação.” Era isso que tinha em mente e depois segui o meu percurso na faculdade.
De aluna a professora, como deu o “salto”?
No primeiro ano da faculdade já escrevia para um jornal especializado, o Notícias Médicas, e foi o meu primeiro grande contacto com o jornalismo. Fui experimentar relações públicas, experimentei também a área de marketing. E depois, do nada, surgiu a possibilidade de dar aulas. Fui para uma escola secundária e a minha ação foi criar uma rádio. O ministério acabou com os cursos e vi que não tinha grandes hipóteses ali dentro. Fui nessa altura fazer o mestrado e acabei por ir para o ensino superior na Universidade do Algarve. Nesta área académica, quando começamos a desenvolver trabalhos, isto acaba por ser uma bola de neve que nos leva. Acaba por conduzir a nossa vida tipo bonecos, agarrados à bola de neve, pela montanha abaixo. Sou a doutora em Ciências da Comunicação mais antiga e, por consequência, há uma série de opções em termos de cargos que vêm ter comigo. No fundo, foi isso que aconteceu. Rapidamente me tornei coordenadora da unidade de Ciências da Comunicação do ISCSP, fiquei com a condução de um departamento.
Na mesma altura, tornou-se a primeira mulher provedora do ouvinte em Portugal…
Convidaram-me para ser provedora do ouvinte. Era a verdadeira “pró” – professora, pró-reitora e provedora. Tinha os três “prós” reunidos. A experiência de provedora do ouvinte é uma grande conquista. É uma grande conquista por três razões. A primeira de caráter pessoal, porque quando criaram o cargo, olhei para a notícia e pensei que gostava de um dia ser provedora. A segunda é porque sou a primeira mulher provedora no nosso país. E a terceira porque sou provedora, independentemente do género, mais nova de sempre e isso é uma grande vitória para a própria RTP e também para mim.
Atualmente, sendo professora universitária, como é preparar o futuro da comunicação?
Tento não pensar muito nisso. Sou um bocadinho politicamente incorreta, porque a maior parte dos professores na universidade leva-se demasiado a sério. Generalizando, a maior parte está numa espécie de bolha, que é o mundo universitário, e não tem grande contacto com o mundo real. Sou o chamado híbrido, porque não sou uma verdadeira académica, mas também não sou só do mundo profissional. Estou ali no limbo e nem sempre sou reconhecida num lado ou no outro. Tenho esta particularidade que, na maior parte da vezes, é uma vantagem. Mas noutras é uma desvantagem, porque não sou devidamente aceite e respeitada em cada um destes domínios. Não me importo, não saberia viver de outra forma.
Entre o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e a Antena 1, como é que nasce o seu site?
Não vou usar aquele clichê que já está completamente estafado de “tinha necessidade de me expoe me exprimir, de expor as minhas ideias e achei que um blogue era uma boa plataforma”. Não. Não é nada disso, até porque o Urbanista não se define como um blogue. É um digital hub. É um ponto de reunião de diferentes conteúdos de carácter multimédia e procura explorar o multimédia da melhor forma. Ele surge, primeiro, porque me apeteceu criar uma coisa assim. Segundo, porque achei que existem modelos de negócio alternativos e que, acima de tudo, existem fórmulas alternativas para apresentar o mesmo tipo de conteúdo. Em terceiro lugar, porque queria criar algo que aproximasse os alunos daquilo que é o contexto profissional sem ser através dos estágios nas grandes empresas.
Através do Urbanista, surge o Body Image Movement, um movimento de defesa das mulheres…
Descobri o movimento e achei-o fantástico. As mulheres são más, ponto. Mas são ainda piores umas para as outras. E se há coisa que me irrita é ver uma mulher, que não tem propriamente um corpo de modelo, a criticar outra que tem um corpo melhor que o dela. É uma coisa que me tira do sério. Não sabemos se aquela barriga resulta de uma gravidez que depois, no final, não correu bem. Não sabemos se aquele volume todo resulta de um problema na tiroide. Não sabemos se aquela mulher está com uma grave depressão e está encharcada em medicamentos. Nós não sabemos. Achei aquilo interessante e candidatei-me para ser embaixadora. Gostaram da minha explicação, da minha postura e, acima de tudo, acho que gostaram da minha honestidade em dizer “eu nunca sofri isto, não sei o que é isto, mas condeno quem faz e não aceito que ao pé de mim façam”. Portanto, sou embaixadora em Portugal e, por enquanto, sou a única falante da língua portuguesa.
Há mais algum projeto em vista?
Há! Convidaram-me recentemente para uma coisa a que não fui capaz de dizer que não. É para lançar em Portugal a delegação da ONA, que é Online News Association. Vou envolver-me com profissionais e um outro académico no lançamento, numa espécie de correspondente desta associação cá em Portugal. Estou, também, a acabar um livro que é uma compilação dos artigos que tenho publicado na Briefing e no portal Liga-te à Media. Se tudo correr bem e se conseguir, hei de publicar, também, um romance, que está a ser escrito muito devagarinho.
Como se concilia tudo com a família?
Com ginástica. Com divisão de responsabilidades, porque a minha filha não é só minha filha. Tem um pai e, felizmente, tem avós. Sou eu quem a vai buscar todos os dias, sou eu quem lhe prepara o almoço e o coloca no termo todas as manhãs, mas é o meu marido que a leva à escola. Claro que tem exceções, mas a regra é esta. Fico imediatamente em casa, disponível para começar a trabalhar às 8h45. O dia começa cedo e acaba tarde. Tenho ali um intervalo entre as 17h e as 21h, em que não é possível trabalhar a não ser que seja uma exceção. Caso contrário é aquele período em que vou buscar a minha filha à escola, que trato das coisas todas, dos trabalhos de casa, da preparação do dia seguinte, jantar, cama.
Há algum segredo para ser uma mulher de sucesso?
Temos de ser fiéis àquilo que somos, aos nossos valores. Mas com flexibilidade. Sermos capazes de ceder quando é preciso ceder. Por outro lado, acho que depende do carisma individual de cada uma e da capacidade de afirmar as suas ideias. Nunca tive problema em dizer o que penso, com bom senso e nos momentos adequados. E sei que isso tem sido um dos fatores do meu sucesso.
Se pudesse dar um conselho às mulheres de todo o Mundo, o que diria?
Usem um sutiã confortável e vão à luta. As pessoas menosprezam a importância que um sutiã confortável tem na nossa vida. Estarmos na postura correta faz com que tenhamos mais autoridade, faz com que não nos tenhamos de preocupar com a alça do sutiã, faz com que ele não nos aperte e não estejamos distraídas durante uma conversa importante. É uma verdadeira metáfora para aquilo que é nossa vida, se nós não estivermos bem connosco, tudo à volta está mal. Com isto podemos vencer tudo e todos. E ganhar todas as guerras, que ainda são muitas.
Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Bruno Peres; Produção: Romão Correia; Maquilhagem: Ana Coelho com produtos Kioma e L’Oréal Professionnel
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