Eduardo Beauté E Luís Borges
“Faremos tudo pela felicidade do Bernardo”

Famosos

Casal conta como o filhos lhes mudou a vida.

Qui, 18/10/2012 - 23:00

De regresso de Fortaleza, no Brasil, onde passaram uma semana com o filho, o cabeleireiro e o modelo abriram o coração à VIP. Emocionados, falaram sobre a luta que travaram no último ano para conseguir o poder paternal de Bernardo, de dois anos e meio, um menino portador de Trissomia 21, por quem mudaram o seu estilo de vida.

VIP – Nunca abdicam da presença do Bernardo…
Eduardo Beauté – Sem dúvida! Fazendo ele parte da nossa vida não fazia sentido ser de outra forma.

Mas podiam aproveitar para um escape a dois…
Luís Borges – Levamo-lo sempre. O que fazemos quando é possível é levar também a “bábá”. Assim podemos ter as duas coisas.

Como foi a viagem ao Brasil?
EB – Foi maravilhosa! O conceito do hotel é fantástico, dá-nos a ideia de estar em Veneza porque todos os bangalôs estão metidos num lago e com canais à volta. Tínhamos algum receio porque quando o Bernardo veio para nós tinha um pavor imenso da água, mas agora é louco por água. Isso é ótimo, porque é sinal que está a perder os medos que tinha. Está uma criança muito mais desenvolvida, melhora dia-a-dia.

Notam muita diferença desde que veio para vocês?
EB – Sem dúvida alguma! Costumo dizer que o Bernardo nasceu no dia em que veio para nós. Quando nos foi entregue pela tia, e posteriormente pela mãe, tinha muitos problemas de desenvolvimento. A mãe não tinha possibilidades porque estava sozinha e tinha de trabalhar para sustentar os três filhos, por isso o Bernardo ficava com uma tia que o que fazia era dar-lhe de comer e pô-lo a dormir, sem mais nenhum estímulo. Desde que está connosco é outra criança, graça a Deus. Está a fazer hidroterapia (natação) e hipoterapia (com cavalos), tem uma terapeuta duas vezes por semana e vai começar com a terapia da fala. Mas já começa a dizer as primeiras palavras.

O que é que já diz?
EB – Já diz “olá”, “papá”… mas manifesta-se muito com atitudes. É uma alegria ver que o Bernardo está feliz!

O que sentiu quando o Bernardo lhe chamou “papá”?
EB – Comecei a chorar. É muito bom. Se bem que eu e o Luís optamos por ele ser o “papá” e eu o “pai”.

Porquê, porque não existe a mamã?
LB – Não, a mamã também vai existir, mas para ele nos distinguir. Talvez porque o Eduardo é o mais a imagem do respeito. Eu sou mais brincalhão.
O Luís tem sido uma surpresa?
EB – Tem um instinto paternal maravilhoso.

Ao que sei faz parte dos vossos planos dar uma irmã ao Bernardo…
LB – Sim. Ele tem irmãs biológicas, mas gostávamos de lhe dar uma irmã de criação. Estamos a tratar disso, mas ainda não há nada oficial. Ainda é tudo muito prematuro.

Em dois anos a vossa vida mudou completamente.
LB – Para melhor! A sensação de constituir esta família é uma sensação de responsabilidade. Sentimo-nos mais fortes, mais resistentes e mais maduros. Faremos tudo pela felicidade do Bernardo.
EB – Criámos laços familiares tão fortes que somos intocáveis. Por isso, faremos tudo para que esta família se mantenha sólida e forte como tem sido até agora. Aos 43 anos tomar a decisão de casar só podia ser com este intuito.

O Bernardo vai ser sempre uma criança mais dependente do que um menino sem Trissomia 21. O Eduardo está com 45 anos. Assusta-o enquanto pai, a possibilidade de um dia faltar?
EB – Não. Nunca supus que um dia iria ter um filho com Trissomia 21, mas desde que perdi o meu filho o meu desejo de ser pai era tão grande que vivi vinte e tal anos à espera deste momento. Aconteceu e acho que Deus me pôs à prova; tanto quis uma criança que me entregou uma especial. Quando estou nas minhas meditações é nisto que penso, que fui posto à prova para ver se tinha capacidade de educar e criar uma criança especial. Mas nem me lembro disso, porque a nossa ligação é tão forte que ele para mim é só um menino. Claro que me apercebo de algumas limitações, mas não me assusto. Penso que irá precisar muito mais de mim do que outra criança e isso não me assusta nada. Se esta é a nossa missão como casal, vamos cumpri-la com todo o respeito e dignidade!

Sentem-se pais do Bernardo?
LB – Sem dúvida nenhuma!
EB – O ditado diz “parir é dor, criar é amor” e eu tenho a certeza que o que sinto pelo Bernardo é um amor paternal muito forte.

Como é a relação com os pais biológicos?
EB – Sempre tentei ter uma boa relação com eles. O primeiro contacto direto, e que mantenho, foi com o lado materno. Com o outro lado fiz uma tentativa, mas não correu muito bem.

