A ideia germinou em 2012 e tem florescido de tal forma que algumas das mais influentes bloggers do mundo, como a Man Repeller Leandra Medina, ou Chiara Ferragni, autora do blogue The Blonde Salad, que tem 3,4 milhões de seguidores, destacam as Josefinas nas suas páginas pessoais. As Josefinas são sabrinas fabricadas de modo artesanal por mestres sapateiros e nasceram do sonho de Filipa Júlio.
A jovem do Porto trabalhava como arquiteta há seis anos quando a ideia começou a nascer na sua mente. Queria homenagear o seu passado de bailarina com um sapato de extrema qualidade. Depois de um ano de pesquisa e de encontrar uma sócia, Maria Cunha, num concurso de ideias, avançaram para o desenvolvimento da marca. Dois anos depois, tem uma coleção de uma dúzia de modelos base. Cada par tem personalidade própria, cada par se adapta ao pé que o experimenta, o cordão é de facto ajustável, e Filipa sente-se motivada para experimentar peças mais extravagantes.
Criou, por exemplo, as sabrinas mais caras do mundo: as Josefinas Sal Azul Persa, de veludo azul, têm uma joia incrustada e custam 3369 euros – a maioria dos modelos tem um preço de cerca de cem euros. Mais recentemente, lançou as botas twiggy, os ténis Lado B, e ainda modelos que lança ao ritmo da sua inspiração, como as Josefinas de noiva Kate e Grace, em referência a mulheres icónicas que imagina a usar as suas sabrinas.
Neste momento, cerca de 30% das encomendas vêm do mercado internacional, e esta mulher de sucesso gostava de ver a marca sobreviver-lhe e tornar-se uma referência. Aos 33 anos, casada, mãe, espera um dia voltar à arquitetura, mas sabe que neste momento se quer dedicar a este projeto de corpo alma, e percorrer o caminho que falta para levar o sonho mais além.
VIP – Como nascem as Josefinas?
Filipa Júlio – A ideia nasce em 2012. Surgiu da noite para o dia e depois não conseguia parar de pensar nisso. Dizem que uma ideia ganha uma nova dimensão quando se verbaliza e foi isso que aconteceu. Falei com um amigo meu e ele incentivou-me imenso, disse que podia ser uma realidade, incentivou-me a ir em frente. Depois conheci a Maria Cunha, que é a minha sócia, estive a explicar-lhe a minha ideia num concurso de ideias, onde queria ter algum feedback…
Como se desenrolou o processo até ter o primeiro par de Josefinas nas mãos?
Começámos por tentar chegar ao par de sabrinas que efetivamente queríamos. Isso demorou porque tivemos uma série de amostras, pesquisa de materiais, até chegar ao par de Josefinas base. Depois trabalhámos cores, coleções etc.. Faço mais o trabalho de produção, mas partilho sempre as minhas ideias com as pessoas da minha equipa. Trabalhámos no produto durante cerca de um ano com a fábrica do senhor Jorge, que é quem nos faz as Josefinas. É uma fábrica à escala certa porque nos permite ter esta interação e esta personalização, tinha de ser algo familiar. É quase um pequeno atelier. Quando tínhamos o produto acabado começámos a tratar da imagem, como iam ser desenhadas as nossas caixas, como íamos fazer a venda online…
Três anos depois, tem um crescimento exponencial…
Sim, duplicámos as vendas em 2014, as coisas estão a correr muito bem. Inicialmente com um bom acolhimento das portuguesas e agora te-mos vindo a exportar e chegar a outros mercados, e estamos muito focadas nisso, em crescer lá fora.
Imagino que há muito trabalho em marketing, como consegue que uma blogger como a Man Repeller conheça as Josefinas?
Com muito trabalho, persistência. Nós tentamos receber críticas destas pessoas, queremos que usem as Josefinas e nos digam efetivamente o que acharam, e o facto de perceberem que a opinião delas é importante para nós faz com que estejam de alguma forma mais abertas.
Mas tinha noção do que era o mercado do calçado, de como se fazia um sapato, ou era mais uma ideia abstrata?
Tinha uma ideia muito concreta do que queria fazer. Queria uma marca de sabrinas com muita qualidade, e que as pessoas soubessem que tendo umas Josefinas, estas iam adaptar-se muito bem ao pé e que praticamente só teriam de escolher a cor ou o material. Era um objetivo muito definido, que no início ajudou a definir um rumo.
