Quando chega esta efeméride, a maioria dos britânicos arruma as décadas de trabalho num caixote e dá a carreira por terminada, pensando frequentemente em vir passar férias ao Sul da Europa, mas a situação do príncipe Carlos é quase um caso clínico. Na idade da reforma, o eterno herdeiro do trono britânico ainda não começou a tarefa que lhe está destinada praticamente desde que nasceu, ou pelo menos desde que a mãe, Isabel II, foi coroada rainha, tinha ele cinco anos.
O príncipe de Gales nasceu dia 14 de novembro de 1948, ainda a mãe era princesa. A sua educação foi pensada na perspetiva de que um dia seria rei. No entanto, foi dedicando a sua vida a múltiplas outras atividades enquanto não chega o dia em que inicia a sua missão. A saúde de ferro da rainha, de 87 anos, que poderá ter os genes da mãe, que morreu aos 101 anos, perspetiva uma espera que pode ainda ser longa e que já o tornou o mais velho herdeiro sempre. Antes dele, William IV tornou-se rei em 1830, aos 64 anos.
Certo é que Carlos teve um percurso que nem sempre agradou aos súbditos. O casamento falhado com Diana, a relação extraconjugal com Camilla e a morte da Princesa do Povo tornaram–no um dos membros menos populares de sempre da família real britânica. Quando, em 2005, casou com a mulher apontada como responsável por grande parte da tragédia, provocou um distanciamento com o seu povo, em parte colmatado pela simpatia que sempre tiveram os seus filhos, William e Harry.
No entanto, apesar de muito se especular que o príncipe espera por esse dia ansiosamente, uma extensa reportagem da revista Time, a quem foi permitido acesso ao núcleo mais próximo, com entrevistas a 50 pessoas, e até ao próprio, revela que não é uma prioridade absoluta. Intitulado O Príncipe Esquecido, o artigo apresenta-o como uma pessoa preocupada e atenta, longe da imagem de frieza que lhe foi atribuída ao longo dos tempos. “Dançar com ele é melhor que ter bom sexo”, diz mesmo a atriz e amiga Emma Thompson, transmitindo uma imagem mais humana.
“Ele prefere não se focar na sucessão, que significa a morte da mãe. Em vez de impaciente por aceder ao trono, está a sentir preocupação pelo impacto que isso terá no trabalho que desenvolveu até agora”, afirma uma fonte próxima. No artigo, a jornalista realça que o príncipe fundou mais de 50 obras de caridade e que a sua Associação ajudou mais 650 mil jovens. “Sinto há anos esta necessidade avassaladora de ajudar a melhorar as coisas, sinto cada vez mais que é a minha obrigação preocupar-me com as pessoas e com o meu país e tentar melhorar a situação”, garante o príncipe.
As causas ambientais são outra das cruzadas de Carlos que, na entrevista, revela que o nascimento do príncipe George, no passado dia 22 de julho, lhe relembrou a importância de preservar este mundo para as gerações futuras. ”É dele que se trata”, realça o príncipe, que admite ter caído no esquecimento com o nascimento do primeiro neto.
Os números falam por si: as sondagens revelam que a maioria dos britânicos preferia que a coroa passasse diretamente para William. Mas, quando fala da hipótese de abdicar do trono em favor do filho, Carlos é bastante contido e deixa implícito que gostava de manter a tradição. “Se deitarmos fora demasiadas coisas, acabamos por descobrir que afinal tinham o seu valor”, diz.
Os 65 anos trouxeram-lhe, contudo, uma nova responsabilidade: representa pela primeira vez a mãe na cimeira da Commonwealth. Carlos e Camilla, que define como “uma mulher maravilhosa”, estarão na Índia até 16 de novembro, numa viagem oficial apenas interrompida para festejar o aniversário.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Atlântico Press, Getty Images
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