Adriana Xavier
A entrevista completa à VIP

Famosos

A jovem que abraçou um polícia na manifestação de 15 de setembro revela o sonho de mudar o Mundo

Qui, 27/09/2012 - 23:00

 Adriana Xavier, de 18 anos, é uma das milhares de pessoas que participaram na manifestação do passado dia 15 em Lisboa. No momento em que abraçou um polícia, tudo mudou. A foto do gesto, da autoria de José Manuel Ribeiro, correu Portugal, passou além-fronteiras e a jovem transformou-se no símbolo da manifestação. A VIP foi conhecer a algarvia que tem como sonho mudar o mundo.

VIP – O que proporcionou o abraço ao polícia?
Adriana Xavier – Aquele momento sintetiza o que sou. Quis revelar a minha opinião sobre esta luta que pode ser pacífica. As coisas podem resolver-se com paz.

Mas qual o motivo do abraço?
Não foi a primeira vez que alguém abraçou um polícia (risos). É a imagem de uma revolução pacífica. Foi uma boa ação, um gesto de carinho e compaixão.

Não teve receio?
Tive receio de ser empurrada, mas parece que foi destinado. Além de não me fazer mal, até me protegeu. Ele viu nos meus olhos que não existia violência. Acabámos por comunicar intuitivamente.

Porquê aquele polícia?
Estavam dois polícias perto de mim e aquele tinha a viseira do capacete levantada. O outro estava com cara de mau (risos). Este estava mais sereno. Parecia que o seu pensamento estava longe daquele local e isso chamou-me a atenção.

Trocaram palavras?
No abraço não. Antes, perguntei porque estava ali. Ele respondeu que era o seu trabalho.

Se o polícia estivesse aqui, o que lhe diria?
Gostava de lhe perguntar porque não me bateu e teve uma atitude protetora comigo.

Ficou surpreendida com o barulho que se criou à volta da fotografia?
Claro. Ao mesmo tempo compreendo porque as pessoas não estão habituadas a ver algo bom. Tudo o que passa nas notícias é visto pelo lado mau. Isto é ver o lado positivo. Aliás, é ser positivo. Sei que é complicado ser positivo quando se tem fome e não se tem dinheiro, mas a guerra não é boa para ninguém.

Transformou-se no símbolo da maior manifestação de sempre?
Já pensei nisso. É uma responsabilidade grande. Não quero passar uma imagem da pessoa que não sou. Quero manter a serenidade.

Qual foi a reação da família e dos seus amigos?
Chamam-me Gandhi (risos). Dizem que sou utópica por querer mudar o mundo. Mas acho que já fiz algo que mudou várias pessoas. Sempre quis tocar no coração das pessoas e consegui fazê-lo. Sinto que dei alegria e esperança às pessoas. Sinto que “acordei” o coração das pessoas. Mostrei que não é preciso ter medo.

Como símbolo da manifestação, que mensagem gostava de transmitir a Pedro Passos Coelho?
Não é ele que decide tudo. Ele é a máscara de algo poderoso. Dizia–lhe que tenho pena dele porque não deve ser feliz. Pode ser uma pessoa mal-intencionada porque o dinheiro cria ganância no coração das pessoas e tudo à sua volta é sobre dinheiro. Gostava que saísse do mundinho dele e que estivesse com as pessoas que têm problemas. Que falasse com essas pessoas.

Quem é a Adriana Xavier?
Sou uma pessoa normal. Talvez tenha um coração mais aberto e uma mente mais desperta. Sou uma pessoa que tem a vontade de mudar algo sem receio do que possam pensar de mim.

Estuda?
Sim. Estou em Lagos a acabar o secundário da área de Artes.

E depois dos estudos?
Ainda não sei. Vivemos num país e num mundo em que nem sempre podemos fazer aquilo que nos faz felizes. Deixo a vida correr, aceitando cada passo que dou. Gostava de ser diferente das pessoas que se limitam a aceitar tudo. Um dos males do mundo é a aceitação. Temos o direito de ser felizes.

O que gostava que este momento trouxesse à sua vida?
Não tive a intenção de que algo acontecesse, mas gostava que me desse uma oportunidade profissional. Se não der, fico feliz na mesma.

Aceitou o desafio da VIP para fazer uma produção fotográfica. Gosta desta área?
Como correu?
Gosto muito de fotografia. Não sou vaidosa, mas gosto de me sentir bonita. Revelei a minha faceta feminina. Além de pacífica, também sou mulher (risos).

Gostava de receber um convite para esta área?
Sim. Não me importava.

Qual o seu maior sonho?
Não é meu, é de todos. Gostava que toda a gente fosse feliz. Que a Terra seja saudável e que exista um equilíbrio em tudo.

Tem uma forma de pensar pouco comum para a idade…
Acredito que todos somos assim. É algo que está escondido dentro das pessoas. Eu escolhi ser assim. Não preciso de muito para ser feliz.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Luís Baltazar e Reuters; Produção: Elisabete Guerreiro; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel

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