José Luís Cochicho
“Parte do sucesso devo-o à família”

Famosos

Cavaleiro recebe a VIP na sua quinta em Vila Viçosa e fala sobre a sua carreira de cavaleiro tauromáquico

Sex, 08/11/2013 - 0:00

Foi na Quinta São Tiago e São Lázaro, em Vila Viçosa, que o toureiro José Luís Cochicho, de 50 anos, recebeu a VIP. Junto da mulher, Manuela, com quem está casado há 27 anos, e dos seus dois filhos, Luís Filipe e Maria Inês, de 26 e 18 anos, respetivamente, José Luís Cochicho falou da sua carreira de 26 anos como cavaleiro tauromáquico e de como é inevitável ter fé e acreditar Deus nesta profissão.

VIP – Conta com 26 anos de alternativa como cavaleiro tauromáquico. O que o continua a apaixonar nesta profissão?
José Luís Cochicho – O toureio é a arte mais completa de todas, porque numa corrida de toiros é possível conjugar todas as formas de expressão artística. A música que surge através de um pasodoble ou até de um fado para abrilhantar uma faena, a variedade de cores numa corrida que inspira várias pinturas, os movimentos da própria arte de tourear que inspiram passos de dança, a realização de uma determinada sorte como a colocação de uma bandarilha ou um muletazo, que podem inspirar uma escultura de enorme beleza…

Depois do falecimento do seu pai passou a fazer corridas de forma mais esporádica. Não tem saudades dos tempos em que toureava mais frequentemente?
Sim, este ano atuei uma vez no festival que inaugurou a temporada na Monumental do Campo Pequeno, em Lisboa, onde foi prestada homenagem ao forcado Nuno Carvalho. Tive a sorte de poder realizar uma faena que agradou aos aficionados e saí da praça com sensações muito positivas. Obviamente, as saudades são enormes. Mas na vida tudo tem uma idade própria e tenho consciência de que já não tenho as faculdades físicas necessárias para tourear 40 ou 50 corridas por ano.

Ainda pretende regressar a 100% ou já começa a pensar em retirar-se?
A hipótese de voltar a tourear de forma frequente está completamente afastada. Mas também não entra nos meus planos a hipótese de retirar-me da profissão. Um toureiro, como verdadeiro artista que é, nasce e morre como tal. E eu irei sentir-me toureiro durante toda a minha vida. Enquanto me sentir capaz de tourear, nem que seja apenas uma vez por ano, vou fazê-lo.

O seu filho, Luís Filipe Cochicho, é aspirante a toureiro, mas na vertente a pé. Gostava que ele seguisse as suas pisadas?
O que eu quero realmente é que os meus filhos façam na vida aquilo que mais gostam. Tanto o Luís Filipe como a Maria Inês vivem intensamente esta arte. O Luís surpreendeu bastante pelo facto de ser filho de um cavaleiro tauromáquico e gostar mais do toureio a pé. A verdade é que ele se dedica de corpo e alma a esta arte e vejo que não é capaz de estar um momento longe dos toiros. É um apaixonado pela criação do toiro bravo e, por isso, é quem está a gerir a nossa ganadaria.

Ele é formado em Direito. É possível conciliar as duas coisas?
Imagino que não deve ser fácil. Mas, com dedicação, tudo é possível.

Ser toureiro implica correr riscos, sobretudo na hora de enfrentar o touro. Em algum momento o José Luís temeu pela sua vida?
Quando nos dedicamos a esta profissão estamos conscientes de que o pior pode acontecer e aceitamos as consequências de forma natural. Sofri uma grave queda de um cavalo num treino à porta fechada, mas, graças a Deus, salvei-me.

Ser um homem de fé e ser-se ligado a Deus é inevitável nesta profissão?
Sim, sem dúvida. Sou um homem de muita fé e quando se tem uma profissão como a de cavaleiro tauromáquico há dois tipos de medos que surgem na nossa cabeça: o medo que um toureiro tem de poder ser colhido por um toiro e o medo de não querer defraudar o público.

E sente-se mais nervoso quando entra na arena ou quando é o seu filho que está a enfrentar um touro?
São duas situações diferentes. Quando sou eu que estou dentro da arena tenho o domínio da situação, enquanto que, quando é o meu filho que toureia, esse domínio está-lhe entregue a ele e eu não posso fazer nada. O nervosismo é superior pela sensação de impotência, de não poder intervir, enquanto o meu filho toureia.

