Marina Mota
“É a troca de afetos que me move”

Famosos

Qui, 16/05/2013 - 23:00

Aos 50 anos, Marina Mota sente-se uma eterna miúda. E acha que sempre será assim. A atriz, que não esconde o desejo de regressar ao Brasil em trabalho, revela que não vive para a profissão e que aquilo que importa na vida são os afetos. Solteira, Marina Mota assume ter saudades de uma vida a dois.

VIP – Como estão a correr as gravações de Destinos Cruzados?
Marina Mota – Estão a correr bem. Tenho a sorte de pertencer a um núcleo onde existe uma enorme empatia. Acabamos por nos divertir e considero isso fundamental.

Faz parte de um núcleo importante da história da novela…
Não sei se é importante (risos). Acho que todos têm a sua importância para o desenvolvimento da história. Aquele de que faço parte é um núcleo divertido, apesar das personagens serem marcadas por um lado mais sério.

Mas o personagem tem relevo na história…
Não sei (risos). Acho que sim.

Já era altura de ter um papel de destaque?
Sinceramente, não vejo as coisas dessa maneira. Já dizia uma grande senhora que não há pequenos papéis, mas pequenos atores. Acho que todas as personagens têm algo de interessante.

É aquilo que merece ou merecia mais?
Não sei se merecia mais ou se merecia menos. O que sei é que me entrego de corpo e alma aos trabalhos. Estou a viver este trabalho da maneira que melhor sei e posso. Quanto à relevância, o autor saberá melhor do que eu (risos).

Como vê o crescimento da ficção nacional e a maior aposta dos diferentes canais?
É positivo porque o mercado alarga-se para os atores portugueses. Apesar de ainda existirem atores que não têm trabalho em detrimento de pessoas com uma menor experiência. Acho que as novelas, quando cuidadas, conseguem ser um produto bastante interessante. Mas espero que as grelhas sejam ainda mais diversificadas. Tenho saudades de um bom programa de humor.

Se tivesse oportunidade gostava de fazer um programa de humor como aqueles que fez em tempos?
Sou uma atriz que não gosta de rótulos. Gosto é de representar. Mas é evidente que o registo cómico é menos desgastante para mim. Por exemplo, a Emília Cabreira que faço agora em Destinos Cruzados vive situações de muito drama. Quando isso acontece, como sou uma atriz que trabalha com emoção e não com técnica, chego a casa desgastada porque chorar pode ser bom para desabafar, mas em trabalho é desgastante. Num programa de humor existe uma energia diferente. Gosto de ambos e quando me refiro a programas de humor não falo apenas de mim. As grelhas são muito mais apetecíveis se forem diversificadas. É disto que tenho saudades.

Enquanto produtora nunca apresentou programas que fossem um fracasso…
Nunca (risos).

Consegue perceber porque não recorrem a si para mais programas?
É uma pergunta que me fazem muito e que não sei responder. O que posso dizer é que tenho a honra, e perdoem-me a imodéstia, de nunca ter apresentado um flop televisivo. Mas isso não foi garantia de continuidade. Não sei o que fará falta para fazer coisas… Talvez fosse outra época ou talvez tenha perdido o jeito (risos). Apresentei alguns projetos, mas nunca tiveram continuidade.

Agora existem muitos reality shows. O Big Brother regressou, numa versão para famosos. Aceitava um convite para algo do género?
Não. Ligaram-me uma vez para um programa destes. Comecei a rir-me porque pensei que estavam a brincar comigo. Não me revejo na ideia de expor a minha vida a qualquer pessoa.

Já tem saudades do Brasil?
O Brasil é um país que me fascina. O ideal para mim era repartir a minha vida. Meio ano cá e a outra metade lá. Até porque o clima, a energia e as pessoas sempre me fascinaram. Agora, ainda mais porque tive o privilégio de ser acarinhada pelas pessoas na rua como se fizesse parte delas. Foi um carinho extremo para quem teve apenas um trabalho com alguma visibilidade.

Há previsão para regressar?
Tudo ficou em aberto. Mas não crio muitas expectativas. Somos muitos para os projetos. Se algum dia surgir a oportunidade, obviamente que aceitarei com toda a honra.

Esteve afastada da televisão durante algum tempo. Isso mudou a forma como gere a sua vida e o dinheiro que tem?
Sempre fui uma pessoa com os pés bem assentes no chão. Não sou pessoa de ostentar. Não ligo a marcas. Compro coisas porque gosto e dou importância ao preço porque acho que cada vez mais é uma afronta, quando tanta gente vive mal, dar 200 ou 300 euros por uns sapatos. Não me sinto bem e não serei mais feliz com esses sapatos. Se um dia me reformar, terei uma reforma inútil. Espero que Deus me permita continuar a exercer a minha profissão durante muitos anos. Não estou de papo para o ar a viver de rendimentos.

