A aos 32 anos, é uma das principais caras da informação da TVI e uma das nomeadas na categoria de Jornalista/Apresentadora dos Troféus TV7Dias. Alentejana, era uma criança irrequieta – e continua –, andou nos escuteiros e tirou os cursos de Comunicação Social e Gestão Bancária. Na sua primeira grande entrevista, Ana Sofia Cardoso mostra que o sucesso que atingiu não é por acaso. Uma conversa que revela perfeitamente quem é esta jornalista.
VIP – Foi a única portuguesa a entrevistar o recém-eleito primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, do partido Syriza. Foi o resultado da sua persistência?
Ana Sofia Cardoso – Sim. Eu e o Emanuel Prezado acabámos por ir à sede da campanha, em Atenas, porque queríamos falar com alguém do Syriza. Tínhamos a expectativa de que o futuro primeiro-ministro aparecesse, mas nunca ninguém nos disse que ia estar lá. Atendendo ao que tínhamos ouvido e ao ambiente que se vivia, acreditámos que era possível. Nesse período de espera, travámos conhecimento com outras pessoas do Syriza e, quando ele apareceu, foi mais fácil.
Mas estavam lá todos os jornalistas?
Na Grécia estavam jornalistas de 45 países, mas nesse local só estava mais a equipa do The Guardian, que saiu antes do tempo.
Este feito ganha mais valor porque só viaja para a Grécia em cima da hora.
Sim. Era o Pedro Pinto que estava para ir, pois já tinha feito as eleições na Grécia, mas adoeceu subitamente e, 12 horas antes do voo, soube que era eu que ia para Atenas.
O que dá maior sabor ao “exclusivo”…
Claro que ficámos satisfeitos por termos um “exclusivo” para Portugal e julgo que nesse dia mais nenhum jornalista conseguiu falar com o agora primeiro-ministro grego.
E que importância tem um trabalho deste tipo para uma pivô?
Vejo-me como jornalista. Tanto posso estar no estúdio, como em reportagem.
Alguém da Direção de Informação lhe deu os parabéns?
Toda a gente. E soube bem.
Há alguns anos que é uma das caras da informação da TVI. Como é que a dona Maria do Carmo e o senhor António Manuel, os seus pais, lidam com a sua exposição pública?
Não ligam mesmo nada a isso.
E não a veem na televisão?
Nem sei. Umas vezes sim, outras não. A minha família e os meus amigos não ligam nada a isso de eu aparecer na televisão. Nem faz parte das nossas conversas. Mas têm orgulho porque sabem que sou uma pessoa empenhada e dedicada.
Como é que a tratam? Ana? Sofia?
Ana. No Alentejo sempre fui Ana. Depois, na faculdade, começaram a tratar-me mais por Sofia. Na TVI umas pessoas chamam-me Ana, outras Sofia e outras Ana Sofia.
Com que frequência vai ao Alentejo?
Normalmente, todos os meses.
E tinha pronúncia?
E tenho. Sempre que vou ao Alentejo e falo com alguém, regressa logo a pronúncia.
Era uma criança irrequieta e dava umas vassouradas na sua irmã, mais nova dois anos.
(Risos) Era irrequieta, sim, e as vassouradas também aconteceram, durante as brincadeiras.
Continua irrequieta?
Sim. Há uma maquilhadora na TVI, a Raquel Sá, que me diz: “Não consegues estar em casa sentada no sofá?” Não dá. Se estiver no sofá, estou a ler, a ver televisão e a fazer outra coisa ao mesmo tempo. Gosto de aproveitar o tempo. Não sou pessoa de estar parada.
Agora, fui transportado para a entrevista com o primeiro-ministro grego. Foi toda a gente para casa e ficou ali, impaciente…
É um pouco assim, sim.
Profissionalmente, é uma virtude.
Sim, no jornalismo não nos podemos acomodar. Nunca pensei: “Ele não me vai dar a entrevista.” Pensei: “Vou tentar uma, duas, três vezes e desistir só em último caso.”
Andou nos escuteiros. O que ficou dessa experiência?
Os acampamentos em grupo, mesmo no campo, ao relento. Adorei e só terminou quando entrei para a faculdade.
Onde entrou em Comunicação Social. Como foi a mudança, aos 17 anos, de Reguengos para Lisboa?
Muito pacífica. Não senti diferença. Habituo-me facilmente aos ambientes. Vim para a mesma casa da minha amiga, Élia Quintas.
Quis ser inspetora da Polícia Judiciária. Há aí um sentimento de justiceira.
Era um pouco isso. Na escola primária tinha um amigo – que ainda é – que estava sempre a ser chateado por outros miúdos. E eu ia lá defendê-lo. Depois, há também aquela parte da investigação, de descobrir coisas.
Mais tarde concluiu uma Pós-Graduação em Televisão, pela Universidade Autónoma de Lisboa. A televisão sempre foi o sonho?
Quando entrei na faculdade, preferi logo televisão. Mas o mundo da comunicação é muito difícil, há poucos meios em Portugal e muita gente. Portanto, é difícil conseguir entrar no meio. Como vinha da área de Economia, no secundário, resolvi jogar pelo seguro e fazer três anos de Gestão Bancária, ao mesmo tempo. A televisão era um desejo, mas sabia que podia não se concretizar.
Isso é que é realismo. Tão nova e procurou logo um caminho alternativo.
Sim, logo no primeiro ano da faculdade.
Foi influenciada pelo seu pai, também bancário?
Um pouco. Mas gosto muito de matemática e gestão. E hoje dá-me muito jeito ter esse conhecimento na banca.
Estagiou na TVI de outubro de 2004 até março de 2005. Ficou desiludida por não ter continuado?
