A vida de Hugo Sequeira mudou no dia em que saltou da janela do segundo andar do apartamento onde vivia. Cinco meses depois daquilo que define como um “episódio psicótico” provocado por “um desgaste emocional“, o ator, de 36 anos, está de regresso ao trabalho. Recuperado, diz estar “cheio de energia” para fazer do seu espetáculo, um monólogo, um verdadeiro sucesso. Mas também para fazer do filho, Xavier, de três anos, uma “criança feliz”.
VIP – O que é que aconteceu no dia em que saltou pela janela?
Hugo Sequeira – Não tenho uma consciência muito grande do que aconteceu. Até porque sofri um surto psicótico e isso passa por um estado de inconsciência. Lembro-me de estar em casa e de estar num estado nervoso e algo fez com que saltasse pela janela. Carregava comigo um desgaste emocional já bastante prolongado. Agora sei que tinha tido os sinais de que deveria ter procurado algum tipo de ajuda. Infelizmente, nós não temos consciência disso e temos a sensação que conseguimos controlar as coisas por nós próprios. Tive pela primeira vez uma surpresa na vida e não foi muito agradável. Mas é uma coisa que pode acontecer a qualquer pessoa. Não há nenhuma explicação em mim. Foram feitas todas as análises possíveis. Não há a presença de nada tóxico. Foi feito um teste logo no próprio dia.
Está a negar o consumo de substâncias?
Isso está provado à partida. Apresentei todos os níveis a zero. Não há qualquer presença de álcool nem de qualquer substância no dia em que se passou aquilo e no tempo que antecedeu o acontecimento.
Também não tentou pôr termo à vida?
Não. Não passa de todo por uma tentativa de suicídio. Aliás, pelo contrário. É uma fuga a qualquer coisa. O objetivo nunca seria fazer mal a mim próprio. Acho que se pode considerar uma espécie de crash no sistema. Há qualquer coisa que falha e que nos leva a ter uma atitude que não é racional.
A ausência do seu filho foi um motivo importante?
Não tenho qualquer interesse em tocar no assunto do meu filho porque há um processo em tribunal. Não é correto da minha parte, nem é benéfico. Tive uma conjuntura de fatores que me levaram a um desequilibro emocional. Não tem necessariamente a ver só com o meu filho. O Xavier é a coisa mais importante da minha vida, portanto será talvez um fator de peso, mas não é um assunto que pretenda abordar.
Já esteve com o Xavier depois disso?
Não vou falar sobre o meu filho.
Há quanto tempo é que não via o seu filho antes de saltar pela janela?
Não o via desde três ou quatro dias antes e iria estar com ele dois ou três dias depois. Estava em vigor uma guarda partilhada provisória.
Noticiou-se que assim que saltou pela janela teve de ser algemado pela polícia. É verdade?
Sinceramente, não lhe sei responder porque a partir do momento em que se dá o salto não tenho consciência.
Sabe onde é que caiu?
Caí debaixo da minha janela em cima de um automóvel. Perdi os sentidos.
Já só se recorda de estar no hospital?
Recordo-me de estar já no Francisco Xavier a ser avaliado. Portanto, já estava estável. Estava um pouco confuso.
Não tinha noção do que tinha acontecido?
Fui logo informado e havia em mim qualquer coisa que me indiciava o acontecimento. Mas não havia um estado de consciência plena. Falo mais do que me foi explicado depois do que propriamente do que me recordo.
Como é que foram os seus dias de internamento no Hospital Francisco Xavier e no Hospital de Cascais?
No Francisco Xavier foi um período muito curto e não há muito a referir em relação a isso. Foi só o estabilizar de um paciente. Em Cascais, o que se passou foi um período de internamento em que atravesso um processo de recuperação, de muita calma, com alguma medicação. Gostaria também de referir que este processo ganhou contornos um bocadinho exagerados porque foi escrita muita coisa que só tive acesso quando saí do internamento. Houve imensos disparates que saíram na comunicação social, acontecimentos como eu ter fugido, isso não aconteceu.
Na altura houve até relatos de pessoas que tinham testemunhado a sua fuga?
Acho que esses relatos são de fontes completamente falsas. Para já os relatos das pessoas possíveis de relatarem não são possíveis de chegar cá fora. Penso que houve alguns indícios de alguma instabilidade minha, não sei se posso ter atravessado algum período mais nervoso, mas não há razões para saírem as notícias que saíram. A partir daí posso falar do meu estado de consciência e foi um internamento normal, dado o que tinha acontecido. Foi um período de recuperação, não foi mais nada do que isso. Depois, também foi escrito que estaria gordo e que teria alterações físicas. Tudo isso é invenção. A coisa foi muito mais simples do que passou cá para fora.
Como é que era a sua relação com os médicos e enfermeiros?
A melhor. Fui assistido por uma equipa fantástica. Ainda hoje tenho uma relação presente com o Doutor Tropa, que foi o médico que tomou conta de mim. Fui muito apoiado e informado da evolução. Segundo o médico foi uma recuperação muito boa e rápida. Portanto, nunca encontrei razões para tanta notícia carnavalesca sobre o meu estado.
Este episódio serviu para perceber quem é que é de facto o seu verdadeiro amigo?
Uma coisa deu para perceber: as pessoas que contamos que estarão lá disponíveis não são as que vão. E que, às vezes, as pessoas que nós não estamos à espera são as que aparecem mais. Mas, seja como for, apesar de ter tido algumas desilusões, felizmente pude contar com o apoio de amigos próximos. Foi muito importante.