A sua filha, Maria Inês, não lhe diz que também gostava de tourear?
Nunca falou em tal. A Maria Inês, ao contrário do Luís Filipe, adora o toureio a cavalo e é quem mais me acompanha a ver corridas. Começa a in-teressar-se pela ganadaria e acompanha o irmão em algumas tarefas. Adora montar a cavalo e é com ela que faço os meus passeios habituais para observar os toiros no campo. Neste momento, estuda gestão de empresas e tourear não está nos objetivos dela.

O apoio da família, em especial da sua mulher, Manuela, foi fundamental para atingir o sucesso que o José Luís alcançou?
Obviamente. Grande parte do sucesso que alcancei deve-se à minha família e, em particular, à minha mulher, que sempre me acompanhou ao longo destes anos, tanto nos momentos bons como nos momentos menos bons.

Qual é a sensação de ser visto como um dos melhores toureiros portugueses?
Orgulha-me bastante. Aquilo que mais me orgulha ter conquistado nesta profissão é, além do respeito e a admiração do público, o respeito e a admiração dos meus colegas.

Sei que gosta de futebol e que é sportinguista. Se não tivesse sido toureiro acha que poderia ter sido futebolista?
Eu e o meu filho somos do Sporting, a minha mulher e a minha filha são do Benfica. Gosto muito de desporto e aprecio em particular o ténis e o futebol. Estou sempre a par dos jogos do Rafael Nadal e dos jogos do meu Sporting. Se não tivesse sido toureiro, gostava de ter sido treinador de futebol. Sou grande admirador do Bobby Robson, do Alex Ferguson e, em particular, dos portugueses José Mourinho e do meu grande amigo José Peseiro.

Além de toureiro é também empresário na área dos mármores e da agricultura. Que importância têm estes negócios para si?
São negócios que foram desenvolvidos pelo meu pai e que eu mantenho com toda a dedicação. Além do mais, considero que a agricultura é um sector fundamental para a economia do nosso país e a indústria dos mármores tem um peso muito importante nas nossas exportações.

E como vê as polémicas em torno do toureio e as várias tentativas para abolir as touradas em Portugal, como já aconteceu em algumas regiões de Espanha?
O que aconteceu na Catalunha, Espanha, foi um processo marcado pelo nacionalismo separatista, que pretende eliminar tudo o que é a identidade de Espanha enquanto país. Aboliram as corridas de toiros, mas mantêm os correbous, que são as largadas de toiros nas ruas. No caso de Portugal, os protestos contra as corridas de toiros são feitos por grupos antitaurinos. O afastamento da população do campo para ocupar o meio urbano leva a que os jovens desconheçam a verdadeira natureza dos animais e a forma como são tratados, o que faz com que apareçam pessoas que se intitulam defensores dos animais, mas que não os defendem como deve ser. Enquanto toureiro, agricultor e proprietário de uma ganadaria de toiros de lide considero-me um verdadeiro defensor do meio ambiente e dos animais.

O que deveria ser feito no sentido de esclarecer as pessoas que acusam as touradas de serem uma violação dos direitos dos animais?
Acho que deveria explicar-se que o toiro de lide é um animal criado e selecionado há vários séculos com o objetivo de ser capaz de se sobrepor às exigências da lide. É um animal concebido pelo Homem para ser lidado numa praça de toiros, não tendo qualquer outro fim. Como tal, é uma raça que iria desaparecer se as corridas fossem extintas. Estando os anti-taurinos no direito de não gostar de corridas de toiros, o que é totalmente respeitável, não podem proibir de assistir quem gosta.

Qual é o peso da tradição da festa brava na identidade do País?
A tauromaquia tem um peso muito grande na identidade de Portugal. Na maioria das festas populares é sempre incluído no programa, pelo menos, uma corrida de toiros e há um grande número de hectares no nosso país que são utilizados para a criação do toiro de lide. Existem ganadarias com mais de um século de existência. É uma arte que é praticada há vários séculos.

Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Liliana Silva; Produção: Elisabete Guerreiro; Cabelo e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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