Brasil
Netos da verdadeira “Gabriela” indignados

 Uma reportagem do Globo Repórter, na Rede Globo, sobre o remake da novela Gabriela, que atualmente vemos na SIC, levantou uma polémica há algum tempo esquecida. Afinal, em quem se teria inspirado Jorge Amado quando escreveu o romance homónimo que originou posteriormente a novela que hoje é líder de audiências no terceiro canal? Ao que tudo indica, em 1958, data em que saiu o livro Gabriela Cravo e Canela, um jornalista, que seria muito amigo do escritor, publicou uma matéria na revista O Cruzeiro onde relacionava os protagonistas do livro – Gabriela e Nacib – com Lourdes e Emílio Maron, dois habitantes da região de Ilhéus, localidade brasileira onde Jorge Amado viveu. A questão, é que os descendentes deste casal nunca aceitaram a comparação e afirmam que esta apenas os tem prejudicado.

Agora, com o remake da trama e com a reportagem do Globo Repórter, a polémica voltou ao de cima e os parentes avisaram já que ponderam processar a Rede Globo pelo tratamento da informação. Afinal, a tal Gabriela seria, na versão da emissora, a ilheense Lourdes Maron, que morreu há 39 anos. Em entrevista a um jornal brasileiro, Hélio Júnior, neto da suposta Gabriela, afirma que a relação estabelecida entre os avós e os personagens do romance de Jorge Amado tem causado transtornos graves à família. “O problema é muito grande. Nós só queremos ter paz. Agora, param-nos na rua e apontam para nós. Ainda outro dia ouvi dizerem à minha mãe: ‘Você não pode dizer nada porque é a filha de uma puta’”, contou Hélio. Na vida real, Lourdes não era sertaneja como a personagem. Muito nova casou com Emílio, filho de imigrantes libaneses e não turcos, como na história. O casal formou uma família numerosa, comprou o restaurante Vesúvio, em 1945, e por lá fizeram a vida. Os parentes de Lourdes dizem que ela era uma mulher bonita, vistosa e com muita personalidade, mas sem mais nada em comum com a Gabriela.

Por isso, não é de estranhar que a família não goste da novela. Na reportagem da Globo, Júnior Maron, outro parente de Lourdes, explica o porquê. “É que Jorge Amado fez um folclore muito ousado em cima dela (Gabriela)”, afirma na peça. Mas se este parente falou, outros optaram por não o fazer. Hélio foi mais longe e confessou numa entrevista posterior a outro meio de comunicação que a família decidiu processar a emissora: “Quando nos procuraram para fazer a matéria, o nosso advogado falou com a produção e ficou acertado que não falariam no nome da minha avó, nem fariam a associação ou mostrariam fotos deles. Mas isso não aconteceu. Desrespeitaram-nos totalmente”, considerou, adiantando que “a Rede Globo quer vender o produto, vender a novela”, disparou. Agora o objetivo é escrever um livro de memórias para limpar a imagem da verdadeira Gabriela.

Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Impala e DR

Siga a Revista VIP no Instagram