António Costa
A caminho da Lisboa dos seus sonhos

Famosos

António Costa diz que se sente motivado para mais quatro anos à frente da Câmara de Lisboa e conta com o apoio da mulher e dos dois filhos

Qui, 05/09/2013 - 23:00

Há seis anos que António Costa abraçou a tarefa de ser presidente da Câmara de Lisboa e, de lá para cá, reabilitou a capital, no sentido de esta ser uma cidade para se viver. Um desafio pesado, que o afastou da família. Deixou de morar com a mulher, Fernanda Tadeu, e algumas das decisões que toma são criticadas pelos filhos, Pedro, de 23 anos, e Catarina, de 20.

Mesmo assim, o edil diz que vale a pena, que tudo se consegue e volta a candidatar-se ao cargo. A família reclama a falta de António lá em casa, mas apoia o político, que comanda a capital.

VIP – A menos de um mês das autárquicas, como é que se sente?
António Costa – Sinto-me bem. As eleições são sempre um momento importante, é o momento em que temos de prestar contas, em que somos avaliados. Se estivéssemos na escola, depois de feito o exame, este era o momento de conhecer as notas e de saber se tínhamos passado de ano.

Usando essa metáfora, a preparação para este exame foi difícil?
Foram quatro anos difíceis, porque foi sempre tudo em contraciclo. Era a crise do Mundo, era a crise da Europa, era a crise do País… As crises iam-se multiplicando e era sempre necessário manter a câmara a funcionar, conseguir equilibrar as contas mantendo o investimento e fazendo obras importantes, como as do Terreiro do Paço ou estas do Intendente. Não foi fácil, de facto, mas foram quatro anos muito interessantes.

Há quatro anos, não imaginava que o mandato pudesse ser tão complicado?
Não, mas, felizmente, fomos ultrapassando todos os obstáculos e fomos levando as coisas para a frente. Não fizemos tantas coisas como queríamos, não fizemos as coisas tão rapidamente como gostaríamos, mas não desistimos de fazer e acho que isso é que é importante. As dificuldades estimulam a imaginação e arranjam-se sempre novas formas de fazer o que é necessário ser feito.

Destes quatros anos de obra quais são as maiores diferenças que identifica em Lisboa?
Claramente a vida que existe hoje na rua. A multiplicação dos quiosques, das esplanadas, dos espaços públicos reabilitados, como aqui o Intendente, o Martim Moniz, o Terreiro do Paço ou a Ribeira das Naus. Foi uma mudança grande na cidade. Começámos a sentir o facto de na última década se ter invertido, pela primeira vez, a perda de famílias na capital. Hoje, temos mais pessoas a viver em Lisboa do que há dez anos. Essa mudança é fundamental para dar vida à cidade.

É uma Lisboa mais para os lisboetas ou mais para os turistas?
Acho que é para todos. É evidente que, nestes anos de crise, o poder de compra dos turistas tem compensado, de alguma forma, a restauração e o comércio da perda de poder de compra que todos nós temos sofrido. Mas a cidade não pode ser apenas uma espécie de parque de diversões. Temos de ter uma cidade que tenha autenticidade e isso implica que haja pessoas a viver no centro. Por isso, os investimentos de que já falei, a reabilitação das escolas, espaços verdes e zonas habitacionais, foram muito importantes. Os estrangeiros que nos visitam dizem isso: Lisboa é autêntica por causa dos moradores.

Com a perda de poder de compra, os lisboetas têm conseguido vir morar para o centro?
Esta crise teve um efeito que mudou completamente o paradigma do acesso à habitação. Deixou de se comprar casa e passou-se a arrendar; deixou de se fazer construção nova para se começar a reabilitar a antiga. Isso está a ser uma grande oportunidade para a reocupação dos espaços devolutos no centro da cidade. Atrair moradores ao centro da cidade foi o grande desafio destes quatro anos.

Se voltar a ser eleito, qual vai ser o seu sonho para Lisboa?
O sonho é prosseguir este trabalho para que, em 2021, os censos registem que já estamos perto dos 700 mil habitantes em Lisboa e que estes estejam a viver com conforto, com qualidade de vida, com boas escolas, bons acessos, bons espaços verdes e boas zonas de lazer e de comércio. Esse é o sonho. Há sondagens que lhe dão maioria absoluta.

