Os pais sempre lhe chamaram Tó, mas acabou por se habituar a ser Tony. Admite ser do Sporting, mas torcer também pelos rivais. Conta como é a relação com os filhos, Mickael, David e Sara, e fala abertamente de todo o seu percurso. “Não estou a gostar do peso dos 50 anos”, salienta Tony Carreira.
VIP – Quem lhe chama António?
Tony Carreira – Os que não são íntimos, mas gostam de dar a entender que são.
O que lhe chamam os mais próximos?
Os meus pais sempre me chamaram Tó. Desde os 12, 13 anos que me habituei a chamarem-me Tony. António acho que nunca me chamaram.
Lembra-se da primeira vez que subiu ao palco?
Foi mesmo por paixão. Não éramos grandes músicos – todos nós. A primeira vez foi numa terra perto de Paris onde, salvo erro, com seis ou sete canções, tocámos por cerca de cinco horas. Cada música tinha cerca de 25 minutos e, quando acabavam, voltámos a tocá-las.
Encheu algumas das maiores salas do mundo e, só no Pavilhão Atlântico, foram umas 13 vezes. Como é que se mantém esta ligação com o público?
A única coisa que está em meu poder, para que essa ligação exista, é o trabalho. O resto não depende de mim. E a honestidade no trabalho, nas canções que gravo. Acredito nelas, gosto delas. A primeira pessoa a gostar tenho de ser eu. E, além disso, trabalhar nos concertos para que sejam o melhor possível, para que, depois, as pessoas julguem. O resto, não sei.
Tem medo do dia em que o Pavilhão Atlântico já não encha?
Claro que sim. Claro que sim. Tenho medo, a cada disco que gravo. Não penso que o que faço tem de ter, obrigatoriamente, sucesso. Não posso pensar isso. A cada desafio, o medo existe, até porque nada é eterno.
José Cid, por exemplo, disse que era um cantor “fraquinho”?
Gosto muito do José Cid. Mas gosto mesmo. Gosto muito das canções do Zé.
Já vi que não é rancoroso.
Não tem a ver com rancor. Admiro a obra dele. E respeito a opinião das pessoas.
Mas admitiu que lhe custa não receber prémios em Portugal. Já ultrapassou isso?
Já, há muito tempo. Mas já recebi muitos prémios. Salvo erro, recebi 60 discos de platina, enchi 13 vezes o Pavilhão Atlântico, 30 Coliseus, 20 Olympias, cinco milhões de discos, um público fantástico. São muitos prémios. Aliás, acabei de receber um no Mónaco, no Music Awards, onde estavam artistas “fraquinhos” como o Ricky Martin e a Beyoncé. Artistas “pequenos”, claro. E claro que gostei de o receber. E, se viesse a receber prémios em Portugal, claro que gostaria. Se não os recebo é porque as pessoas que os dão acham que não os mereço. E tenho de respeitar isso.
Anunciou publicamente a separação a 18 de agosto. O casamento acabou mesmo?
Agradeço a próxima pergunta.
Houve sempre a dúvida, se estaria separado legalmente ou não.
Próxima pergunta.
Tem uma relação especial com a sua filha Sara. É por ser mulher?
A minha relação com os meus filhos é… [pausa] Toda a vida lutei por uma carreira e, no fim de tantos anos, percebi que, sem dúvida, os meus filhos são o mais importante. A relação é igual com os três. Agora, acho uma certa piada à forma elegante e bonita como a Sara me engana. Gosta de ser enganado por ela. Por ela, por ela. A Sara também me apanhou numa idade diferente e é menina.
É menina do papá?
Não. Quer dizer, eu digo que não, mas toda a gente diz que sim.
O Mickael e o David têm ciúmes?
Não. Protegem-na muito. Adoram a miúda e têm uma relação maravilhosa com ela.
E o Tony Carreira gosta de futebol?
Adoro.
Tem clube?
Tenho. Cheguei à conclusão que, o que mexe mesmo, mesmo comigo, é a seleção nacional. Depois, sou adepto do Sporting.
Neste momento, passa mais tempo em Portugal ou França?
Em França. Até finais de novembro será assim. Depois de dezembro, será metade-metade.
Onde sente que está a sua casa?
Lisboa. Claro. É onde tenho as minhas coisas.
Ainda gosta de dormir no sofá?
Adoro dormir no sofá. É a melhor cama do mundo.
Sente o peso dos 50?
O que me deixa satisfeito é que o peso dos 50 é menor do que o peso dos 60. Já assumi que não vou gostar da brincadeira. E não estou a gostar. Não me está a dar prazer nenhum.
O que pode adiantar sobre o novo álbum?
Há quatro anos que não gravava um disco de canções inéditas e estou a ter muito, muito prazer. Vai ser um disco ainda com mais maturidade – o que é normal – e espero que as pessoas o recebam bem, porque são grandes melodias, grandes orquestrações. Sempre assumi que quis evoluir.
Mas sentiu a pressão dos fãs por estar quatro anos sem gravar um novo disco?
Já aprendi a viver com a pressão, sem senti-la. A minha forma de ver os discos, ou os espetáculos, continua a ser a mesma: tenho de ter orgulho e gostar do que estou a ouvir ou a fazer. Enquanto não sentir isso, o disco não sai ou o espetáculo não existe. Artisticamente, necessito de não parar. Já houve alturas em que me disseram para não ir por ali, por não haver necessidade de arriscar. Mas eu preciso disso para me sentir honesto em relação à minha profissão e a mim mesmo. Se não sentir o peso do risco, morri. Quando sentir que já não tenho vontade de o fazer, então mais vale parar.
Texto: Humberto Simões; Fotos: Zito Colaço
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