Uma história com 57 anos que precisava de contar. Simone de Oliveira escolheu fazê-lo no dia em que completava 77 anos. A história foi revelada à SIC, mas em declarações à VIP Simone de Oliveira não esconde o que passou. “Sim, fui vítima de violência doméstica no meu primeiro casamento”, revela. “Não gosto de falar disso e até preferia que não fosse notícia. O que passou, passou. Agora é viver um dia de cada vez”, continua a lendária intérprete de A Desfolhada.
A cantora era uma jovem de apenas 17 anos quando resolveu casar. Não revela o nome do primeiro companheiro, porque diz que resolveu “esquecê-lo”. No dia em que assinalou mais um aniversário, Simone de Oliveira mostrou que é uma mulher de coragem. “Foram 77 anos cheios de sofrimento e de glória. Neste momento estou desempregada, com uma pensão de reforma que é miserável e sem qualquer proposta de trabalho. Mas lancei um disco no ano passado e tenho duas autobiografias à venda nas livrarias”, explicou a mulher que é para muitos considerada uma diva nacional.
“Abomino a violência doméstica”
Simone de Oliveira recorda que os tempos eram outros, mas na sua cabeça a dignidade estava acima de tudo. “Olhe, hoje faço 77 anos e o telefone não tem parado de tocar. Se fui vítima de violência doméstica? Sim fui. Mas isso já foi há muitos anos e, na altura, estamos a falar da década de 50/60 do século passado, isso nem sequer era considerado crime. A mulher tinha de obedecer ao marido e pronto. A única coisa que lhe posso dizer é que foram três meses horríveis, o tempo que durou essa relação”, explicou a atriz.
Questionada sobre a forma como foi maltratada, Simone de Oliveira remete para as declarações públicas que fez a Hernâni Carvalho, comentador do programa Queridas Manhãs, da SIC. “O que está dito, está dito. Não quero acrescentar mais nada. Aquela é a verdade”, revela.
E a verdade, confirmou Simone Oliveira, é que, aos 17 anos, iniciou um relacionamento com um homem bastante mais velho, com quem casou aos 19 anos e que lhe começou a bater: “Passados três meses decidi que aquela não era a vida que eu queria. Não sabia o que fazer, mas sabia que não era aquilo. Por isso, ameacei atirar-me de uma janela de um andar alto se o meu primeiro marido não me abrisse a porta para eu me ir embora. Se a relação durasse mais tempo ou eu morria ou eu o matava”, recorda, emocionada.
Segundo ela, o ex-marido abriu-lhe a porta e depois lembra-se de pouco: “É um buraco negro na minha vida. Só me lembro de apanhar um comboio e de ir para a casa dos meus pais, em Alvalade. Contei tudo à minha mãe. Naquela época era complicado os pais aceitarem situações de violência doméstica, mas os meus foram fantásticos. Recomecei a minha vida e, repito, tive momentos difíceis e momentos bons ao longo da minha vida. Mas nunca tive momentos maus. Garanto que abomino a violência doméstica e a pedofilia, porque, além dos homicídios, são os piores crimes que alguém pode praticar”, afirma.
Simone de Oliveira diz ainda que não se divorciou do primeiro marido: “Eu não me divorciei. Só saí de casa. Sabia que iria ter problemas com as instituições existentes na altura – recordo que estamos a falar de tempos muito anteriores ao 25 de Abril de 1974 – e que seria criticada pela sociedade em geral. Mas não me arrependo dessa decisão.”
“Vou continuar a lutar”
Com altos e baixos na carreira, Simone de Oliveira admite que os 77 anos não lhe fazem confusão nem a amedrontam: “Em primeiro lugar quero ter saúde e depois há uma coisa impagável, que é a apetência que tenho para viver. Além disso, gosto muito de trabalhar. Essa sempre foi a minha vida. Trabalho e mais trabalho e dar amor a todos os que me rodeiam. Sou bem tratada por toda a gente, sobretudo pelo público e por toda a Imprensa. Devo muito mais às pessoas do que elas me devem a mim”, revela emocionada.
E Simone recorda que cantou nas antigas colónias portuguesas onde, assegurou à VIP, granjeou muitas amizades: “É verdade que andei muito com a bandeira às costas. Andei pelo País todo, de Norte a Sul, comigo a guiar, com colegas, de madrugada. Quando estava fora, gastei muito dinheiro a telefonar para os miúdos. Foi uma sorte ter a minha irmã e os meus pais a ficarem com eles. Até hoje, dia em que faço 77 anos, sinto toda a força que eles me deram e alguns continuam a dar.”
Um beijo aos leitores da VIP
Confrontada com os seus dois casamentos e outros amores, Simone é lacónica: “Tirando a minha primeira relação, o casamento com o António Varela foi do mais perfeito que poderá existir. Sinto muito a falta dele ainda hoje. Pensei que duraria pouco tempo, mas durou duas décadas. E, sinto muito a falta dos meus pais. Foram fundamentais para que eu me tornasse na pessoa que sou hoje e ganhasse o respeito das pessoas. Hoje, sou uma mulher que se sente realizada e feliz por tudo o que fiz e pelas decisões que tomei ao longo da minha vida”, afirma em jeito de balanço.
No final da conversa, Simone de Oliveira recebeu os parabéns da nossa revista e concluiu: “Toda a gente relacionada com os órgãos de comunicação social sempre me tratou bem e deixo um beijo de agradecimento a todos os leitores da VIP pelos parabéns que me foram transmitidos.”
Pelo seu percurso profissional, Simone de Oliveira é, citada pelos imensos amigos que tem, como
“uma imortal”.
A carreira de um mito vivo
Simone de Oliveira tem mais de 50 anos de carreira e é dos maiores mitos da cultura popular portuguesa. Cantora, atriz, mulher e audaz, quer através da sua própria voz, quer pela de muitos colegas e amigos que a acompanharam nas várias fases da sua carreira, tais como, Nicolau Breyner, Virgílio Castelo, Raul Solnado, Eunice Muñoz e muitos outros.
Teve muitos êxitos como atriz e como cantora, mas a canção A Desfolhada é a sua grande imagem de marca e cuja letra, em plena Ditadura, tecia duras críticas, embora veladas, ao regime que governava na altura o nosso país.
Concorreu várias vezes ao Festival RTP da Canção e sempre obteve boas pontuações, até o conseguir vencer. “É uma mulher de armas”, assegura Fernanda Garção, uma antiga atriz que diz “ter sido um privilégio privar com uma pessoa com um coração do tamanho do universo”.
Texto: Carlos Tomás; Fotos: Impala e DR
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