É a pergunta do momento: afinal, onde param os 1,3 milhões de euros que desapareceram das contas do Grupo Espírito Santo (GES) e que precipitou o fim do Banco Espírito Santo? Ricardo Salgado, presidente do BES, acusou o antigo contabilista da Espírito Santo International (ESI) – a holding que controlava os negócios financeiros e não-financeiros da família – de ser o único responsável pelo desvio da verba. Agora, Francisco Machado da Cruz, o administrador da ES Enterprise, uma sociedade fantasma do GES, vem defender-se e atribuir as culpas ao ex-patrão.
Ouvido à porta fechada pela Comissão de Inquérito Parlamentar, na quinta-feira, dia 8, após ter invocado segredo de justiça e estatuto de arguido, garantiu que “ninguém roubou um cêntimo dos 1,3 mil milhões de euros”. Ou seja, que não se apropriou indevidamente desse dinheiro, e que tudo o que fez foi “a mando de Ricardo Salgado”.
Mas o que fez Machado da Cruz? A pedido do então presidente executivo do BES, o ex-contabilista diz ter “mascarado” as contas do GES, para ocultar os prejuízos da ESI. Isto no ano de 2008. Afinal, vivia-se uma crise profunda nas instituições financeiras, e o banco não passou por ela incólume. “O passivo foi ocultado porque o GES estava a ter perdas significativas. Era suposto ter sido só nesse ano, mas continuou, infelizmente, em 2009, 2010, 2011 até 2013”. Só em 2008, Machado da Cruz recorda ter ajudado a “camuflar” 180 milhões de euros de prejuízo nas contas. Nos anos seguintes, o valor viria a aumentar até chegar aos 1,3 milhões de euros, cujo paradeiro se tenta agora encontrar. O contabilista defende-se: “Não fui eu que tive a ideia de ocultação, foi Ricardo Salgado, em 2008. Todo o Conselho Superior sabia do passivo da ESI”. Afinal, como o próprio terá explicado, “apesar da ocultação, apresentava sempre contas consolidadas” ao patrão. Declaração que contraria o depoimento de Ricardo Salgado na mesma comissão, onde garantiu aos deputados que não tinha conhecimento das irregularidades nas contas da ESI e que, tal como os restantes administradores do GES, foi apanhado de surpresa pelo que disse ser um “erro” de Machado da Cruz.
Mas o contabilista vai mais longe. “O que eu fiz é algo de que não me orgulho nada. Estou muito arrependido. Estou, nos últimos anos, em angústia”, disse aos deputados da Comissão de Inquérito Parlamentar, a quem explicou ainda que só admitiu fazê-lo por “lealdade” ao administrador do BES. Mas não só: Ricardo Salgado ter-lhe-á assegurado que, apesar destas manobras, tudo iria ser resolvido.
O inquérito prolongou-se por cerca de nove horas. À saída, o presidente da comissão, Fernando Negrão (do PSD) assumiu que “todas as perguntas [tinham sido] respondidas”. Recorde-se que a comissão de inquérito arrancou a 17 de novembro e pretende “apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades”. Nesta comissão já foram ouvidos nomes como Ricardo Salgado, José Maria Ricciadi ou Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Recorde-se que o buraco nas contas da GES foi descoberto numa auditoria realizada a pedido do Banco de Portugal, no final de 2013, o que impulsio-nou o fim do grupo e do Banco Espírito Santo, a 3 de agosto de 2014.
Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Nuno Moreira e Impala
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