Após o êxito retumbante alcançado com a exposição no Palácio de Versalhes, considerada
pelo conceituado jornal francês Le Figaro uma das cinco mais visitadas desde 1960, pois foi vista por 1,6 milhões de pessoas, Joana Vasconcelos está já envolvida num novo projeto. O Trafaria Praia, um barco cacilheiro com mais de meio século de travessia do Tejo, está a ser transformado na obra de arte que irá representar Portugal na 55.ª Bienal de Arte de Veneza 2013.
A artista plástica foi convidada a embarcar, literalmente, neste “pavilhão flutuante” pelo anterior secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, para representar o nosso país naquela cidade italiana, onde não tínhamos um pavilhão. Foi aí que surgiu a ideia original de transformar uma emblemática embarcação portuguesa num espaço de exposição e que fosse simultaneamente uma obra de arte. “A ideia do cacilheiro surgiu-me há algum tempo, gerada pela convivência diária com o Tejo. A importância que tem no quotidiano das pessoas que vivem e trabalham nesta cidade revestem-no de um grande valor simbólico, encerrando nele uma poderosa memória coletiva. Ao ter sido escolhida para representar Portugal na Bienal de Veneza, quis levar um particularismo, que é tão próximo da minha subjetividade, a dialogar com um vasto público internacional e, especialmente, com os particularismos de Veneza, que não só tem uma evidente proximidade com a água (e os seus vaporettos como principal meio de transporte coletivo), mas também um passado em comum com Portugal”, explicou a artista plástica à VIP, revelando o tempo que a obra lhe toma: “Todas as horas do meu dia são dedicadas a levar este projeto a bom porto.”
Por fora, o Trafaria Praia vai ser revestido a azulejos com uma vista de Lisboa do século XXI, inspirada no painel de 1700, Grande Panorama de Lisboa, de Gabriel del Barco, exposto no Museu Nacional do Azulejo. Estas peças estão já a ser fabricadas e pintadas à mão na Fábrica Viúva Lamego. No interior, os têxteis – um dos materiais de eleição nas obras de Joana Vasconcelos – serão igualmente em azul e branco, como os azulejos. O piso superior do cacilheiro será forrado a cortiça e terá um deck composto por um palco, que irá receber músicos portugueses, conferências e palestras sobre a arte contemporânea portuguesa e uma loja, a Vida Portuguesa, de Catarina Portas, que venderá produtos nacionais.
Este projeto representa um investimento do Estado no valor de 175 mil euros, mas a artista afirma que a verba é insuficiente, já estando por isso a tratar de angariar o restante. “Tal como nas representações nacionais anteriores, o Estado disponibilizou uma verba para este projeto, verba essa que apenas o financia parcialmente. Por essa razão, e para que o Trafaria Praia represente Portugal na Bienal de Veneza, recorri a apoios de privados, que têm respondido com enorme entusiasmo e muita vontade de apoiar este projeto.”
O cacilheiro está ser intervencionado no estaleiro da Navaltejo, no Seixal, e parte para Veneza a 10 de maio. Após a Bienal, estará exposto em Lisboa.
Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paula Alveno e DR
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