Portugal tem um clima ameno e temperado o que permite que possamos desfrutar de exposição solar equilibrada e moderada ao longo de quase todo o ano. Tal não acontece com os agressivos climas tropicais e equatoriais nem com os agrestes climas nórdicos. Contudo, no verão, na “ época balnear” a praia é destino preferencial, o que motiva frequentemente exposição excessiva ao sol.
As radiações actínias (solares) em pequenas doses têm grande benefício, mas em doses elevadas são muito prejudiciais.
Além da fotossíntese das plantas a grande vantagem para o ser humano reside na regulação e aumento de produção de serotonina e produção de vitamina D. A serotonina regula e otimiza o nosso estado de espírito tendo um efeito antidepressivo. A vitamina D é indispensável para a fixação do cálcio (prevenção do raquitismo e osteoporose), tem um efeito na prevenção do cancro da mama e do cólon, influencia positivamente o sistema imunológico e o metabolismo (diabetes tipo 2).
Embora também esteja presente em alguns alimentos, especialmente nos peixes gordos (salmão, sardinha, cavala, etc. ), na gema do ovo, fígado e carne de bovino, que contudo são alimentos que também têm grandes quantidades de gorduras saturadas, sendo prejudiciais. Mas os alimentos por si só não fornecem as quantidades diárias necessárias, que andam entre os 5000 a 10 mil unidades.
A principal fonte de vitamina D é o sol.
São necessários, contudo, apenas 15 a 20 minutos de exposição solar diária nalgumas zonas do corpo para atingir quase 100% das necessidades desta vitamina, mas… sem protetor solar. Um filtro solar dificulta acentuadamente a produção de vitamina D.
A vida atual da maioria da população, mesmo crianças e jovens, não contempla esta ligeira exposição. É, por isso, que cerca de 80% da população urbana tem défice de vitamina D.
Além disso, a capacidade de fixação de vitamina D nos idosos é cerca de 25% dos jovens de 20 anos.
No fundo e como sabemos que a radiação mais nociva ( que são os UVB ) atinge a superfície terrestre principalmente durante a hora de almoço (das 11h30 às 16h), aconselhamos que nessa altura não haja exposição direta ao sol. O problema da época balnear consiste na exposição excessiva às radiações UV mais nocivas. Assim, é necessário contrariar esta tendência da exposição concentrada e distribuí-la em doses moderadas e ao longo do ano. Será fundamental evitar os escaldões.
É importante a utilização de t-shirt e chapéu e se a exposição for inevitável aplicar um filtro solar de índice elevado. As crianças até aos dois anos devem ser protegidas das radiações solares diretas e no 1.º ano de vida não devem aplicar protetor, porque neste período a pele é um prolongamento da pele embrionária. É necessário um cuidado especial no tempo nublado. Aconselhamos a ingestão de muita água, saladas e frutas. As grávidas tem de ter particular cuidado, embora seja importante receberem pequenas doses diárias.
O bronzeado é sinal que a pele já foi agredida e como tal será de manter os mesmos cuidados.
Há muitos medicamentos que são fotossensibilizantes, ou seja, provocam alergia e tornam a pele mais sensível quando ingeridos simultaneamente com exposição solar. Em resumo, em quantidades moderadas e com sensatez o sol é fundamental, mas a exposição não deverá ultrapassar os 15 a 20 minutos diários, como já referimos, e a partir daí a proteção é fundamental.
A utilização de filtro solar terá também de ser utilizado com equilíbrio. Eles têm a vantagem de evitar escaldões e naturalmente um efeito preventivo do cancro cutâneo. Por outro lado, não sabemos ainda quais os riscos futuros da aplicação generalizada, duradoura e exagerada dos filtros químicos, pois desconhecemos os efeitos da sua possível absorção transcutânea.
A sombra é sempre a melhor defesa.
É importante o convívio frequente com a natureza, pois daí receberemos muitas vantagens. O relacionamento com o sol tem de ser amistoso e não o podemos diabolizar.
Fernando Ribas – Dermatologista
Diretor da Liga Portuguesa Contra Cancro – Núcleo Regional do Norte
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