Teve mais surpresas ou mais desilusões?
Acho que apesar de tudo tive mais surpresas, felizmente.
Na altura dizia-se que tinha uma namorada, é verdade?
É completamente falso, não tinha nenhuma namorada e continuo a não ter.
Não contou com o apoio dos seus pais nesta altura?
Recebi algumas visitas da minha mãe. Tenho uma ligação próxima com ela, mas não fui muito acompanhado pelo resto da família. Mas isso não tem a ver com este acontecimento. É uma coisa cimentada de longos anos. Não tenho uma relação muito próxima com a minha família e o apoio foi proporcional.
Depois de recuperado, já alguma vez sentiu que estava a ter uma recaída?
Não. Felizmente não há nada na minha evolução que me possa dar o mínimo indício de voltar a acontecer uma coisa parecida. Pelo contrário. São mais as vitórias do que qualquer tipo de recuo.
Sei que tem um novo projeto em mãos?
Ainda não posso adiantar muita coisa, mas trata-se de, em princípio, um monólogo. Aposto muito neste trabalho. Foi um bocadinho escolhido a dedo: primeiro foi preciso arranjar condições em tempo quase recorde para meter este projeto de pé. Sempre achei que, dentro do meio, a melhor forma de aparecer seria num projeto onde mostrasse trabalho e um nível de exigência bastante forte e me apresentasse em pleno nas minhas condições. O espetáculo estreará no Porto e só depois é que virá para Lisboa. A produtora é do Porto. Mas não gosto de falar das coisas antes de elas estarem todas no papel .
Considerou que esta era a melhor forma para voltar ao trabalho como ator?
Já voltei ao trabalho. Já comecei a fazer sketches cómicos para o Cinco para a Meia Noite há mais de um mês. Até isso correu bem porque, para além de me dar independência financeira, foi uma forma de, passo a passo, reaproximar-me do meu trabalho e ir testando as minhas capacidades .
Sente que o episódio psicótico prejudicou a sua carreira futura como ator?
Tive muito receio que isso acontecesse. Quando me imaginava de fora pareceu-me que poderia criar alguma desconfiança em relação a potenciais empregadores. Nunca poderia dizer que uma coisa destas me beneficiaria profissionalmente. Agora já estou adaptado à ideia e acho que nós temos de encarar a vida como isso mesmo, com os seus altos e baixos. Neste caso aconteceu-me uma surpresa, não me sinto responsável por ela, de maneira nenhuma, por isso conto que as coisas ganhem normalidade rapidamente.
O trabalho é parte importante do seu equilíbrio?
É fundamental porque, para além da parte económica, tenho uma profissão em que me realizei e que espero continuar a realizar-me. Tenho a sorte de fazer uma coisa de que gosto. É uma parte muito importante da minha vida.
Como é que se sente neste momento?
Sinto-me cheio de energia, cheio de vontade de trabalhar, muito motivado com este novo projeto, a apostar muito nele, mas também tento resfriar um bocadinho essa energia porque me apetece fazer as coisas com pés e cabeça. Acho que é importante que as primeiras aparições profissionais sejam bem conseguidas. Aliás, uma coisa que para mim foi muito clara foi que nunca apareceria sem me sentir em condições. Esse estado foi atingido.
Houve uma altura em que pediu ajuda financeira através do Facebook?
Gostaria de esclarecer essa parte. O que aconteceu foi que tudo isto motivou uma onda de solidariedade. Tenho a caixa do Facebook completamente inundada por manifestações de apoio. E numa dessas manifestações criaram uma página de apoio à minha pessoa. Ora como ao princípio fiquei surpreendido e depois isso já existia, achei por bem salvar a situação. Para já dando os meus dados e arranjando uma forma de isso ser mais bem conseguido. Mas gostaria de salientar que isto foi uma coisa feita à minha revelia. Em princípio não seria uma coisa que eu teria feito por iniciativa própria.
E agora já está estabilizado economicamente?
Sim, esse foi um dos meus maiores objetivos.
Mas recebeu muito apoio depois do apelo?
Recebi algum apoio. Não estamos uma altura muito boa para donativos. Acho que também foi tudo muito rápido e terminou muito rápido.
Tem usado esses apoios para lutar pela guarda do seu filho?
Isso foi uma coisa muito curta. Na prática existiu durante muito pouco tempo. Aliás, eu próprio me encarreguei que isso acabasse rapidamente. Dava-me um ar que não tinha nada a ver com a realidade. Nunca teria optado por pedir dinheiro. Nem havia na verdade essa urgência como foi vinculado.
Como é que é a relação com Dina Félix da Costa, a mãe do seu filho?
É inexistente. A mínima, relativa aos assuntos do meu filho. O que há é uma disputa da guarda do meu filho em que cada um tenta atingir os seus objetivos.
Qual é o seu maior sonho neste momento?
Já há alguns anos que os meus sonhos não são como os de antigamente. Antigamente tinha sonhos demasiado elevados e que depois nunca se chegavam a cumprir completamente porque eram muito exagerados. Agora os meus sonhos são sempre a par e passo com as possibilidades que tenho. O meu maior objetivo é a convivência normal com o meu filho, fazer dele uma criança feliz. E dedicar–me a este projeto profissional e fazer disto um verdadeiro sucesso.
Texto: Ricardina Batista; Fotos: Liliana Silva; Produção: Romão Correia; Cabelo e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel
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