Fez 41 anos a 11 de novembro e diz-se o quarentão com mais estilo de Portugal. Cláudio Ramos explica por que saiu de casa com 15 anos para trabalhar e, aos 18, já era um empresário de sucesso. Considera-se o melhor na sua área, mas já sofreu ameaças. No entanto, não tem inimigos. Esta é também uma viagem ao lado mais íntimo deste “apresentador emprestado ao comentador”. Um artista, como se define.
VIP – “Meu anjinho da guarda/minha doce companhia/ guardai a minha alma/de noite e de dia”…
Cláudio Ramos – É a oração que aprendi em pequeno e que a minha filha reza todas as noites. Eu e os meus sete irmãos rezávamos todas as noites aos pés da cama, antes de adormecermos.
Não pareceu muito contente com a entrada do seu irmão Luís na 4.ª edição da Casa dos Segredos…
Não gostei que ele entrasse porque não soube antes. Se calhar, se soubesse, também não o deixava entrar. Mas ele tem esse direito. Entrou, ganhou dinheiro e ainda bem. Tem feito um caminho normal, sabe que tem de voltar ao trabalho, que a fama não lhe pode subir à cabeça e que não dura para sempre. Obviamente que, depois de entrar, apoiei-o. Acho é que devia ter-me avisado porque ia com um segredo meu.
Mas estão bem? Surgiram notícias de que estariam zangados.
Estamos bem. Ele é um bebé. Eu sou muito presente. Não substituo um pai, mas eles são como filhos, para mim.
O Luís quis o caminho mais fácil para a fama?
Viu aquilo como uma oportunidade. É assistente de topografia, ganha 600/700 euros, ficou sem trabalho e pensou: tenho um bom segredo, pois ninguém vai desconfiar que sou irmão do Cláudio Ramos. Não temos a mínima parecença. Era óbvio que ser irmão de uma pessoa tão conhecida, e da concorrência, era o passaporte para entrar. Ele, que, há 10 anos, quando era criança, tinha estado a apoiar-me no Big Brother dos Famosos… Nunca pensei que ele ganhasse – e ele também não. A partir do meio, deixei de ver porque me irritava. A minha mãe começou a dizer que ele tinha de desistir porque estava em sofrimento, mas ele, pelos vistos, sabia o que estava a fazer e ganhou o dinheiro.
Cláudio Ramos nasceu às seis da manhã do dia 11 de novembro de 1973, em Luanda. O que faziam os seus pais em Angola?
Não tenho nenhuma relação com o meu pai, mas sei que a minha mãe estava muito apaixonada. Tinha ficado sem pais há pouco tempo, tinha estado num colégio interno durante muitos anos e resolveu viajar. Por lá se apaixonou, casou e ficou. Fui o único filho que nasceu lá, mas não tenho memória de Luanda.
Dá muito valor à relação entre familiare e tem o papel de pai bem vincado, mas não fala com o seu pai. Nunca sentiu necessidade de fazer as pazes?
Não. O sangue não é condição para nada. Ou se gosta ou não se gosta. Ou há química ou não há. Há coisas que não tive de um pai e que deveria ter tido. Serviu-me de exemplo para a relação que tenho com a minha filha. Quero ser um pai diferente. Já não preciso de um pai. Já precisei, mas agora não. Cortei relações com ele porque não nos entendíamos. E não me faz falta.
Saiu de casa com 15 anos e o que foi fazer?
Fui vender publicidade para o jornal Notícias de Elvas. Estive lá até aos 18, a vender publicidade pelo telefone e a escrever textos. Arrendei um quarto, comprei um carro e depois abri uma pequena agência de publicidade.
E como é que aparece, em 1996, ao lado de Nicolau Breyner em Uma Casa em Fanicos?
Fiz um casting. Queria muito fazer televisão e concorri a um anúncio para ator. Só sabia que era no Teatro Vasco Santana. E fiquei. Era uma figuração especial, mas fiz os episódios todos e aprendi. Ganhava quatro contos [20 euros] por dia. Gastava muito mais só para ir para lá…
Mas valeu a pena, porque depois participou em Jardins Proibidos e Médico de Familia…
Em dois episódios de Jardins Proibidos, que até hoje não me pagaram. No Médico de Família fiz vários episódios. Mas não era aquilo que eu queria. As pessoas dizem que tenho jeito, mas não quero ser ator.
Diz-se que foi Emídio Rangel quem o descobriu e afirmou: “este puto vai ser uma estrela”.
