Sveva Casati Modignani. Este nome, que vendeu mais de dez milhões de exemplares de romances, nomeadamente Baunilha e Chocolate, A Viela da Duquesa, ou Desesperadamente Giulia, surgiu em 1981 quando o casal de jornalistas italianos Beatrice Cairati e Nullo Cantaroni lançaram Anna Dagli Occhi Verdi. Convidados pela editora para escrever um romance de sagas familiares com fundo histórico, Beatrice escrevia, Nullo corrigia. Até que Nullo ficou doente e acabaria por ser Beatrice a assumir o nome que ambos inventaram. Ao cabo de duas décadas a autoria a solo, Nullo morria e a viúva mantinha sozinha o pseudónimo. Em Portugal para o lançamento do seu mais recente romance, Um Dia Naquele Inverno explica porque é que, aos 74 anos, escrever é a sua força de viver.
VIP – Pode falar-nos um pouco deste novo romance, Um Dia Naquele Inverno?
Sveva Casati Modignani – É a história de uma rapariga francesa da província que chega a Itália, aos 18 anos, sem dinheiro, sem família e conhece por acaso um jovem muito rico, filho de uma família de industriais italianos. Não se apaixonam perdidamente, mas gostam um do outro. Ele está a sair de uma relação devastadora e considera que Leonie pode ser a mulher ideal. Ela fica feliz por se casar com ele, por ganhar estabilidade, e toda a família gosta dela. Terão um casamento feliz. Ela torna-se uma figura de proa do negócio familiar, mas no início do casamento reencontra um homem do passado, com quem terá uma história durante 28 anos. Encontrar-se-ão um dia por ano, durante 28 anos… e não vou dizer como acaba a história, mas diverti-me muito a escrevê-la.
Diz que não se apaixonam perdidamente, mas têm um casamento feliz. Isso é possível?
Claro que sim. É mais fácil ter um casamento feliz tendo uma história fantástica que não complica a vida conjugal… Claro que há razões por trás desta história e muitos segredos.
As suas mulheres são sempre personagens muito fortes?
Não, nem sempre. A Leonie não é uma mulher forte, tem as suas fraquezas… mas gosto dela.
Que tipo de mulher é você?
Um desastre! Não sou uma mulher interessante.
Escreveu o seu primeiro romance em 1981, com o seu marido…
Sim, tinha 40 anos. Era jornalista e depois disso continuei a criar histórias.
Quando escreveu o primeiro livro acreditava que iria vender dez milhões de exemplares?
Nunca! Quando escrevi o primeiro romance achava que seria o último! Mas tenho leitores de todo o género, homens também. A minha leitora mais jovem tem 12 anos, a mais velha tem 102. Recebo muitas mensagens…
Quando é que deixou de se considerar jornalista para passar a considerar-se escritora?
Não me considerava jornalista e não me considero escritora. Considero-me uma mulher que tem muitas fantasias e que gosta de as contar…
Era fácil conciliar a vida pessoal e profissional com o seu marido?
Era. Eu escrevia, ele criticava (risos)!
Como é o seu processo criativo?
Escrevo muito, gosto de trabalhar. Às vezes tenho um ritmo mais intensivo, outras vezes menos. Gosto de investigar. Por exemplo, para o meu próximo romance estou a preparar um guião sobre o mundo dos trabalhadores de coral da Torre del Greco, em Nápoles. É um universo muito interessante. Estive lá, em julho, para perceber como funciona este mundo, falo com as personagens. Nisso, o jornalismo é uma ótima escola.
O seu marido faleceu em 2004. Teve de reaprender a organizar a sua vida, o seu trabalho?
Sabe, ele esteve doente durante 20 anos (de Parkinson). Claro que não escrevia. Eu achava que quando ele partisse teria muito tempo para mim, mas, pelo contrário, escrevo ainda mais.
Gosta desta parte promocional, de viajar?
É interessante, mas é muito cansativo. Viajei muito quando era jovem, agora gosto mais de estar na tranquilidade da minha casa, com o meu cão.
Tem 74 anos. Não pensa na reforma, parar para descansar?
Quando escrevo considero-me de férias, estou a descansar. Esta parte de viajar é que é trabalho.
Continua a viver em Milão, a cidade onde nasceu. Ama o seu país?
Infelizmente, sim! Porque o meu pobre país está a atravessar um período que preferia não viver. É povoado por pessoas más que cometem atos terríveis, principalmente na política. A corrupção que existe em Itália ou Grécia não existe em Portugal, a corrupção é o maior problema de Itália. Mas pelo menos tenho matéria-prima!
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Paulo Lopes
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