Ela é portuguesa, ele norte-americano. Mas como Adelaide de Sousa faz questão de frisar: “Tentamos viver o Natal como cristãos, por isso não há essa coisa da nacionalidade”. O fotógrafo Tracy Richardson até já se habituou a comer bacalhau, algo que nunca tinha provado no país de onde é natural. É na companhia do filho de ambos, Kyle, de cinco anos, que vão passar a quadra em Portugal, e vão fazer em conjunto o seu próprio presépio de barro.
VIP – Aproxima-se mais uma quadra de Natal. É uma época que apreciam? Ganhou ainda mais significado depois de terem sido pais?
Adelaide de Sousa – Estou a reconciliar-me com esta época pouco a pouco… Não vou dizer que o Natal fosse uma coisa má para mim, mas a maneira como ele foi descaracterizado nos últimos 30 anos é deveras preocupante. Já poucos se lembram que o que celebramos não é a ida ao shopping nem o bacalhau com couves, mas o nascimento de Jesus. Para mim, tem vindo a ganhar cada vez mais a ideia de que é uma festa religiosa e deve ser vivida pela nossa família como tal. De facto, desde que o Kyle nasceu que se tem tornado ainda mais assim, até porque sabemos a pressão que existe sobre as crianças no sentido de que elas se esqueçam do que está a ser comemorado efetivamente.
Tracy Richardson – Como americano, vi o Natal transformar-se num evento histérico em que se deita dinheiro no lixo. Sempre foi uma época triste para mim. Infelizmente, é como a América é agora. Talvez pior, porque as pessoas estão a atravessar uma crise financeira em Portugal, mas seguem cegamente a loucura da América. Eu odeio a confusão comercial, então eu pego no nosso filho e na minha mulher e mantemo-nos juntos até que termine. Passamos tempo em família, vamos à igreja, rezamos e explicamos ao Kyle o que é o Natal e porque é que Cristo nasceu.
O vosso filho vibra muito quando chega a altura de decorar a casa e montar a árvore de Natal?
AS – Ele gosta, mas não é absolutamente fundamental. Decoramos um pouco a casa, montamos a árvore e este ano vamos fazer o nosso próprio presépio de barro, pintado e decorado por nós. Isso sim, entusiasma-o! Lembro-me de ir apanhar musgo para pôr no presépio quando era menina, era sempre divertido, e quero muito passar essa ideia ao Kyle de que as melhores coisas saem das nossas próprias mãos.
Ele já começou a fazer a lista de presentes? Ele escreve uma carta ao Pai Natal?
AS – Ele sabe que o Pai Natal não existe. Explicámos a lenda de S. Nicolau e que agora ele é retratado como este senhor velhinho vestido de vermelho, mas encara-o como uma personagem de desenhos animados. A nós, pediu-nos três prendas, que vamos transmitir ao resto da família.
Sendo a Adelaide portuguesa e o Tracy norte-americano, de que maneira se reflete a cultura e as tradições de ambos na comemoração da quadra?
AS – Tentamos viver o Natal como cristãos, por isso não há essa coisa da nacionalidade. A questão é que houve uma grande aculturação nos últimos anos e as diferenças já quase não existem. Comprar, comprar, comprar… e nisso não colaboramos. Só os mais pequenos e os mais idosos da família recebem prendas. Em termos gastronómicos, estamos mais perto do que se faz em Portugal. Eles lá têm o fiambre de Natal, aqui temos o bacalhau. Ele não gosta muito, mas paciência!
TR – Numa palavra… bacalhau! Nunca tinha comido na América, mas penso que entretanto já comi de todas as maneiras e feitios. Tenho saudades da neve nesta época nos EUA, mas nós vamos até Óbidos e andamos de skate com o Kyle. Se estivéssemos na América visitaríamos o estado de Vermont e brincaríamos na neve, mas aqui também é divertido. E as luzes de Lisboa são muito bonitas no Natal. A cidade fica realmente mais bonita nesta época. É uma boa troca.
A Adelaide nunca escondeu que tem pena de que o vosso filho não lide tão de perto com a parte da família que mora nos Estados Unidos, em particular com a avó paterna. No Natal costumam lá ir para também celebrar com eles e matar as saudades?
AS – Era bom! Não há dinheiro para isso, os bilhetes subiram exorbitantemente de preço nos últimos três anos. Mas sim, gostávamos muito de poder estar com a minha sogra. Tentamos colmatar a falha com as prendas que trocamos, essas sim com um valor emocional muito elevado devido à distância. Nesse caso, entendo a necessidade de se gastar dinheiro para lembrarmos a quem está longe que estamos aqui a pensar neles…
Já equacionou voltar a morar nos Estados Unidos, desta vez, claro, com toda a família?
AS – Neste momento e num futuro próximo está fora de causa. Ir para lá fazer o quê? E num país onde a saúde é tão cara, com um filho pequeno e nós que já não vamos para novos… seria tolice. Não nos parece sensato pensar nisso dados os desafios que temos aqui para superar. Estamos muito envolvidos no nosso livro, Mulheres Guerreiras, e nas causas sociais que temos advogado.
Há alguns meses manifestava alguma falta de trabalho. Acha que lá fora não teriam outras oportunidades?
AS – Outras, sim, mas melhores? Não creio. Com a visibilidade que tenho aqui posso fazer muito mais pelas tais causas que defendo. Vou deixar-me estar enquanto achar que sou útil onde estou. No caso do meu marido, é tão difícil lá como cá, não há diferença. A nossa vida é aqui por enquanto, disso não temos dúvidas.
A que acha que se deve a falta de convites para trabalhar em televisão, quer como apresentadora ou atriz?
AS – Bem, a vários fatores: um é pessoal. Tem a ver com o facto de eu ter feito algumas opções no passado, ter dito alguns nãos por querer ficar com o meu filho, e depois, naturalmente, as pessoas param de convidar… mas não me arrependo. Outro poderá ser o facto de o mercado ter mudado bastante, ter-se tornado um pouco mais selvagem. Não vou dizer competitivo, porque a competição é boa quando premeia o profissionalismo e a ética. Mas estamos numa sociedade que cada vez menos valoriza essas características e que não hesita em deixar de lado a experiência em favor da novidade. Penso que é pena, mas é assim na televisão e é assim em muitos outros ambientes profissionais. Aos 40 já estamos velhos! É sinal de que, de facto, hoje em dia a juventude per si tem um valor inflacionado. Todos querem ser eternos adolescentes, como alguém me dizia…
Sempre falaram com o vosso filho tanto em inglês como em português. Com cinco anos ele fala bem as duas línguas?
AS – O Kyle é bilingue. Desde que estava na minha barriga que ouvia as duas línguas e o cérebro foi-se desenvolvendo com essas competências. Demorou mais a falar, mas agora fala muito bem ambas as línguas e traduz diretamente tudo o que precisa de dizer a um e a outro.
Leia a entrevista completa na edição número 908 da VIP.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Liliana Silva; Produção: Manuel Medeiro; Cabelos e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybeline e L'Oréal Professionnel
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