E porquê sapatos?
O meu avô era sapateiro, se calhar vem um bocadinho dessa herança familiar, mesmo que não seja imediato.
E porquê sabrinas?
Fiz ballet durante dez anos e as bailarinas têm aquela ligação muito grande ao sapato, a sabrina é basicamente o sapato de ballet passado para a rua. São muitas referências da minha infância que me fazem pensar as Josefinas.
Aliás, o próprio nome é também uma referência da sua infância?
Sim, Josefina é o nome da minha avó. Ela foi a pessoa que esteve sempre comigo e com a minha irmã, que nos ia buscar à escola, levar-nos ao ballet, e acho que isso criou memórias de infância muito fortes. Ela é uma pessoa muito divertida, com um espírito muito jovem, achei que faria todo o sentido usar o nome dela.
Trabalhava como arquiteta quando surge este conceito, o que a leva a deixar a sua zona segura para esta nova aventura?
Trabalhei em arquitetura nove anos e espero voltar a trabalhar, mas surgiu este projeto, acredito que surgiu por alguma razão, e quero dedicar-me a ele a cem por cento neste momento. Não quero abandonar a arquitetura porque é uma profissão de que gosto muito, mas neste momento faz sentido dedicar-me totalmente às Josefinas.
Essa dedicação implica o apoio da família, principalmente tendo filhos pequenos…
Sim, os meus pais apoiam-me imenso, vivem ao pé de mim, isso é essencial. Mesmo em termos de otimismo é muito importante. Mas também acho que todo o trabalho foi feito com pés e cabeça. É um sonho que se tornou realidade, mas é um sonho de trabalho, e o trabalho traz resultados, por isso acho que não é um passo em falso.
E quais são as expectativas, a curto, médio e longo prazo?
Digo que gostava que as Josefinas existissem daqui a cem anos, que fossem mais do que um projeto de meia dúzia de pessoas.
Agora, criaram umas botas, os ténis, a ideia é diversificar um bocadinho, ou estes serão apenas projetos pontuais?
Quero diversificar um bocadinho, sim.
E as sabrinas mais caras do mundo, é no fundo uma estratégia de marketing? Para chegar ao mercado além-fronteiras?
Quisemos que fosse quase um manifesto sobre a forma como se fazem sapatos em Portugal. Porque temos muito essa coisa do saber fazer, da confeção, ao nível de sapatos e também da joalharia. E acho que muitas vezes nos falta o valor acrescentado que é dado pela marca, mas só nos falta isso, porque tudo o resto existe. Achámos que isso devia ser valorizado e a melhor maneira de o valorizar foi colocando uma joia no sapato, uma garra em ouro com um topázio azul. E surgem as sabrinas mais caras do mundo. Quisemos chamar a atenção para estas pessoas que efetivamente têm um know how muito importante e que tem de ser valorizado, trabalhado e preservado.
Como explica que as pessoas comprem um par de sapatos com um valor tão elevado online? Um sinal dos tempos?
Acho que a venda online ainda pode aumentar imenso, mas acho que sim, é um sinal dos tempos. As pessoas, hoje em dia, valorizam muito mais um passeio na natureza ou ir tomar um café e depois aproveitar os tempos mortos em casa para fazer compras. Aliás, há sites que vendem só produtos de luxo, exclusivamente online.
Mas está a pensar ficar só com vendas online, ou gostava de ter uma loja própria?
Gostávamos muito de passar para a rua porque para nós é importante que as pessoas tenham um local físico onde possam tocar, experimentar as Josefinas, embora trabalhemos muito uma relação pessoal. O online pode parecer um processo de compra que cria alguma distância, mas na realidade estamos em contacto direto com o cliente, o que possivelmente não aconteceria se estivéssemos representados em várias lojas multimarca, em que haveria um intermediário. Nós sabemos mesmo o que é que as pessoas que usam os nossos sapatos pensam e sentem. É uma relação de compra muito próxima.
Veja mais fotos desta mulher de sucesso na galeria!
Texto: EA; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelo: Ana Coelho com produtos Kioma e L’Oreal Professionnel
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