Quase a despedir-se de Carminho, na reta final de Dancin’ Days, foi entre peluches que Joana Seixas falou do que espera do futuro, da escola Casa Verdes Anos, que acarinha particularmente, por encarnar todos os seus valores, e da relação com Diogo Laço, com quem namora há quatro anos. Junto do filho, Francisco, de 11 anos, do companheiro e do filho deste, Xavier, de 13 anos, reconstituiu uma família que encaixa na perfeição.
A preparar uma peça de teatro, a atriz defende que haja mais colaboração entre autores, realizadores e atores para melhorar a ficção nacional.
Antes de mais, o que a levou a participar nesta campanha de solidariedade?
Foi feita uma campanha para levar um bocadinho de alegria, de cor e de divertimento à ala de pediatria de vários hospitais e fomos entregar os peluches às crianças. As crianças mais pequeninas nem se apercebem de quem somos, é apenas um momento diferente, as mais velhas ficam mais contentes, claro, querem tirar fotografias connosco. É sempre difícil, porque não sabemos até que ponto estão hospitalizadas por terem doenças muito graves.
É mais sensível a este tipo de situações desde que foi mãe?
Claro. Fico com a certeza de ser uma afortunada por o meu filho ter saúde. Imagino que tem de se aprender a dar a volta, a lidar com a situação e a transmitir energia positiva, porque está mais que provado que o fator psicológico tem um lugar fundamental na cura. Felizmente, o Francisco tem 11 anos e nunca passei por nada parecido.
É uma idade difícil?
Sim, tenho dois pré adolescentes lá em casa, o Francisco e o Xavier, que é o filho do Diogo. Estão os dois a entrar na fase de responderem a tudo, de quererem estar no mundo deles, mas damo nos todos muito bem.
Que tipo de mãe é?
Sou bastante descontraída, se calhar às vezes até demais. Sempre permiti ao Francisco que ele tivesse o seu espaço para crescer, para experimentar, para cair… apesar de ter estado na Casa Verdes Anos, o projeto que criei em conjunto com outros pais, que tem características especiais, com um mundo quase mágico. Acho que o facto de ter passado por essa experiência lhe deu uma nova capacidade de pensar sobre as coisas, de ver que existem muitas maneiras de estar na vida, e acho que isso é muito importante para o crescimento. Para quando tiverem a sua identidade poderem optar por eles e não porque alguém lhes impingiu o que quer que seja. É a minha forma de estar como mãe, tento proporcionar lhe isso, tento também abri lo para o mundo das artes. Claro que quando vamos a uma exposição, se calhar por eles não íamos, mas acredito que fica sempre qualquer coisa. Estão numa idade em que a parte física é importante e também incentivo esse lado.
O Diogo, o seu namorado, também é do meio cinematográfico. Eles sentem se atraídos por esse mundo?
Gostam, mas ainda não se percebe se vão seguir essa área. Gostam muito de música e de fotografia.
Como nasceu o projeto Casa Verdes Anos?
Foi precisamente quando comecei à procura de escolas para o Francisco. Não encontrava nada que se enquadrasse naquilo que era a minha filosofia de educação, havia alguns exemplos no estrangeiro, mas em Portugal não existia nada, não encontrava o que queria. Em conjunto com outros pais associámo nos e criámos este projeto. Foi algo atribulado, porque foi feito por pais, portanto, existia um envolvimento emotivo muito grande, e existe um lado burocrático muito complicado, mas foi-se cimentando uma escola e agora, finalmente, chegou a legalização. Foi bastante demorado, porque queríamos manter a nossa filosofia e a nossa identidade, e por vezes é complicado encaixar na legislação e na forma de funcionamento das escolas tradicionais.
E o que é, mais precisamente, a sua filosofia de educação?
