Rita Marrafa de Carvalho acaba de vencer o Troféu TV 7 Dias de Televisão na categoria de Melhor Jornalista/Repórter, um prémio que considera ter um “significado muito especial”. Prestes a assinalar-se mais um Dia da Mãe, foi entre as brincadeiras de Mariana, de oito anos, e Miguel, de três, que um dos rostos mais conhecidos da informação televisiva falou à VIP sobre o seu papel de mãe e como o concilia com as suas responsabilidades profissionais.
VIP – Venceu o Troféu TV 7 Dias na categoria de Melhor Jornalista/Repórter. Que significado tem o prémio?
Rita Marrafa de Carvalho – Tem um significado muito especial, porque apesar de ter sido nomeada por um leque de personalidades de grande prestígio na área da comunicação e das artes, quem votou nos vencedores foram aqueles que nos veem todos os dias e para os quais nós trabalhamos tantas horas, de forma a levarmos a informação até eles. Por isso, é com um carinho imenso, e profundo agradecimento, que recebo este troféu, porque o devo às pessoas, totalmente anónimas, mas que se deram ao trabalho de votar em mim.
É uma das jornalistas mais conhecidas da televisão, mas começou de forma modesta na profissão, na rádio Seixal FM. Como olha para o seu percurso?
Olho com um modesto orgulho, porque fui conquistando o meu espaço através de muito trabalho, mérito e empenho, sem nomes, amigos ou algum tipo de auxílio externo. Comecei numa rádio local, trabalhei num jornal pouco conhecido, fiz assistência de produção e cinema quando estava na faculdade, trabalhei no programa Alta Voltagem, na RTP, e fui estudando sempre. É com tranquilidade e uma pontinha de orgulho que olho para trás.
Quando terminou o seu curso superior estagiou na RTP, ainda passou pelo antigo CNL, regressando à estação pública em 2000, onde se mantém até hoje. Sente que a RTP é uma segunda casa para si?
Sinto que a RTP já foi mais uma segunda casa para mim, porque os filhos ensinam-nos a relativizar e a vermos o verdadeiro foco da nossa existência. Durante muito tempo, a RTP foi quase a minha primeira casa, onde passei muitas horas da minha vida. Os membros da redação iam jantar fora juntos e entravámos cedo, também todos juntos. Lembro-me de estar a jantar com a Rita Ramos e a Margarida Neves de Sousa, nenhuma de nós era ainda casada ou com filhos, e se ouvíssemos batedores da polícia ou vários carros de emergência médica, pegávamos no carro e íamos atrás. Chegávamos a este ponto de insanidade, no início. Depois, a maturidade traz-nos algum poder de descoberta do que realmente interessa, que são os nossos.
Mas foi na RTP que conheceu o pai dos seus filhos [José Carlos Ramalho], o que resultou na grande felicidade da maternidade….
O pai dos meus filhos é um homem extraordinário, um grande amigo e não poderia ter um pai melhor para os meus filhos do que o Zé.
O Herman José manifestou que gostava de tê-la a seu lado nas tardes da RTP. Gostava de juntar-se a ele no novo programa?
Eu tenho uma admiração profunda, pessoal e profissional, pelo Herman. Percebo esse desejo dele, porque seria uma continuação do quão nos divertimos juntos. Mas é algo que eu preferia não comentar agora.
Mas se vier a juntar-se a ele, isso significaria deixar o jornalismo?
Significaria. Eu acho que os papéis têm de ser bem definidos. Para sermos levados a sérios numa área temos de saber definir e circunscrever o nosso campo de registo. O meu registo é informação, jamais teria o mesmo registo no entretenimento.
O despertar para o jornalismo não vem desde criança, mas a sua filha, a Mariana, mostra predisposição para seguir as suas pisadas?
Ela seguirá as pisadas que quiser, desde que isso a faça feliz. Obviamente, se ela me disser que quer ser jornalista o meu conselho será: “Está bem, mas emigra” (risos). A Mariana é parecida comigo fisicamente, mas de personalidade é reservada e pouco expansiva. Eu era uma criança insuportável com a idade dela, era um pouco mais como o Miguel, uma “palhacinha”. Ela fala-me de uma profissão que a mim nunca me passou pela cabeça: ser professora. Mas isso talvez por ter uma paciência com a qual eu não fui abençoada e por ter a capacidade de ser uma “cuidadora” nata. A Mariana é uma segunda mãe para o irmão, porque ela é total e devotamente preocupada com os outros. A avó foi professora durante mais de 30 anos e acho que ela se revê muito na minha mãe, que é uma pessoa muito mais discreta do que eu.
