Nos corredores e no pátio da prisão, o ex-autarca fez amigos improváveis e cruzou-se diversas vezes com Vale e Azevedo ou Carlos Cruz. “Encontrei o Carlos Cruz, cumprimentei-o, estava de barba com alguns dias. Pareceu-me moralmente abatido (…) no pátio dei algumas voltas com o Vale e Azevedo. Conversámos sobre os processos (…).” Sujeito a revistas todo nu nas rusgas, recorda uma delas: “Mandaram-nos sair a todos para o corredor, para entrarmos de seguida, um a um, para revista com desnudamento completo e posterior agachamento para verificar se algo estaria escondido no ânus.” Obrigado a lidar com todo o tipo de constrangimentos, fez questão de manter a cela sempre impecavelmente limpa, mesmo quando a greve dos guardas prisionais impedia que tivesse detergentes ou uma esfregona. “Continuo a limpar o chão com roupa interior.” Com tremendas dificuldades em dormir, habituou-se a cansar ao máximo o corpo com infindáveis voltas ao pátio ou no interior da pequena cela. Ao fim de 137 dias atrás das grades, e “cansado da comida do refeitório”, mudou para comida vegetariana. Ao longo da sua detenção, contou sempre com o amor da mulher, Patrícia, com quem, porém, recusou sempre visitas íntimas, e explica: ”Nunca entendi o ato sexual isolado. Talvez por romantismo, sempre entendi e vivi o sexo como um momento de amor. Estar uma vez por mês com a minha mulher numa sala, para satisfação sexual, dava-me uma sensação de compra de sexo. Não queria sujeitar a minha mulher a essa posição de objeto.“
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