Quando, há 17 anos, foi escolhida para ser protagonista do filme Zona J, de Leonel Vieira, parecia apenas “mais uma experiência”, depois de ter feito alguns anúncios publicitários e outros tantos castings. Porém, como costuma dizer, foi “paixão à primeira cena”. Desde então, Núria Madruga viveu muitas cenas e personagens e continua apaixonada pela profissão. Entretanto, apaixonou-se também por Vasco Silva e pelos gémeos, Sebastião e Salvador, que nasceram prematuros há quase quatro anos, devido a um problema do fluxo do cordão umbilical. Na Companhia das Lezírias, um dos sítios onde se sente em casa, partilhou com a VIP os seus desejos e revelou que acaba de integrar o elenco de Jardins Proibidos.
VIP – Antes de mais, gosta muito desta zona. É no Ribatejo que se sente em casa?
Núria Madruga – Sim, é a minha zona desde que nasci, transmite-me calma. Sempre fui mais mulher do campo do que de praia. Na família do meu pai houve sempre campinos, cavaleiros e a tradição familiar passa muito por aqui. Costumo ir com os meus filhos à Companhia das Lezírias e o Salvador já tem uma paixão louca por cavalos… Só a partir dos seis anos podem ir para a equitação, mas acho que vão adorar.
Continua a viver nesta zona?
Sim, e até consegui levar o Vasco para lá, que era daquelas pessoas que dizia que nunca iria sair da cidade, mas ele também se apaixonou. A qualidade de vida não tem nada a ver, e depois também tenho ali um grande suporte, que é ter os meus pais a cinco minutos de minha casa.
Esse suporte é fundamental, principalmente com os gémeos?
Sim, e com os empregos que temos hoje em dia, que são superinstáveis em termos de horário, eu conto com os meus pais para tudo, principalmente com os meus filhos. Entraram no infantário aos dois anos e adaptaram-se lindamente. Agora, estão quase com quatro anos e estão numa fase deliciosa. Adoro as fases todas pelas quais foram passando desde bebés, mas agora, realmente, já conversam muito mais connosco. É superengraçado assistir à evolução deles.
Eles têm essa relação embrionária de gémeos?
Acho que não, no sentido em que não são gémeos verdadeiros. Eles não são iguais e acabam por ser irmãos que nasceram no mesmo dia, mas têm a sua individualidade. As pessoas não os confundem, são muito diferentes, e as pessoas vão-se relacionando de forma diferente com eles. Um é muito mais extrovertido e o outro muito mais tímido. Vejo é uma ligação entre irmãos que sempre estiveram um com o outro, que tanto se adoram e sentem imensa falta um do outro como se fartam de brigar. É uma relação muito próxima e vê-se que se adoram.
Também teve essa relação com a Dália, a sua irmã?
Sim, não conseguíamos viver uma sem a outra. Ainda hoje somos muito presentes na vida uma da outra.
Ela acabou por ir também para o mundo tauromáquico. Custa-lhe que ela esteja mais longe, no Alentejo?
Sim, custou-me a habituar. Só passa porque sei que ela está muito feliz e a felicidade dela deixa-me muito feliz. No entanto, sinto pena de não estar tantas vezes com ela como quando morava ali ao lado. Ela está lá em família, mas claro que é diferente, nós estávamos sempre todos juntos, a nossa família era muito unida, mas isso vai-se colmatando com umas visitas, aproveitando ainda melhor os momentos em que estamos juntos.
Fala imenso da sua sobrinha. O nascimento da Clara deu-lhe vontade de ter novamente um recém-nascido em casa?
Eu adorava ser mãe outra vez e, se tudo correr bem, irei ser, mas sinto que eles ainda precisam muito de mim, são muito ligados a nós. Já tiveram de dividir o espaço um com o outro, agora ainda terem de dividir o espaço com mais alguém… Acho que merecem ter a mãe só para eles durante mais algum tempo. Quando os sentir mais independentes, vou pensar nisso.
Até porque, sendo mãe de dois, teve de reconquistar a sua carreira aos poucos…
Felizmente, amo a profissão que tenho. Não me vejo a fazer outra coisa, por isso tento conciliar a minha vida profissional com a pessoal. Claro que a minha vida pessoal está acima de tudo, mas, enquanto mulher que gosta do que faz, tento. No primeiro ano deram-me oportunidade de estar mais com eles, mas depois temos de retomar o espaço que já tivemos e continuei a fazê-lo o melhor que sei, independentemente de ser mãe. Dou tudo, tanto no trabalho como em casa.
Como é que isso se consegue depois de uma ou duas noites mal dormidas?
Noites mal dormidas já tive muitas e às vezes é complicado, mas como não sou daquelas pessoas que ficam maldispostas quando dormem pouco, vai-se gerindo. Sempre me adaptei bem. Posso até fazer uma direta, mas quando chego ao trabalho parece que o resto fica lá fora, e depois é o trabalho, a personagem, esqueço o cansaço. Acho que passa por fazermos o que gostamos.
É preciso gerir isso enquanto casal também? Por serem gémeos, por terem nascido prematuros, foi preciso serem um casal muito unido para conseguirem gerir isto?
Exatamente. Tudo o que nós vivemos foi uma prova de fogo para nós enquanto casal, mas foi uma prova muito bem superada, porque o Vasco sempre esteve ao nosso lado, não tenho nada a apontar, foi perfeito enquanto marido, enquanto pai, ainda continua a ser, e acho que o segredo da nossa relação é amarmos tanto a família que temos. Assim, tudo se consegue. Claro que há dias menos bons, nada é perfeito, mas no meio das imperfeições vamos conseguindo ser o que ambicionamos enquanto família e termos os dois os mesmos objetivos é o mais importante.
Conseguem ter momentos a dois?
Poucos. Devíamos esforçar-nos mais, mas gostamos de estar os quatro, sentimos que é importante para eles estarem connosco e sempre nos habituámos assim. O primeiro ano foi com muitas reservas, eles não podiam sequer ir a uma festa de anos, houve muitos cuidados, e estivemos muito os quatro. Já nos vamos sentindo mais preparados para fazer um fim de semana aqui ou ali, mas acho que tem de ser tudo a seu tempo e não me arrependo nada de termos estado mais com eles. Gosto mais de estar com eles do que de sair ou voltar a ter a vida que tinha antes de ser mãe.
Teme voltar a passar pelo mesmo? O risco não a deixa mais insegura?
Não, porque foi uma situação que eu não podia controlar. Ninguém podia prever que aquilo podia acontecer. Foi o cordão umbilical do Sebastião, não era nada que eu pudesse evitar, por isso não tenho medo, é muito pouco provável que volte a acontecer.
Porém, até lá, continua muito focada no trabalho… e no novo projeto?
Sim, vou entrar na fase final dos Jardins Proibidos, sou a Telma, uma miúda muito descontraída, ligada à praia, aos animais. Já gravei algumas coisas, mas ainda estou em fase de preparação. É um desafio ótimo, até porque, como disse, sou muito menina do campo, ela é muito ligada ao mar, dá aulas de paddle, que é mais um desafio para mim. É giro, há personagens que nos ensinam muito.
É uma das vantagens de ser ator, descobrir outras formas de vida?
Completamente. Eu gosto de fazer muita coisa e acho que é por isso que sou atriz, vamos vivendo as personagens, acabamos por dar-lhes um bocadinho de nós, mas elas também nos dão muito à medida que as vamos construindo. Uma das coisas que me deixam mais feliz é sentir que estou a surpreender as pessoas com o meu trabalho.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Cabelos e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel
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