Aquilo que mais me atraiu neste projeto, e espero que nunca se perca (porque eu continuo na direção, apesar de o Francisco já não estar lá, já que ele, no fundo, foi uma espécie de cobaia), é que se trata de uma escola que permite que as crianças cheguem às coisas por elas. Proporciona às crianças estarem em contacto com a Natureza e isso reforça a autoconfiança. Noto isso no Francisco, está superbem na pele dele, não é ansioso. Acho que as crianças hoje em dia têm vidas demasiado agitadas e não têm tempo para olhar para dentro, e considero que isso é fundamental, para a criança ter tempo de se conhecer, de saber o que realmente gosta, e para ter o espaço para descobrir a sua criatividade única.
A alimentação também era uma questão importante para si…
Sim, é uma alimentação vegetariana e biológica, que os ajuda a ter um profundo respeito pelos animais. Nós não somos fundamentalistas, eu como carne, ele come carne no dia-a-dia, mas com regras e medidas. Comemos carne biológica, porque a carne é um dos maiores fatores de poluição mundial. Grande parte da nossa alimentação é biológica, são produtos da época. O que tem de mudar é a perspetiva, porque cada alimento tem uma filosofia por trás, os refrigerantes por exemplo. E passamos essa consciência ecológica, cívica e ética em relação à sociedade.
Houve um momento em que tomou consciência disto, ou é devido à educação que teve?
Eu sempre senti esta necessidade, de respeito pelo ambiente, de forma quase inata. Tive uma ótima educação em termos de valores, mas há 20 anos não havia essa preocupação que há hoje, se bem que a minha avó era ultra ecológica, porque ela, sim, fazia verdadeira reciclagem, não havia lixo, havia uma verdadeira ligação com a Natureza. Eu achava que isso era natural. Depois, comecei a olhar para a quantidade de lixo que produzimos, as centenas de embalagens, e fui eu que comecei a pedir para reciclar em casa dos meus pais. Às vezes, era até criticada, diziam me que era demasiado. Mas sinto me conectada a cem por cento com estes valores e estou constantemente com projetos para desenvolver essa área.
Mas vivendo com três homens, dois deles adolescentes, é fácil transmitir esses ideais?
Claro que têm resistências, mas essas coisas vão entrando. Tenho sorte de o Francisco não gostar muito de refrigerantes! Como digo, não sou fundamentalista, mas acho que esses alimentos deviam pagar um imposto bem mais alto que os alimentos saudáveis. Nós temos de trabalhar isso com eles, como pais.
Sente que reconstruiu uma família?
Dão se muito bem, é até fora do vulgar, apesar de não ter assim tanto termo de comparação. Conheceram se há quatro anos, portanto, eram mais pequeninos, e deram se logo muito bem, porque têm personalidades muito compatíveis. Apesar de serem muito diferentes, partilham as coisas de forma muito equilibrada.
Pensa em voltar a ser mãe?
Não temos, neste momento, projetos nessa área! Já pensámos nisso, as coisas foram evoluindo, mas neste momento não é tema. Se acontecer, é natural. Agora, não tenho dúvidas que encontrei a minha alma gémea. Eu achava que era um mito, mas quando encontramos, sabemos que é. Sabemos que é a pessoa que encaixa da forma certa na nossa vida, que nos dá vontade de nos entregarmos, de nos disponibilizarmos para crescermos juntos. Não dá para explicar porquê, é algo muito íntimo e pessoal.
E o casamento faz parte dos vossos planos?
Acho que é uma coisa do passado. Claro que é uma afirmação, perante as outras pessoas, de uma união. Mas acho que o casamento faz sentido se for um casamento interior e esse já o fiz. Aliás, já nos casámos várias vezes, em vários sítios do Mundo. Até fazemos uma brincadeira com os miúdos, dizemos vamos casar, de preferência dentro de água, num mar tropical, e eles desenham com água um coração na nossa testa. São os nossos sacerdotes. O casamento exterior pode acontecer um dia, mas por puro divertimento.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotografias: Paulo Lopes; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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