Não. Preferia ter ficado, mas não fiquei desiludida, até porque, 15 dias depois, os editores de Economia da TVI indicaram-me para uma produtora que fazia programas para a RTP2.
Os programas 2010 e Da Terra ao Mar. Notou muitas diferenças em termos de estrutura?
Não tem nada a ver. Gosto muito de informação diária e quem tem este gosto prefere um grande canal.
E, em 2006, volta à TVI para integrar a equipa de informação on-line do canal.
Sim, mas na esperança de fazer reportagem diária, de rua.
Foi um investimento.
Acabou por ser. Na RTP estava a adorar fazer reportagem e propuseram-me voltar para o on-line. Vi isso como voltar atrás para depois seguir em frente. E foi o que aconteceu.
Até que surge a apresentar o Diário da Manhã. Tinha de acordar por volta das 3h30/4h da manhã. Eram tempos duros?
Nunca me custou muito levantar cedo. Custa-me mais se for às 8 da manhã. Claro que é cansativo, mas é um horário engraçado de fazer. E estava supermotivada.
Foi uma boa experiência.
Fantástica. São três horas e meia a falar, tudo a acontecer em cima da hora, a preparação é curta e é um grande desafio.
Qual é o horário que prefere?
Não tenho. Todos têm vantagens e desvantagens. Agora, estou a adorar fazer a 25.ª Hora da TVI24. É um projeto que começou com o João Maia Abreu, que estamos agora a continuar e com ótimos resultados.
Atualmente, dividimos a liderança do horário da meia-noite com um programa que está no ar há muitos mais anos. Vermos o trabalho de equipa dar frutos tem sido incrível.
Atualmente, dividimos a liderança do horário da meia-noite com um programa que está no ar há muitos mais anos. Vermos o trabalho de equipa dar frutos tem sido incrível.
Gostava de ser pivô do noticiário em horário nobre?
A minha principal preocupação não é o que quero fazer daqui a uns anos, mas sim se logo à noite vou fazer um bom trabalho. E se amanhã também. Se com isso puder chegar a outro lugar, muito bem. Se não, bem na mesma. Mas já apresentei o Jornal das 8 e fiquei satisfeita pela oportunidade e por confiarem em mim, mas no meu trabalho.
Aos 32 anos, admite que já construiu uma carreira de sucesso.
Estou muito satisfeita com o que tenho feito, com as oportunidades que me foram dadas e com as respostas que fui dando.
Em que pivô mais velho se revê?
Não sou pessoa de me rever. Nunca tive ídolos. Apenas tenho admiração por vários pivôs e jornalistas, em quem me inspiro.
Moura Guedes faz falta à informação em Portugal?
Todos os jornalistas fazem falta à informação. E também faz falta não se desistir, procurar um pouco mais e continuar a tentar sempre. Somos assim na TVI, não desistimos à primeira. Por isso, temos tido muitos exclusivos.
E a sua opinião de José Eduardo Moniz?
É um líder muito forte e conhece bem o mundo da televisão.
Sentiu diferenças com as mudanças nas direções?
Pessoalmente, não. Tive sempre oportunidades. Claro que, no início, não tinha tantas; agora tenho mais, mas espero ter mais ainda. Faz parte de uma evolução.
Nunca teve um período de descontentamento? A VIP chegou a relatar problemas na Informação da TVI…
Além de não estar descontente, estou muito feliz na TVI. Acredito que nós próprios também temos a obrigação de nos automotivarmos. Não podem ser só os fatores externos. E se estivermos motivados, também criamos bom ambiente e motivamos outras pessoas.
Como é que viveu o drama da morte do filho de Judite Sousa?
Todos ficaram tristes e solidários com o que aconteceu. Não nos foi indiferente. Abalou toda a gente, todos sentimos essa dor, todos nos colocámos naquele papel de sofrimento e ninguém ficou indiferente.
Passemos às danças e cantorias. Esteve em A Tua Cara Não Me é Estranha, como uma das Doce e participou ainda na Gala das Estrelas. Mas não pareceu ter muito jeito para as cantorias. Foi impressão minha?
Gosto mais de dançar do que de cantar. E tenho mais jeito para dançar. Os jornalistas participam nessas galas precisamente porque não é o nosso ambiente e é uma oportunidade das pessoas nos verem num registo diferente. E uns têm mais talento do que outros.
Via-se a apresentar um programa de entretenimento?
Estou concentradíssima no jornalismo, mas nunca posso dizer nunca. Mas não me estou a ver a fazer isso.
Quando fiz a pesquisa no Google pelo seu nome, o terceiro registo é de um excerto de telejornal, com o nome “Ana Sofia Cardoso sexy no Jornal da Uma – TVI (26-11-2013)”. Quinto registo: “Ana Sofia Cardoso… a jornalista sensual !!!” Como é que lida com este tipo de elogio?
Não lido, nem deixo de lidar. Era pior se dissessem mal. Quem está à frente de uma câmara, acaba por ouvir comentários. Faz parte.
Lida bem com os elogios, o assédio e a exposição pública?
Há de tudo. Respondo a algumas mensagens. Mas não me considero uma figura pública. Sou jornalista.
Como é que é namorar com alguém da concorrência, neste caso, da SIC?
É como namorar com qualquer outra pessoa.
Quem é a Ana Sofia Cardoso, aos 32 anos?
Profissionalmente, é uma jornalista que está a tentar fazer o seu caminho. Esforçada, dedicada e altamente motivada para fazer sempre mais e melhor.
Texto: Humberto Simões; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Cabelo e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Styling: Dora Rogério assistida por Gisela Carvalho
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