Entrou na moda por acaso e por lá tem estado ao longo dos últimos 18 anos. Durante este tempo, Mário Franco foi o rosto de diversas campanhas mundiais, tendo ainda desfilado para grandes marcas. Aos 38 anos, o manequim conta à VIP a aposta que tem feito no seu lado empresarial. Apesar de todo este sucesso, é ao lado da companheira, Susana Venâncio, e das filhas, Matilde, de seis anos, e Alice, de dois, que se sente feliz.
VIP – É manequim há 18 anos. Que balanço faz da carreira?
Mário Franco – Não acreditava ser possível ter uma carreira tão longa. Não tenho a altura ideal para ser modelo nem tinha as medidas certas. Assumo que tive o fator sorte do meu lado e muita perseverança. Estes anos passaram a voar e guardo algumas recordações fantásticas e outras menos positivas. É uma vida com muitos sacrifícios pessoais, mas é uma vida boa e que nos leva a crescer muito.
Qual o ponto mais alto da carreira?
Existem alguns trabalhos e prémios que me enchem de orgulho. Ganhei quatro prémios da Fashion TV num só ano. Fiz várias campanhas mundiais e tive o privilégio de desfilar para grandes nomes, como a Gucci, em Hong Kong, e a Dsquared2, em Milão. São muitos bons momentos em diferentes mercados, que fazem de mim um manequim internacional.
E momentos menos bons?
Só quando se está longe da família e dos verdadeiros amigos. A solidão é o menos positivo.
Ficou algum passo por dar ou tomou alguma decisão que considere errada?
Houve alturas em que não escolhi caminhos que me podiam levar a outro patamar. Continuo feliz. Olhando para trás, mudava algumas coisas e impunha mais a minha vontade em diversas situações. Mas vacilei apenas duas ou três vezes.
Quais as diferenças na moda da época em que começou e na dos dias de hoje?
Existiu uma evolução natural. Os tempos mudam e as pessoas evoluem. Houve uma regressão no que diz respeito aos valores do mercado. Agora, todas as pessoas são manequins. Não existe a diferenciação que se verificava nos anos 90, quando comecei. Na altura existia um ideal de beleza, existiam os manequins e os outros. Esse ideal diluiu-se. Já não existem manequins. Existem pessoas giras que fazem tudo. E isto nota-se, tanto cá, como lá fora. Por exemplo, usam-se atores para os desfiles, em vez de manequins. E isso levou a uma discrepância de valores. Antes, os manequins eram muito bem pagos e agora são as figuras públicas. Há muitos manequins que estão dispostos a trabalhar por valores quase simbólicos. Posso dizer que se paga menos 70% em relação ao que se pagava.
Ainda existe a ideia de que os manequins servem apenas para mostrar roupa?
Acho que essa ideia continua. Muitas vezes estou em eventos ou festas e nota-se que as pessoas querem estar perto de pessoas bonitas. Quando abordam os manequins querem fazer parte do nosso mundo, falar de moda. E nós queremos falar de outras coisas. E isso surpreende as pessoas, que criam a ideia de que falamos só de moda. No meu caso, aquilo que faço é utilizar a minha imagem para abrir portas.
O Mário deita por terra a ideia de que os manequins são pouco inteligentes, pois tem apostado em diferentes áreas…
Sim (risos). Entrei na moda por acaso. Mas vi neste acaso uma porta de abertura para algo. As pessoas gostam de estar com pessoas com visual bonito e que saibam falar e estar. Aproveito isso para criar a minha rede de contactos. Já tive lojas. Tenho uma imobiliária. Agora estou a lançar uma marca de relógios. Quero lançar uma coleção de t-shirts básicas para homem. Por estar neste meio, fui abordado por uma empresa suíça para fazer o marketing de relógios. Tenho uma parceria com a Focus Image Consulting, uma empresa angolana com quem estou a trabalhar.
O que pode adiantar sobre o projeto dos relógios?
Sempre gostei de relógios. Fui abordado pela tal empresa suíça e a ideia é associar o meu nome, a marca Mário Franco, a produtos. Trata-se de um produto limitado, que não terá mais de cem unidades por modelo, a um preço atrativo. E estamos a falar de relógios swiss made, um sinónimo de qualidade.
Alguma vez sentiu deslumbramento?
Acredito que tive sempre os pés bem assentes no chão. Sempre tive o objetivo de não estar preocupado com contas quando chegasse aos 45 anos. Ter tudo pago. Ter uma família formada. E trabalhar para isso. Quer fosse na moda ou numa porta aberta por este mundo. Tive isto sempre bem presente, por mais louca que fosse a festa ou por mais extravagante que fosse a companhia. Tem duas filhas.
Nesta fase da sua vida, as viagens tornam-se mais complicadas?
É muito mais complicado, porque são as únicas pessoas que dependem de mim. Custa- me falhar momentos únicos das minhas filhas como o andar, o nascimento dos dentes, as palavras, o carinho de manhã ou o choro à noite. É algo que faz muito falta. E isto faz com que seja complicado ter grandes temporadas lá fora. Felizmente, existem as novas tecnologias que nos ajudam muito. Felizmente, a Susana apoia-me em tudo. É fantástica e consegue gerir tudo isto como ninguém. Ter este apoio em casa dá-me a força de que preciso para tentar algo lá fora.
Consegue ser o pai que sempre sonhou?
Eu tinha um ideal de pai. Muito presente e a filmar todos os momentos (risos). Mas, no dia-a- -dia, isso não acontece. Esse meu ideal é impossível porque para estar sempre presente é necessária uma grande estabilidade financeira, para que não existam outras preocupações. Precisar de dinheiro para que os filhos triunfem na vida invalida que se consiga estar sempre presente.
A Susana não é do seu meio. É importante esse apoio sem que existam ciúmes?
Claro! Sem dúvidas. Tive poucas namoradas. Deste meio, muito poucas. Quem está nesta área sabe o que se passa cá dentro. Quem não está, não sabe. O importante é que exista apoio. Ter isso em casa, e eu tenho, dá muita força. Quando vou para um trabalho, ela pessoa sabe que não passa de um trabalho. O carinho está todo em casa e é todo para essa pessoa. Não há nada melhor do que ter a companhia de quem compreende tudo e dá apoio.
Nos momentos em que consegue estar mais presente faz questão de devolver esse carinho e apoio?
Tento ajudar a Susana sempre que posso e sempre que ela me pede. Não percebo muito da área dela, que são os jardins de infância, mas se precisar de ajuda para algo, faço tudo o que puder e ajudo ao máximo.
Faltam-lhe apenas sete anos para chegar ao objetivo que estabeleceu para os seu 45.º aniversário…
Vou vivendo o momento e aquilo que me aparece. Mas tento sempre construir a pensar no futuro. Tenho algumas ideias como a linha de roupa e de sapatos. Quero evoluir ainda mais como empresário, sem deixar a moda porque gosto muito do que faço. Vejo-me cada vez mais como empresário na área da imagem e do imobiliário. São áreas que englobam muitas coisas e, aos poucos, vou fechando projetos. Existe um fio condutor que vou seguindo. Espero que a minha vida mantenha este rumo e que alguns percalços de outros tempos se apaguem.
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho, com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Manequim: Marcela Protan da agência Look the Glamour
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