Joaquim De Almeida
“Não passo por americano”

Nacional

O ator fala sobre a sua carreira em Hollywood

Dom, 13/12/2015 - 18:50

Descontraído, acessível e sem tiques de vedeta, assim esteve Joaquim de Almeida, o mais internacional ator português, durante a entrevista à VIP, por ocasião da estreia do filme Profissionais da Crise. O ator falou sobre este desafio, política, os filhos e a carreira em Hollywood.

VIP – Profissionais da Crise, o seu mais recente filme, foi estreia absoluta na Europa no Lisbon & Estoril Film Festival (LEFFEST). Tem um prazer especial visto Portugal ser a sua terra?
Joaquim de Almeida – Tenho. Acho que as pessoas vão gostar. Estamos com uma crise política e isto tem a ver com uma crise política na Bolívia, com umas eleições. É baseado numa história verídica, mas tem muito de ficção. Vi o documentário e baseei-me bastante na personagem do Presidente da Bolívia, que foi candidato duas vezes, o Gonzalo Lozada. A minha personagem é o Castillo. Este filme é, de certa maneira, uma crítica ao sistema americano. Este Presidente viveu nos Estados Unidos e vai buscar conselheiros americanos que estão habituados a atuar de uma determinada forma nas eleições norte-americanas. Um homem que por ter vivido fora está alheio à realidade e às necessidades do povo boliviano, acha que consegue ajudar a Bolívia sendo um business-man e acaba por falhar. 

Este filme parece vir no momento certo com a conjuntura política que se vive. Assistimos a um dos governos mais curtos da história da democracia portuguesa. Como vê isto?
O povo português votou aquele primeiro-ministro. Há maus perdedores e acho isso mal. Sempre fui mais apoiante do Partido Socialista e enerva-me um bocadinho que os políticos pensem neles em vez do País. As pessoas têm de respeitar a democracia e não se respeita. 

Ainda acredita nos políticos ou este filme, que mostra as manobras de bastidores da política, fê-lo desacreditar ainda mais?
Em Portugal acredito muito pouco nos políticos. Nos Estados Unidos a política não é a melhor, mas pelo menos nos Estados Unidos vão para a política, geralmente, pessoas que já fizeram dinheiro e vão porque se podem dar ao luxo de ir para a política porque já têm muito dinheiro. Sobretudo, não acredito quando dizem que servem Portugal e os portugueses. Não. Eles servem-se a eles mesmos. Os escândalos que têm acontecido neste país mostram isso. Nos EUA também os há, mas quando acontece muitos deles vão presos.

Voltando ao filme. Como foi trabalhar com a Sandra Bullock?
Gostei imenso. Foi uma pessoa simplicíssima. É a atriz mais bem paga neste momento. É uma pessoa que tem imensa piada, tem um imenso carisma. É simpática, bonita e muito inteligente e criativa. Foi a primeira vez que trabalhámos juntos. 

Mudando de assunto. Vive numa permanente ponte área. Como é regressar a casa?
Gosto sempre de regressar a casa. Não vinha cá há dois meses, mas estive cá o verão todo, porque tenho a minha filha e queria estar com ela. O meu filho está em Nova Iorque a estudar Representação com um amigo meu, no conservatório do Tom Todoroff, e ele está a gostar, está animado.

Mas antes dizia que não o incentivava. Já está mais conformado?
Não incentivava, mas agora sim. Fui vê-lo a fazer duas peças de teatro no Festival Fringe, em Edimburgo, e vejo que ele está todo entusiasmado, tenho que o apoiar. Não estava muito entusiasmado, porque eu sei o que foi a minha vida.

Apesar do seu filho estar nos Estados Unidos, não estão nada perto. Porque mora na Califórnia e o seu filho está em Nova Iorque. 
Nada perto. Desde que ele lá está ainda não o vi. Vou vê-lo agora aqui no Natal. São cinco horas de avião e tenho outras coisas para fazer. Vou lá dia 3 de dezembro para uma entrevista na televisão. Ele está lá há dois meses.

E a sua filha?
A minha filha, coitadinha, está muito chateada, porque o pai vem, está cá pouco tempo e depois vai-se embora. É uma idade chata, 13 anos, e percebo que precisa do pai. Ela não percebe muito bem porque é que não fico cá, já tentei explicar-lhe. Não sou ator de telenovelas, gosto de fazer cinema, nem gosto muito de fazer televisão, mas neste momento estou a fazer televisão e tenho de trabalhar. 

Ainda são poucos os portugueses que têm sucesso lá fora. Além de si, há a Daniela Ruah, Diogo Morgado e agora a Joana Metrass. É difícil ser português e triunfar lá fora? 
O Diogo encontrei-o dois dias antes de vir embora, por acaso, num sítio de uma portuguesa onde vendem pastéis de nata. Foi a primeira vez que lá fui e encontrei-o quando eu ia comprar pastéis de nata. Estivemos a falar um bocadinho e disse-lhe que quando voltasse telefonava-lhe. Mas ou se vai novo para lá como eu fui ou então não se consegue, porque isto é uma profissão difícil. Agora, há uma série de atores que estão lá novos que estão a conseguir, como a Joana Metrass que está numa série na qual eu também já entrei, e tem de ser assim. Porque há muitos que aparecem lá, estão lá um bocado, e depois vêm-se embora porque cá é que conseguem trabalhos.

E continuam a dar-lhe muitos papéis de latino, apesar de ser fluente em inglês. 
Mas sou latino. São os papéis que há, não há papéis para portugueses lá. Sou fluente, mas tenho pronuncia estrangeira, não passo por americano, nem eu, nem muitos estrangeiros que lá andam. Aqueles que conseguem são os atores suecos, dinamarqueses, esses conseguem passar… A pronuncia perde-se quando se vai para lá novo. Mas os suecos conseguem disfarçar bem, para nós é difícil e mais já fui para lá com 19 anos.  

 Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Zito Colaço e Impala

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