Terminou o verão, mas José Manuel Trigo e Vera Roquette são os rostos mais permanentes da noite algarvia. Orgulham-se de receber várias gerações no T-Clube, uma casa que tem já 26 anos e continua a manter-se. “Não na moda, porque a moda passa e o T-Clube não passou”, diz o empresário, que admite, porém, que é cada vez mais difícil combater a crescente sazonalidade.
VIP – Mais um verão a chegar ao fim…
Vera Roquette – Estes meses sabem muito bem porque adoro o mar, o cheiro dos pinheiros, fazer caminhadas à noite, e continuo a gostar de dançar. E é, sobretudo, uma época em que temos o privilégio de estar com algumas pessoas.
José Manuel Trigo – Já está a terminar… Infelizmente, está a criar-se uma sazonalidade muito vincada. Estamos, praticamente, a fazer animação durante três semanas muito intensivas e isso é péssimo para a região. O que sinto é que, apesar de estarmos a aumentar a taxa de ocupação, estamos a diminuir em média per capita, estamos a perder valor, e devíamos estar ao nível de Ibiza ou Marbella.
Continua a ser um apaixonado pelo Algarve e pela noite?
JMT – Claro, sou algarvio! E adoro a noite também, mas reconheço que podia ter investido em negócios mais diurnos que dessem uma sustentabilidade maior à marca T-Clube. Não digo que não aconteça no futuro, como criar um hotel de charme, na medida em que esta sazonabilidade cria algumas dificuldades à nossa marca. Casas que abrem três ou quatro semanas têm custos completamente diferentes da nossa.
A vossa vida é muito diferente no verão e no inverno?
JMT – Cada vez mais estamos no Algarve, porque neste momento não temos negócios em Lisboa e gosto muito do Algarve no inverno. O Algarve devia ter nadadores salvadores o ano inteiro, porque os estrangeiros, com temperaturas de 15, 16 graus, viriam cá o ano todo. Podíamos ser um destino do género da Grécia e criar eventos que nos animem no inverno, concursos hípicos, ténis, golfe, porque temos clima para isso. Falta-nos uma sala de congressos com capacidade internacional e um centro de estágios para alta competição desportiva. No inverno temos muito mais tempo para nós, claro. No verão, um trabalha mais de dia, outro trabalha mais de noite, e até nos revezamos nisso, entre a festa, a decoração e as compras. Há coisas que têm de ser feitas durante o dia… Às cinco da tarde já não há peixe fresco, por exemplo.
A Vera aproveita o inverno para os seus projetos pessoais?
VR – Sim, entrego-me mais à escrita. Nos últimos três anos publiquei quatro livros, para adultos e para crianças. Atualmente, houve uma pausa porque as ilustrações, por exemplo, são caríssimas. Neste momento estou com um projeto meu, todos os dias escrevo e aquele livro vai sair, nem que seja uma edição de autor.
Sempre sentiu necessidade de escrever?
VR – Desde miúda que escrevo muita poesia. Convidaram-me para ser jornalista, para ser guionista… Mas, na altura, estava no Agora escolha, que era muito absorvente, e havia uma ligação de tal maneira intrínseca com as pessoas que não tinha coragem de os abandonar. Depois, encontrei o Zé Manuel, e acabei por optar. Foi difícil, mas teve de ser. Não fiquei no vazio, havia muito trabalho de produção, foi muito rico. Às vezes, ainda penso na televisão e tenho saudades. Mas pus de lado, e vim parar à escrita. Quando vou às escolas e vejo crianças a rebolar pelo chão às gargalhadas, se lhes deixar uma semente no coração, sei que, quando partir, vai ficar lá algo que a Vera deixou.
Nunca sentiram a necessidade de ter filhos?
VR – Não aconteceu, mas a verdade é que não tive pena. É estranho, como é que, sendo eu uma pessoa que adora crianças, não tenho pena de não ter filhos. Acho que tenho, talvez, um certo egoísmo. Sou uma pessoa de liberdade, não conseguiria ficar em casa para cuidar de um filho, mas também não concebo deixar o meu filho com uma empregada.
Por outro lado, também não deixaria o meu marido ir sozinho… Imaginam-se reformados?
JMT – Nunca imaginei e quando tenho pouco para fazer quase entro em stress. Mas também, como costumo dizer, um empresário nunca se reforma: ou passa a empresa aos filhos, ou morre com ela. Se, por alguma razão, o T-Clube deixasse de estar comigo, acho que ia inventar outro. Acho que faz falta um T-Clube em Lisboa. É um investimento muito grande, numa altura em que as pessoas não estão disponíveis para pagar um valor justo pelo que se oferece, porque é óbvio que a diferença entre um copo de plástico e um copo de vidro ou de cristal tem um valor acrescentado.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Jorge Ferreira
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