Luna
A menina que está a comover Portugal

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Leia o texto que Mário Augusto publicou sobre a criança

Qua, 02/12/2015 - 9:23

Luna é uma menina de apenas seis anos. Aos três foi-lhe diagnosticada uma leucemia linfoblástica aguda e, desde então, tem passado a vida no hospital.

Nas redes sociais, a família de Luna criou uma página para pedir ajuda aos amigos e conhecidos. Neste momento, a menina está a tentar recorrer a um novo tratamento em Londres.

Por coinciência, Mário Augusto encontrou-a num avião. Surpreendido com a energia da criança partilhou um texto no Facebook que acabou por ser partilhado por várias figuras públicas.

Leia aqui e saiba na galeria como ajudar

“Foi no alto a tocar as nuvens ou para lá delas que me cruzei com a Luna.

Esta menina de seis anos, tem um olhar meigo de um castanho profundo em contraste com a pele muito branca, pálida de cansaço e sofrimento.

Eu, a Luna e os pais dela, cruzamo-nos hoje como os únicos passageiros da classe executiva da TAP numa viagem do Porto para Londres. Lá atrás na turística percebi que iam outras criança mais barulhentas, mais animadas pela viagem. A Luna não . Ela ia triste, mesmo assim já aqui em Londres quis tirar uma foto, deu-me a honra de uma foto mas sem o sorriso dela porque percebi que há muito já o gastou no vento dos dias que foi soprando a natural vontade de sorrir, própria de uma menina de seis anos.

A Luna tem cara redonda, lua cheia, mas pelo que soube nesse instante, ela corre sem saber para o quarto minguante, aquela fase em que se esconde atrás do sol, atrás da luz para nós não vermos. Desejei em segredo ver a Luna nova. Esta Luna estava triste sem se perceber ao primeiro olhar. No nariz e na boca teve quase sempre uma máscara que só tirou por um beijo e esta foto. 
No percurso lá nas alturas aborreceu-a a fome. Dizia, sem se preocupar : “Tenho muita fome…dói-me a cabeça”.

Fomos os únicos passageiros de executiva que para os pais da Luna, no meio da dor e expectativa, era um avião cheio de esperança e muitas incertezas. A Luna há três anos que luta com uma leucemia, está agora numa fase muito complicada, tão complicada que os pais decidiram hoje dar tudo por tudo. Abandonaram o IPO ( quem somos nós para os julgar…essa atitude de desespero e dor) e vieram a correr para Londres. Na Televisão viram uma reportagem de uma cura com um método inovador num Hospital pediátrico dos arredores Londrinos, decidiram não esperar mais porque a vida da Luna também não espera. Vieram ás cegas, sem certezas de serem recebidos no hospital para onde já andam a mandar exames há algum tempo. Vi uma criança debilitada, uns pais perdidos, sem falarem inglês, desesperados a procurar a Luna nova. 

Contavam com a espera no aeroporto de alguém que não conhecem, amigo do amigo a viver em Londres. Disponibilizei-me para ajudar mas pouco mais pude fazer do que arranjar um hotel mesmo no terminal de Gatwick. A Luna estava cansada, esgotada da viagem e os pais na sua desesperante dor, disfarçada de tranquilidade muito digna, souberam por um contacto já ali, que o hospital não a iria receber. Não tem urgências e o tratamento pode custar mais de 350 mil euros. O preço de uma vida.

A Luna não pode esperar, irritadiça só dizia: “Mas eu quero é comer…tenho fome”. 

Deixei-os já instalados e vim a pensar: que tamanha dor, ver o sofrimento num contra relógio. Procurar um farol e não ver nada mais do que nevoeiro.

Brinquei com a Luna enquanto eles de lágrima disfarçada esperavam um contacto, beijei-lhe a mão como quem beija uma princesa com deferência. Tiramos fotos, ela só gostou desta. Quando os deixei lá no Hotel do aeroporto, garantiram-me que iam descansar, amanhã alguém amigo chega de Portugal para ir ao Hospital pedir ajuda, talvez suplicar. O recado que tinham era que o caso ainda estava em análise, mas os pais da Luna sabem que ela não pode esperar e arriscaram tudo, mesmo não sabendo onde poderiam ir buscar os 350 mil euros. Fiz uma viagem triste de comboio até a cidade.Já liguei. Ela está a descansar e mesmo sem tempo amanha será uma nova fase da Luna.

Só hoje a conheci numa breve viagem de avião mas fiquei apaixonado e triste pelo seu profundo olhar negro com mais sofrimento do que idade. A Luna tem seis anos, uma ténue esperança de vida, uns pais desesperados, hoje a dormitarem em Londres num quarto de hotel esperando por um amanhã que talvez lhes seja negado, desejo muito que não, para que continue a esperança.

Pedi autorização para publicar esta foto da Luna enquanto brincávamos no aeroporto. É uma heroína acidental. O pai ao meu pedido sorriu e disse-me: – Dê a conhecer, talvez ajude!. 
Não sei se ajuda mas ela merecia ser ajudada mesmo até à ultima gota de esperança e vontade.
É o desespero que está levar estes pais a correr atrás de alguma esperança. Ao que sei em Portugal neste tipo de doenças as praticas são as melhores e mais avançadas. Mas quem somos nós, cada um de nós para barrar ou julgar uns pais em sofrimento?

Como disse conheci o caso ali no avião, percebi a angustia dos pais e a corrida desenfreada da procura.”

Conheça também a história do Henrique aqui.

Texto: MDA; Fotos: D.R.

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