Três décadas de carreira permitiram descobrir diversas facetas de Fernando Pereira, um talento único que já percorreu o mundo com as suas imitações perfeitas de grandes cantores. Otimista e com vontade de aceitar novos desafios, assim é o artista nos palcos. Longe deles, é um homem com uma ligação intensa à família, onde se destacam os filhos, André e João.
VIP – Qual o significado do Natal para si e para a sua família?
Fernando Pereira – É a festa da celebração da família. Embora nas últimas décadas tenha sido atribuído ao Natal um consumismo exagerado.
Recorda-se de algum marcante?
Como foram sempre muito felizes e em comunhão com os familiares e amigos mais próximos, as memórias mais fortes que tenho são pelos piores motivos. Em 2009 quando o meu filho João teve um acidente complicado de motorizada, tendo ficado imobilizado na cama. E o pior foi o último Natal, o primeiro sem o meu pai. Além do laço familiar é uma pessoa que admirava e estimava muito. Faz-me imensa falta.
O amor da família atenua esse sofrimento?
É um misto de sentimentos e emoções. Por um lado essas pessoas fazem-nos falta e sentimos a sua ausência. Por outro, a vida continua. Como se costuma dizer, agora há que tratar dos vivos.
O primeiro Natal com o seu neto deu outro encanto à quadra?
Com certeza. Lá está! A celebração da vida no seu expoente mais elevado. O Tomás nasceu no dia 3 de dezembro de 2009 e foi o primeiro Natal com ele, no ano em que o tio estava doente.
No vosso Natal manda a tradição?
Sim. Fazemos a tradicional canja e o bacalhau. Os doces também são os tradicionais. É uma grande facada na dieta (risos). No dia 25 ainda temos o peru e o esparregado recheado de pinhões. Há uma preocupação de nesses dois dias manter a tradição e que sejam celebrado sempre em família. Por exemplo, nunca aceitei concertos no dia 24 ou 25 de dezembro.
Como vai ser o Natal este ano?
Por norma é sempre na casa onde vivem os meus filhos, na companhia da mãe e das pessoas mais próximas. Este ano não temos a companhia do meu pai e da avó materna deles porque faleceram. Os meus filhos perderam pessoas importantes num curto espaço de tempo.
Já viveu Natais como filho, neto, pai e avô. É possível distingui-los?
Tudo isto é muito bom e fixe (risos). Enquanto somos crianças é mais divertido e fantasista. Com o tempo vamos descobrindo que existe um outro lado. Começamos a viver a quadra de forma diferente. Além disso, deixamos de viver a fantasia e passamos a criar a fantasia.
O que sente quando se senta à mesa e olha para os seus filhos já homens?
Acho que ainda vão ser precisos muitos anos para ter a visão dos meus filhos totalmente feitos e criados. Para um pai, a missão nunca está concluída. Um tem 27 e o outro 24 anos, mas quando tiverem 40 vou olhar para eles da mesma forma.
Como define a relação com os seus filhos?
Somos grandes amigos. O pai existe como uma figura de respeito, mas a cumplicidade que sempre existiu entre nós faz com que sejamos grandes amigos e confidentes. Existem coisas que só falamos entre nós. Coisas que mais ninguém sabe. Não existem tabus entre nós.
É o pai que sempre quis ser?
Absolutamente. Tenho amigos que reconhecem isso. Dizem-me que apesar de correr o mundo consigo ser um pai muito mais presente do que outros que têm vidas diferentes da minha.
Ser pai é a sua melhor performance?
Acho que tanto eu como a mãe fizemos um trabalho extraordinário. O mérito da mãe nunca poderá ser subestimado. Tem sido extraordinária. E também os amigos. Não sei quantas pessoas podem dizer que têm amigos desde os três anos de idade. E os meus filhos têm.
Tem noção que já passaram 30 anos desde o início da carreira?
Tenho, mas não muito. Estou sempre envolvido com o presente e com o futuro. O passado é mais para contar os anos. Mas, quando olho para trás percebo que já estive em tantos sítios e que já conheci tantas pessoas. É tudo muito agradável.
Consegue eleger um momento alto?
As carreiras são feitas de pontos altos, médios e mais baixos. Acho que atingi uma velocidade cruzeiro. Tenho picos de popularidade que resultam de certos acontecimentos como um novo álbum, por exemplo. Tem sido sempre assim. Mas lembro-me de fazer 160 concertos por ano durante uma década ou mais.
Qual o maior desafio que lhe podem fazer?
Plantar uma árvore (risos). Algo que nunca fiz. Um bom desafio seria algo tão surpreendente que nem consigo imaginar.
Ainda há espaço para coisas dessas?
Há. Coloquei essa questão a mim próprio há dez anos e surgiram coisas novas. Estou a construir um espetáculo que reúne muito do que se passou nestes 30 anos, mas que têm desafios inovadores e diferentes do comum. Os grandes desafios são aqueles que eu próprio coloco.
O melhor está para vir ou já foi vivido?
Como diz Barack Obama, o melhor está para vir. Canto melhor do que sempre. Escrevo melhor do que sempre e faço espetáculos melhores do que fazia. Esta constatação está ao alcance de todos.
É isso que o move?
Sem dúvida. Há tanta coisa que quero fazer que pergunto se terei a longevidade necessária para fazer tudo o que quero.
Quais os desejos para o próximo ano?
Desejo que o ano de 2013 não seja o pior das nossas vidas. Que consigamos inverter este ciclo, ainda que isto custe a algumas pessoas perderem privilégios. Se formos capazes disto, distribuindo esses privilégios por quem nada tem já será uma grande vitória.
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Bruno Peres; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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