Ao fim de 25 anos de carreira como ator, Ricardo Carriço decidiu apostar numa outra área, a da música. Em conversa com a VIP, o ator e agora cantor percorre a sua vida, explica o motivo da aposta musical e revela aquilo que deseja para o próximo ano. Fiel a si próprio, aos 50 anos Ricardo Carriço deixa a certeza de que não lamenta o que ficou para trás.
VIP – 50 anos. 25 de carreira. O tempo passou depressa demais?
Ricardo Carriço – O tempo passa sempre depressa demais. Não me arrependo de nada do que fiz. Sinto-me realizado ao longo destes anos. Há sempre coisas que surgem e que gostaríamos de fazer, mas estou numa fase da minha vida em que me sinto muito tranquilo e muito satisfeito com aquilo que tenho feito, não só em termos profissionais como pessoais.
Pensando apenas no tempo de carreira, que balanço faz do seu percurso?
É engraçado porque houve de tudo. Desde momentos épicos, em que tudo estava a acontecer e onde havia uma relação forte e intensa com o trabalho, a momentos com menos trabalho, que me deram a possibilidade de desenvolver outro tipo de projetos, como o caso da Confluência. Estes momentos permitiram que visse as coisas de uma perspetiva diferente, com uma certa distância, que me permitia analisar o que estava a acontecer comigo. E, agora, voltar outra vez. Sentir que o espaço está cá e que tudo pode continuar a desenrolar-se da melhor forma possível.
Consegue escolher um momento alto destes 25 anos?
Vários! O projeto Confluência, desenvolvido ao longo de sete anos, é algo de extraordinário. Existem momentos ligados à representação que se criaram devido às novelas e à empatia entre colegas, algo que permite desenvolver projetos de qualidade extraordinária. Também os primeiros projetos, o Major Alvega, o Claxon, em que tudo era novidade. Ao longo da minha carreira, sinto que todos os momentos foram importantes. Agora consegui misturar o canto com a representação. Perdi aquele medo ou insegurança que podia ter e vejo algo novo a crescer com boa aceitação por parte das pessoas. É muito bom.
Porquê só agora esta aposta na música?
As coisas acabam por ter o seu tempo. Não tinha encontrado as pessoas que achava serem certas, ou com quem me sentia à-vontade, para soltar este lado. Não queria deixar de ser eu. Todos os temas que foram escritos até agora foram sempre acompanhados por mim, e as ideias foram sempre partilhadas. Isto deu origem à confiança, ou maturidade pessoal, que encontrei agora.
Quando existem pessoas associadas a uma área, no seu caso à representação, que decidem apostar noutra área surgem críticas de que isso não passa de um capricho…
Já estou habituado a isso porque aconteceu desde o início [risos]. Quando comecei como manequim, existiam os manequins de passerelle que depois passavam para a fotografia. Eu fiz o contrário. Logo aí levei com o carimbo. Quando comecei a trabalhar como ator, fui aquele que veio partir as coisas todas e dizer que se podia trabalhar noutras áreas. Saí das luzes das passerelles e passei para as luzes das televisões. Depois, fiz teatro e comecei logo no Teatro Nacional, pelas mãos do Carlos Avilez. Também houve muita gente a torcer o nariz. É uma coisa que já não me incomoda. Desde que tenha a garantia de que estou rodeado pelas pessoas certas, e tenha consciência de que o trabalho é bem feito, confesso que não me importo muito com os comentários dos outros.
Sente um prazer e orgulho maiores quando as pessoas começam por torcer o nariz, mas a qualidade dos projetos acaba por ser reconhecida?
Na minha vida, quero fazer as coisas bem feitas. Uma vez, cheguei a casa dos meus avós e disse, em frente à família toda, que me tinha inscrito numa agência de modelos e que ia ser modelo fotográfico. Toda a gente ficou em pânico. Houve uma voz que se levantou e que me disse para eu fazer o que queria, pedindo-me apenas para tirar o meu curso e para fazer tudo bem feito. Isto foi uma moção de confiança que a minha mãe me passou na altura e que calou toda a gente. É algo que me tem acompanhado ao longo destes anos. Tenho noção de que a subida é rápida e que a queda acontece ainda mais depressa. Não é um orgulho, é a consciência de que devo fazer o que sei com a maior generosidade possível. E, acima de tudo, estou sempre a aprender. E saber ouvir também é importante. Sempre que me dão uma opinião, ouço tudo aquilo que têm para me dizer.
Como é que as pessoas reagem ao seu lado musical nos showcases que tem feito?
Ficam surpreendidas. Depois, manifestam essa mesma surpresa, o que é fascinante e muito gratificante. É engraçado ver o carinho que as pessoas transportam do personagem da novela para a pessoa que sou e para esta última parte da minha carreira, que passa pela música.
Destaca algo menos positivo na sua carreira?
Quando as coisas correm menos bem servem para que se aprenda com elas. Tento analisar essas situações e perceber por que razão estão a acontecer. Normalmente, não gosto que as situações menos boas se apoderem de mim. Tento pegar nelas, analisá-las e dominá-las. Resolvê-las, no fundo. Os momentos menos bons são sempre de aprendizagem e só temos a ganhar com isso.
Faz parte do elenco de Mar Salgado, uma telenovela bastante elogiada e que tem tido um grande sucesso. Tem sido uma surpresa?
Quando se avança para um projeto é com a consciência de que será um projeto ganhador. O que não quer dizer que não se tenha a consciência de que tem de ter qualidade e que as histórias sejam reais e que a novela seja um retrato da sociedade. Encontra-se isso no texto e nas relações que foram construídas entre os personagens.
O projeto é um sucesso. Faz parte dele enquanto ator e ainda dá música ao seu personagem. É um casamento perfeito?
Confesso que sim, é um casamento perfeito [risos]. As coisas surgiram a seu tempo. Tive a possibilidade de apresentar o tema [O Meu Mundo] que dá nome ao projeto às pessoas e todos disseram que tinha tudo a ver com o personagem. Fiquei muito contente quando recebi o “ok” da produtora SP e da SIC.
Ainda há algo que lhe falte fazer na representação?
Claro que há! Há sempre desafios que gostaríamos de concretizar.
Quais?
Não lhe vou dizer quais porque não gosto de dizer. Gosto de desejá-los. Mas, claro que existem muitas coisas que quero fazer.
Nunca se cansou ao ponto de querer mudar de vida?
Não. O gozo que dá e o resultado final dos trabalhos nunca me levaram a pensar que ia mandar tudo isto às couves. De maneira nenhuma.
“Quando podia, não tive filhos” é uma frase sua. É algo que lamenta?
É a vida. Foi o que foi [risos].
Leia a entrevista completa na edição número 911 da VIP
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Sónia Reis; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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