Ser jornalista é, muitas vezes, não ter horários. Como concilia as responsabilidades profissionais com as pessoais?
Com muita “ginástica”. Eu e o pai deles apoiamo-nos um ao outro. Tenho também a minha mãe, que está reformada. Mas se o Zé, na semana dele, não pode ir buscar os miúdos, ou eu, ajudamo-nos mutuamente. Noutras alturas faríamos, provavelmente, sacrifícios que hoje não nos compensam. Estive um mês na África do Sul, a fazer o Mundial de Futebol, e acho que chorava todos os dias. Num mês, notei, quando voltei, que ela estava maior, o vocabulário já não era o mesmo… ela tinha quatro anos. Hoje em dia já não aceito embarcar neste tipo de aventuras jornalísticas porque os miúdos precisam muito de nós.
O que gosta de fazer com eles?
O Miguel adora ver barcos e retroescavadoras (risos). A Mariana é mais contemplativa, gosta de ler. Vamos ao cinema, vamos passear o Toni, que é o cão, brincamos em casa e adoramos fazer bolos.
Há alguns meses fez um desabafo no Facebook acerca do facto de não ter onde deixar a sua filha, que estava de férias, e ter sido obrigada a levá-la consigo em reportagem para o Palácio de Belém, situação que gerou controvérsia. Como olha agora para esse episódio?
Olho com algum humor, porque não foi bem um desabafo. Quem me conhece, sabe que exalo ironia e foi com alguma graça que fiz o comentário de uma presidência que não se compadece com as mães trabalhadoras. O que é curioso é que a própria assessoria do palácio não sabia o que tinha acontecido e pediu imensas desculpas. No palácio, há uma sala própria para jornalistas e não era uma situação inédita. Já outros colegas tinham levado um ou outro filho e era um trabalho simples porque era só filmar a Paula Teixeira da Cruz a entregar a proposta de indultos. A minha filha é uma criança serena, não iria levar nenhum cartaz perturbador. O problema não foi a segurança do palácio, mas o aproveitamento de um espaço que merecia mais respeito pelos leitores, que foi o da coluna do provedor do DN. Mas está sanado.
Acha que ainda falta fazer muito pelos direitos das mães trabalhadoras? O que gostava que fosse feito? A Rita é mãe separada…
Em Portugal é preciso fazer muito. Só há pouco tempo é que deixámos o conceito da mulher dona de casa. Felizmente, hoje em dia, há quem possa tomar essa decisão de ficar em casa a cuidar dos filhos, mas durante anos não havia outra alternativa. Apesar das mulheres gostarem de trabalhar para se sentirem realizadas, estarem em maior número no ensino superior e terem maior produtividade académica, continuam a ser as profissionais mais mal pagas em quase todas as áreas e o jornalismo é uma delas. Gostava que as jornalistas tivessem o rendimento financeiro que merecem e mais compreensão de algumas chefias.
Ser mãe realiza-a, mas se não trabalhasse não se sentiria totalmente preenchida?
Jamais. Recordo-me que, no primeiro filho, em que temos o deslumbramento da maternidade, disse que queria ficar cinco meses em casa, mas ao terceiro mês já andava a “cortar os pulsos”. Um filho é extraordinário, mas é das coisas mais difíceis que alguém pode ter na vida. Acho normal as mulheres sentirem necessidade de se realizar fora de casa, com as suas profissões. A minha maior obra são, e serão sempre, os meus filhos, mas também sei que serei uma melhor mãe se for mais realizada e feliz profissionalmente.
Estamos muito perto do Dia da Mãe. Que importância tem esta data para si?
Sou um bocadinho avessa a efemérides. É profundamente triste que tenhamos de ter um dia para nos lembrarmos que existem pessoas, causas, credos e condições que ainda precisam de muita atenção. Eu sou muito crítica, por exemplo, com o Dia da Mulher, e acho que a mulher só vai estar bem quando não houver esse dia. Acho que é curioso… serve para algumas mães receberem ramos de flores, caixas de bombons e telefonemas de filhos ausentes. Mas a mãe é todos os dias, como o pai, a mulher e o homem, como tudo o que tem um dia.
Texto: Helena Magna Costa com Micaela Neves; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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