Falou da reforma de um ator. É preciso uma paixão muito grande pelo que se faz para não desistir da profissão?
Quem é ator não tem uma paixão pela luz nem pelos holofotes. É por aquilo que se faz. Mas com 41 anos de profissão e 31 de teatro já perdi uma parcela grande da minha ingenuidade. É que espero sempre por novos desafios porque gosto de representar. Mas não acordo a pensar nisso. Abraço os projetos quando me chegam. Não estou já a pensar no que vou fazer para o ano.

Isso quer dizer que se desliga da carreira com facilidade?
Uma das minhas frases preferidas é que a minha carreira não é a minha estrutura nem é o mais importante para mim. Consigo desligar-me e preciso disso.

Biologicamente só foi mãe uma vez, da Érica. Os filhos de coração surgiram por só ter sido mãe uma vez?
Não. Porque aconteceu. Hoje em dia já não são crianças. Surgiram na minha vida e ficaram. Não foi uma opção nem andei à procura de ninguém. Não considero que seja algo de especial. Mas considero um orgulho ter muitos “filhos”. Tenho muito cuidado quando falo deles porque têm pais, que respeito muito. As pessoas mantêm-se na minha vida por amor. É troca de afetos é o que me move.

Não pensa o que terá de especial para isso acontecer e para que seja criada uma ligação tão forte?
Não sei. E até já fiz essa pergunta. Dizem-me coisas tão especiais que acho não merecer. Não consigo rever-me no que dizem.

Não acha que está a ser demasiadamente modesta?
Acho que o mundo está virado ao contrário. Aquilo que considero normal nas pessoas deixou de o ser. Eu tento manter o respeito na minha vida. Estar disponível quando precisam de mim. Saber ouvir. Ligar para pessoas de quem gosto, nem que seja uma vez por mês. Isto deveria ser o normal.

Mas não é…
Também não é normal, hoje em dia, entrar num espaço e dizer bom dia. Mas isso é o correto. Aquilo que é normal passou a ser sinónimo de generosidade. Comigo não é assim.

O que sente quando alguém, que não é do seu sangue, lhe chama mãe?
Sinto um carinho enorme. É uma sensação boa que não consigo descrever. Uma pessoa que não cresceu em mim e que me chama mãe só me pode trazer sentimentos que não consigo descrever com palavras.

Sendo uma mulher de afetos, tudo isso é a parte que mais a realiza na vida?
São as pessoas a quem posso recorrer se tiver algum problema. A família que nós escolhemos fica marcada no nosso corpo e na alma. São o meu pilar.

Continua com saudades de tudo o que envolve uma relação a dois?
Continuo (risos).

Atualmente, é mais fácil ou mais complicado um homem apresentar-se a si?
Já me disseram que ficam inibidos quando se querem aproximar de mim. Tenho de perceber isto (risos). Já não tenho aquela ingenuidade de quando era mais nova. O defeito de me relacionar com alguém talvez seja meu. Tenho a idade que tenho. Devia encontrar alguém da minha faixa etária para me apaixonar, mas essas pessoas não têm a minha cabeça e o meu espírito. Seria mais fácil se encontrasse alguém com essa cumplicidade. E não tem acontecido.

Será uma eterna miúda?
Acho que esse é o meu problema. Não me lembro da minha idade. A idade não me assusta. O que me assusta é a minha incoerência, pois não consigo ter um comportamento normal para uma pessoa de 50 anos. Acho que serei uma eterna miúda.

Tem a vida que sempre sonhou?
Faço um balanço muito positivo. Ter uma carreira com a longevidade da minha e continuar sempre no ativo só pode ser positivo. Nunca estive um ano sem trabalhar. Não estava à espera de ficar dez anos sem produzir, mas já vi isso acontecer a muitas pessoas talentosas e não serei uma exceção. Acho que a vida é bonita por ser uma eterna surpresa.

Tem metas definidas?
Vivo muito o agora. O passado é o meu baú de recordações e de aprendizagem. Não gosto de criar muitas expectativas, mas não sou de adormecer. Por exemplo, antes de um projeto acabar começo a pensar no que vou fazer depois, mas falo de uma distância de três meses, por exemplo. Sei que estou na novela e que vou fazer parte do próximo espetáculo de Filipe La Féria.

Vai estar na novela e nos ensaios de A Grande Revista à Portuguesa. Teme não poder dar o melhor de si?
Não. Eu não funciono assim. Quando entro num local de trabalho esqueço o cansaço. Entrego-me de corpo e alma ao trabalho.

O cansaço não entra. E a tristeza e tudo o que é mau fica à porta do estúdio ou do palco?
Fica tudo numa mala ou numa gaveta. No meu trabalho não é permitido.

Há algum truque para isso?
Esconder as emoções implica algum treino. Mas quem nos conhece muito bem consegue reconhecer que não estamos bem. A minha irmã e a minha mãe notam isso.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Nucha e Zita Lopes; Maquilhagem e cabelo: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

Siga a Revista VIP no Instagram