Sente-se confiante? Tranquilo?
Tranquilo, não. É sempre melhor ter boas sondagens do que más, mas a grande sondagem, e aquela que verdadeiramente conta, é a do dia das eleições. Para uma eleição, nós temos de partir sempre do zero, sabendo que tudo se constrói na relação com o eleitor até ao dia das eleições.

Se as sondagens estiverem erradas e perder a eleição, está preparado para deixar a câmara?
Não há nada mais precário do que um cargo político e quem está na política tem de estar sempre preparado para deixar de exercer as funções. Mas sinto-me confiante e cheio de vontade de ser reeleito e de cumprir mais este mandato. Está embrenhado neste desafio há seis anos.

Sente que a sua vida mudou muito? Em quê?
Mudou muita coisa. Na altura vivia em Fontanelas, Sintra, com a minha família. Tive de regressar a Lisboa…

Houve uma altura, inclusive, que esteve separado da sua mulher, Fernanda Tadeu.
Houve uma altura que continua (risos). Ela continua na aldeia e eu em Lisboa.

Como é que se gere a vida familiar assim?
Gere-se com muita imaginação… Mas enfim… Temos conseguido viver assim estes seis anos e acho que vamos conseguir mais quatro.

Ela não lhe diz: “António, deixe a câmara e venha mas é ser presidente cá de casa”?
Sim, ela protesta bastante (risos). Mas as relações de amor também são isto: temos de nos respeitar e temos de ser capazes de aprender a viver com as escolhas do outro. Temos aprendido. Se me pergunta se é fácil viver assim, não é! Mas eu não gosto de me queixar e, como se diz popularmente, “quem corre por gosto não cansa”. E quando há vontade tudo se consegue. Exatamente.

Portanto, a sua mulher nem sequer vota na sua câmara, nem em si?
Não, não vota mesmo.

Mas suponho que seja um dos seus maiores apoios durante todo este desafio?
Sim, tem sido o meu maior pilar. Ela é fundamental na minha vida. Não era possível gerir as duas casas, os filhos, sem a presença dela.

Diz-se que por trás de um grande homem está uma grande mulher. Adequa-se?
(risos) Quanto ao homem, não sei; quanto à mulher, não tenho dúvidas.

Têm dois filhos. Algum deles quer seguir a vida política?
Não. O Pedro tem aparecido sempre ao meu lado, tem trabalhado sempre comigo nas campanhas. Mas houve uma altura em que esteve politicamente mais ativo do que agora.

Então quer dizer que eles não ambicionam, um dia, ser presidentes de uma câmara ou dirigentes do PS ou de outro partido qualquer?
(risos) Isso tem de lhes perguntar a eles. São muito reservados quanto ao futuro deles.

Qual é o mais parecido consigo?
Fisicamente, o Pedro é mais parecido comigo. De personalidade, ambos têm as suas características, que os define e os torna particulares e diferentes de mim e da mãe.

Mas serão a sua maior e melhor obra?
Sim, apesar de tudo o que tenho feito em Lisboa, dificilmente farei alguma coisa melhor…

Sendo o Pedro e a Catarina jovens, e é para os jovens que tem tentado reabilitar Lisboa, eles são seus fãs? Não sei se moram na capital ou em Sintra com a mãe…
O Pedro mora comigo em Lisboa e vai ao fim de semana visitar a mãe, quando não é ela que vem lá para casa. A Catarina divide-se mais porque anda na faculdade e a vida dela depende dos horários da escola. Se são meus fãs? Acho que isso depende. Por exemplo, no que toca ao horário de encerramento dos bares são contra (risos).

Consultou-os quando decidiu encerrar os bares do Bairro Alto às 2h00 da manhã?
Sim, falei com eles e mostraram-se convictamente contra. O que, aliás, é típico de quem não mora no Bairro Alto e apenas lá vai beber uns copos. Não foi uma decisão fácil de tomar, porque é uma questão onde nunca vamos conseguir agradar a todos. Os visitantes do Bairro não gostam que feche tão cedo, quem mora lá, queixa-se do barulho. Agora, os habitantes da Bica e do Cais do Sodré também já pediram o mesmo horário de funcionamento. Mas, se fizer isso, a vida na capital também fica afetada. É talvez a situação mais complicada que tive de gerir neste executivo. E que ainda não está resolvida.

 Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Nucha

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