Uma das questões que se levantou foi a possibilidade de ter havido a envolvência de dinheiro durante este processo…
LB – Jamais! Isso é um crime punido pela lei!
EB – Isso era impensável! Primeiro não abono financeiramente para fazer uma coisas dessas e mesmo que abonasse nunca o faria, porque o Bernardo não é um objeto, é um ser humano! Não conseguia olhar para aquela criança e saber que a tinha a troco de dinheiro. Seria uma crueldade enorme e ia sentir-me muito mal. No início deste processo, a mãe do Bernardo não tinha condições para viver, vivia de sítios emprestados e como pelo menos de 15 em 15 dias o Bernardo ficava com ela fizemos questão de lhe arranjar uma casa e pagámos os dois primeiros meses de renda. Quando o Bernardo sai com a mãe, faço questão que tenha o necessário para o bem-estar dele, mas mais nada.

Já são legalmente pais do Bernardo?
EB – O Tribunal entregou-nos a confiança total e absoluta, poderes paternais e decisões da vida dele para garantirmos um bom futuro ao Bernardo, mas se não provarmos capacidade para o criar poder ser-nos retirado. Mas isso é o que acontece com qualquer criança nas mesmas condições.

É uma adoção?
LB – Não. É poder paternal, porque nós não podemos adotar em Portugal.

O casamento homossexual também não era permitido… Acham que se vai passar o mesmo com a adoção?
EB – Acho que sim, nem faz sentido poder-se casar e não se poder ter uma família. Entreabriram uma porta, porque o preconceito continua. Tenho a certeza de que é um assunto que em breve será resolvido. Além do mais, é para o bem de muitas crianças do mundo. Sei que a principal preocupação é como será a orientação sexual de um menino que é criado por duas pessoas do mesmo sexo, mas tanto eu como o Luís fomos criados por casais heterossexuais. A orientação sexual está na essência de cada ser humano e não na educação.

Sente que foram o melhor que podia ter acontecido ao Bernardo?
LB – A mãe do Bernardo não tinha tempo nem espaço para lhe dar amor, porque a vida dela era a trabalhar para sustentar os filhos. Nós temos esse espaço e adaptámos a nossa vida para podermos desfrutar do Bernardo ao máximo. Quando as crianças se sentem amadas, muda tudo na vida delas e é isso que sinto desde que ele veio para nós. Era uma criança triste e hoje é uma criança feliz, uma criança que é amada. Portanto, respondendo à sua pergunta sim, acho que somos o melhor para ele.

Ele já é a coqueluche do salão?
EB – Sim, as clientes adoram trazer-lhe miminhos. Sinto que quando lhe trazem uma prenda é uma manifestação de agrado para mim e para o Luís. Mesmo na rua e nas redes sociais, as pessoas demonstram carinho e ternura pelo nosso ato. Nunca o fiz a pensar nisso.

Nunca ninguém foi desagradável?
EB – Houve alguns do género, “o que vai ser dessa criança criado por dois homens”, mas isso é uma gota num oceano. Nem tem relevância. Acho que são manifestações de pessoas que estão mal com a vida, que não são felizes e tentam perturbar a felicidade dos outros.

Mudaram muito as vossas vidas por causa do Bernardo?
LB – Mudámos para uma casa com bastante espaço, próxima do salão e muito soalheira. A luz do dia é muito importante. A nossa casa anterior era boa, mas era pouco soalheira. Lá, o Bernardo tem o mundo dele. Como é uma criança feliz está sempre bem-disposto e corre pela casa. Até adormecer é tudo dele, mas tem um horário rígido.

Vocês estavam habituados a um estilo de vida diferente. Foi fácil essa adaptação?
LB – Acordava muito mais tarde, agora tenho um despertador chamado Bernardo que me acorda todos os dias às 7h30, mas às 20h30 está de banhinho tomado e pronto para dormir. Toda a casa fica em silêncio, porque quero que o sono dele seja tranquilo.
EB – Antigamente organizava mais jantares em casa, mas deixei de o fazer porque pode perturbar os sonos dele e eu não quero. Mas o prazer de saber que está ali aquele ser humano fantástico, aquele anjinho e que tudo aquilo é por ele, dá-nos muito mais prazer. É tão bom ir vê-lo enquanto dorme, dar-lhe um beijinho, cheirá-lo… Ter de acordar mais cedo, todo o ritmo de vida agora ser diferente, fazemos com muito prazer, dá-nos conforto e paz.

E como corre o trabalho no salão?
EB – Estamos a atravessar uma crise, mas graças a Deus vou conseguindo sobreviver. Quando nos vimos em aflições temos de recorrer a outros meios e acho que está na altura de expandir para fora de Portugal. Mas este espaço é a “menina dos meus olhos” e continua a ser a casa-mãe. Para o ano faço 30 anos de carreira e chegar lá e ter este espaço, neste sítio de Lisboa, é tudo o que um profissional pode desejar.

É impossível dissociar o lado pessoal…
EB – Esta profissão deu-me a possibilidade de fazer os melhores amigos que tenho, fez-me conhecer a pessoa com que casei e também foi através dela que o Bernardo veio até mim. Portanto, deu-me tudo o que tenho hoje.
O Luís está quase a voltar para Nova Iorque…
LB – Dediquei este ano ao Bernardo porque havia muitas situações em que era preciso que estivéssemos os dois presentes, mas agora que as coisas estão mais resolvidas, vou voltar em força.

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Lino Rodrigues

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