Antes de enviar a cassete já lhe tinha escrito uma carta a pedir uma oportunidade na SIC, logo no início, para ser apresentador da meteorologia. A secretária dele relembrou-o, dizendo-lhe que a pessoa da cassete era a mesma que tinha enviado a carta no início da SIC. Disse-me, então, que eu tinha ali a oportunidade de uma vida. “Faz com ela o que quiseres”. Estas palavras ficaram até hoje.
Qual a relação que foram mantendo ao longo dos anos?
Profissional. Terei jantado com ele uma vez. A última vez que o encontrei foi há um ano. Ele disse-me: “Continuas cá”. E eu respondi: “Mas é chato, Dr. – tratava-o por Dr. – porque é difícil, para as pessoas, verem-me a fazer outra coisa”. Ele deu-me os parabéns, porque eu estava na SIC a apresentar as Sextas Mágicas. E disse-me: “Não faz mal verem-te a fazer outras coisas; o que interessa é que estás a trabalhar. Não queiras ser um príncipe como milhões, quando podes ser um rei”.
É um crítico assumido. Tem inimigos?
Nenhum. Conheço todas as pessoas sobre quem falo e normalmente telefono-lhes antes. E se me chega aos ouvidos que a pessoa pode não ter gostado seja do que for, pego no telefone e resolvo logo o problema.
Mas um futebolista ligou-lhe a dizer que lhe partia as pernas.
Sim, no início. Também me furaram os pneus do carro, outros ameaçaram-me no Bairro Alto. Mas, aí, a culpa também era minha porque passaria, eventualmente, uma informação que não era bem explicada ou bem defendida porque não tinha espaço no programa para o fazer. Neste momento, todos os meus espaços são do meu domínio.
Portanto, não é um famoso mas um crítico social.
Não gosto dessa expressão, nem de cronista. Sou um apresentador emprestado ao comentador. Sou um artista.
Alguma vez sentiu que passou o limite?
[pausa] Acho que sim. Senti. Na ânsia de fazer bem… Isso pode levar a um resvalo. Geralmente, é contra mim.
A sua participação no Big Brother Famosos 2 foi o passaporte para a fama?
Foi a melhor decisão que tomei na minha vida. Foi um risco, mas fui por duas coisas: o dinheiro fazia-me falta e era importantíssimo que as pessoas percebessem que havia um Cláudio que não era o das Noites Marcianas. E perceberam.
É um alvo apetecível, mas acha piada quando dizem: “O Cláudio Ramos é maricas”.
Isso é mais no contexto dos humoristas. Na altura do Levante-te e Ri, o Cláudio Ramos vinha à baila em todos os espetáculos.
Dá-lhe gozo as pessoas não terem a certeza acerca da sua sexualidade?
Toda a minha vida brinquei com esta dualidade, com o que possam pensar a meu respeito. Não me faz diferença. É a minha maneira de ser.
Algum dia vai desvendar este mistério?
Não há mistério. Sinceramente, a minha sexualidade não é mistério para ninguém. Não me vão ouvir dizer que dormi com a Angelina Jolie ou com o Brad Pitt. O que se passa na minha cama é só meu. Também nunca me vão ouvir dizer que sou um super macho porque andei com 20 mulheres…
Mas existe um Pedro na sua vida. Afinal, quem é, para si, Pedro Crispim?
As pessoas falam imenso do Pedro e acho um disparate dizerem que o Pedro é um amigo. As pessoas sabem exatamente o que o Pedro é, será ou foi na minha vida. O Pedro apareceu na minha vida aos 33/34 anos, ajudou-me em determinado modo a ver a vida como não a via, ajudou-me à sua maneira, eu entendia à sua maneira e ficará na história da minha vida à sua maneira.
Já sofreu por amor?
Já, duas vezes. Às vezes, pergunto-me se vale a pena amar. Ainda choro muito. Agora choro mais para dentro, em casa. Não deixo que as pessoas vejam.
Parece que não é feliz…
Tenho uma boa vida e agradeço todos os dias a Deus a filha que tenho. Sou feliz, mas quero mais. Mereço e preciso de ser mais feliz.
Qual a pergunta que gostava de fazer ao Cláudio Ramos?
Se algum dia era capaz de contar a verdade. Se um dia contasse a minha verdade, as pessoas não iriam acreditar.
Mas pensa contar?
Sim. No ano passado convidaram-me para escrever a minha biografia, achei um exagero. Dava dinheiro e devia ter aproveitado [risos]. Se um dia escrever, vou escrever com nomes, datas e factos. Uma história com a minha verdade. Quando contar o que passei para estar aqui, as pessoas não vão acreditar, de tão irreal que é. As pessoas não têm a mais pálida ideia de quão vencedor sou.
Texto: Humberto Simões; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia;
Maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Cabelo: Ricardo Freitas
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