Chama-se Patrícia mas o mundo conhece-a como Ticha Penicheiro. E m pequena, sonhava ser como Magic Johnson, um dos maiores nomes de sempre do basquetebol. O sonho tornou-se realidade e, em 15 anos, Ticha somou títulos em diversos países. A os 38 anos, e depois de ter terminado a carreira, pretende passar mais tempo em Portugal.
VIP – Que balanço faz destes primeiros meses desde que terminou a sua carreira? Teve mais saudades dos treinos e das rotinas do que julgava?
Ticha Penicheiro – Por acaso, menos. Pensava que, quando começasse a WNBA, me iria sentir mais nostálgica, mas não. E stou bem. A cho que a decisão veio na altura certa. Estou em paz com a decisão e acho que isso ajudou um bocadinho. Claro que continuo ligada ao basquetebol. Continuo viciada, mas sem estar dentro do campo. A decisão de terminar a carreira demorou muito tempo a ser tomada? Há já cerca de dois, três anos que andava a pensar nisso. Foram 15 anos a jogar profissionalmente, mas já jogava desde os seis. Já tinha muitos quilómetros nas pernas. Andava a ponderar retirar-me porque, infelizmente, não dá para jogar para sempre. Sempre quis deixar o basquetebol a jogar bem, só que tive lesões, nomeadamente, nos tendões de Aquiles, pois tinha tendinites graves. Era doloroso. Quase não conseguia andar nem correr. Sabia que era a altura justa. Era como se o meu corpo estivesse a falar comigo e a dizer que já chegava. Foi a altura exata. Quinze anos na WNBA foi muito bom. Que memórias guarda desses 15 anos nos EUA e ainda dos outros países onde jogou e conquistou tantos troféus? Recordo-me logo das amizades que fiz. As memórias de ganhar. Mais do que as de perder (risos). Viajei pelo mundo à custa do basquetebol. Foi um desporto que me abriu as portas para conhecer imensas pessoas. A maior parte dos meus amigos conheci-os através do basquetebol. São amizades que ficam para a vida. Claro que guardo as memórias da partilha de vitórias com as colegas de equipa, com os treinadores e com os adeptos. São memórias que ficam para a vida toda. É fácil fazer amizades verdadeiras num ambiente tão competitivo? Sempre fui uma rapariga extrovertida e de amizades fáceis. Claro que há pessoas mais e menos chegadas. Temos de saber quem são os amigos verdadeiros e os que não são. Conheço muitas pessoas, mas não tenho muitos amigos porque, nos dias que correm, é preciso ter cuidado com algumas pessoas falsas. Mas nunca tive problemas com companheiras de equipa por egoísmo ou falsidade. Dizem que as mulheres são difíceis, mas nós dávamo-nos todas bem (risos). Terminou a carreira com números impressionantes e as pessoas costumam referir-se a si como a “rainha das assistências”. É uma boa forma de ser recordada? Qualquer atleta tem o seu estilo. Acho que era a minha marca registada. Toda a gente que ia a um jogo estava à espera de me ver fazer passes sem olhar ou algo do género. As estatísticas não mentem e, ainda hoje, sou a “rainha das assistências” da WNBA. Sem dúvida que é aquilo que mais me marcou e uma das coisas pelas quais as pessoas me conhecem. O que vai fazer agora? Muitas pessoas pensavam que ia ser treinadora, mas não quis porque é uma profissão stressante e também queria ter uma maior flexibilidade na minha agenda. Foram muitos anos a comprometer- me com várias coisas e com pouco tempo para vir a Portugal. Eram sempre visitas de médico. Agora, sou agente desportiva, algo em que já pensava há cinco anos. Neste momento, tenho 15 jogadoras, quatro na WNBA e já coloquei as restantes aqui na Europa. É uma forma de continuar ligada ao basquetebol com uma agenda mais flexível. Sente que é um exemplo para as atletas que agencia e também para tantas crianças que sonham com uma carreira como a sua? Sim, acho que sim. Principalmente, para a juventude portuguesa. Quando era pequena, queria ser como o Magic Johnson e só o podia ver na televisão. Para a juventude portuguesa é bom saber que há uma rapariguinha da Figueira da Foz que teve o sonho de ir para os Estados Unidos e ser a melhor jogadora que pudesse ser e que o conseguiu alcançar. É um exemplo para que os mais novos saibam que, com trabalho, determinação e força de vontade os seus sonhos podem concretizar-se, seja ele qual for. Em tudo na vida é preciso trabalho para ter sucesso. Os meus objetivos foram sendo alterados consoante o patamar a que chegava. Sei que sonhava alto, mas realizei todos os sonhos. Ao longo destes 15 anos ficaram sonhos pessoais por realizar? É sempre difícil ter uma carreira, principalmente, sendo mulher. Às vezes, temos de colocar a nossa vida pessoal de parte para concretizar outras coisas. Deixei Portugal, a família e os amigos para trás, para ir sozinha para o desconhecido. Foi um grande risco, não foi fácil. Não estava sempre contente. Havia dias em que chorava e queria voltar para casa por causa das saudades, mas, nessa altura, pensava nas metas que pretendia alcançar. Agora, quero passar mais tempo em Portugal e com a minha família. Isso é o mais importante. Tem sonhos que pretenda realizar? O sonho pessoal de qualquer um é ser feliz e levar uma vida de uma maneira que caminhe para a felicidade. Isso é o mais importante. A minha felicidade passa pela família e pelos amigos. Neste momento, tenho mais tempo para mim. Para dormir até mais tarde e para não fazer nada. Quando estava mais ocupada, não me podia dedicar a este “não fazer nada” e é uma das coisas de que mais gosto de fazer neste momento (risos). As mulheres já são colocadas em pé de igualdade com os homens ou muitas pessoas ainda defendem que nunca vão ser iguais aos homens no desporto? Ainda há pessoas que têm esse estereótipo. Mas quem percebe de basquetebol sabe que as mulheres sabem jogar. Ainda estamos a anos-luz da NBA. Existem várias diferenças, mas a WNBA só tem 17 anos de existência e a NBA tem mais de 60. Há coisas que podem ser melhoradas e quem acha que as mulheres não sabem jogar deve ver um jogo e dar uma chance. Texto: Bruno Seruca; Fotos: Jorge Firmino
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