É especialista da família real espanhola, fundador do jornal El Confidencial digital e autor de vários livros e argumentos, muitos deles dedicados ao príncipe Felipe. Uma década depois do casamento, José Apezarena lança o livro Felipe e Letizia, A conquista do trono, onde retrata os dez anos que conduziram à coroação recente dos príncipes das Astúrias. Em entrevista à VIP, revela pormenores sobre os novos reis de Espanha e também sobre os desafios que se colocam a Juan Carlos e Sofia, cujo casamento está no centro das atenções de nuestros hermanos.
VIP – Antes de mais, porquê este livro, e porquê agora?
José Apezarena – Há vinte anos escrevi uma biografia do príncipe Felipe e, desde essa altura, sempre segui o percurso dele. Com os dez anos de casamento propus-me relatar tudo o que aconteceu desde então, como chegámos até aqui, como é que eles chegaram até aqui, como se esforçaram por serem dignos de merecer o trono. Ou seja, o livro conta os dez anos deste casal, enquadrados na história do país e da monarquia.
Há dez anos acreditava que, em 2014, Felipe já seria rei de Espanha?
Não. Cada vez que perguntámos ao próprio rei e às pessoas que o rodeiam se algum dia abdicaria, sempre nos disseram que não. Foi uma surpresa total. Está mal de locomoção, das extremidades inferiores, mas de resto está bem de saúde. Esperava que demorasse muito mais tempo.
Então o que é que o fez mudar de ideias?
A monarquia estava a sofrer um desgaste de imagem e, no ano passado, Juan Carlos esforçou-se para recuperar a sua imagem, fez umas viagens extenuantes, com as muletas. E apercebeu-se, primeiro, que lhe era muito difícil, e depois que não estava a conseguir mudar a tendência geral, que a imagem do rei com muletas é muito negativa. Algumas pessoas próximas dizem que, se não sofresse estas limitações físicas, não teria abdicado, mas acho que foi uma decisão sábia e que, de alguma forma, foi a coroação final da sua obra.
Felipe foi sempre o seu objeto de estudo. Porquê Felipe?
Trabalhava como jornalista e pensei escrever uma biografia, mas de alguém que não morresse a seguir. E queria alguém com projeção, e cuja biografia ainda não tivesse sido feita. Como já trabalhava há anos com a família real, lembrei-me de escrever sobre Felipe. Desde então, escrevi vários livros, quase sempre sobre a família real.
Letizia era a rainha que Espanha precisava?
Isso é uma pergunta difícil. O que é isso? É uma pessoa com sangue azul que o faça mal, uma menina sem caráter que fuja ao primeiro problema? A monarquia espanhola precisa, fundamentalmente, que o rei esteja bem casado, casado com alguém de quem gosta e, desde que era pequeno, Felipe dizia que se casaria por amor. Quando houve a discussão sobre a eleita, disse aos pais que tinham de confiar na sua opção. Porque acredita sinceramente que Letizia é a pessoa adequada. E a verdade é que tem cumprido a sua missão de forma impecável.
Como vai ser o futuro de Juan Carlos?
Vai-lhe custar muito. É um homem muito ativo e agora tem de estar parado e, portanto, vai ter de inventar uma nova vida. O rei está muito sozinho: os filhos não estão em casa, a rainha está constantemente a viajar… Já não tem atividades oficiais, portanto, vai ser muito difícil para ele.
Vão divorciar-se?
Não. Quando é necessário, aparecem juntos. Ainda na proclamação de Felipe a rainha deu um beijo ao marido. E, atenção, que passei anos com eles e nunca a vi, praticamente, dar um beijo ao rei. Acho que as coisas se acalmaram muito. No palácio real não dão qualquer importância a essa informação. Eu, do meu lado, pergunto: por que o fariam? Podem viver como estão agora, sem que haja divórcio. Isso poderia prejudicar toda a família. Duvido muito que isso aconteça.
O rei poderá agora continuar a ter amigas como a Corinna Sayn-Wittgenstein?
Ele tem 76 anos, está com dificuldades de movimentos. Quando surgiu a notícia da caçada no Botsuana houve uma crítica como jamais houvera. Da casa real deram-lhe tudo o que foi publicado e acho que ele se assustou tanto, pela gravidade da situação, que se arrependeu tremendamente. Quando disse “peço desculpa, enganei- -me, não o farei mais”, acho que se referia a tudo. Não o fará mais.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Nuno Moreira e Impala
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