Mila Ferreira celebra 50 anos no próximo dia 23 de setembro, uma data que a cantora, advogada e agora também professora de fitness considera um marco. A artista sente-se uma mulher mais sábia e serena e lançou recentemente o seu sétimo álbum de originais.
VIP – Dia 23 de setembro comemora o seu 50.º aniversário.
Mila Ferreira – Pois é, faço 50 anos e é para mim uma data muito importante. Chegar a esta idade com saúde, vontade de fazer coisas e capacidade de sonhar é fantástico. Principalmente com a tranquilidade e sabedoria que os 50 anos conferem. Nos países islâmicos e na China encaram com muito respeito as mulheres desta idade, na nossa cultura, infelizmente, “emprateleiram” as mulheres. Aos 50 anos já não se está boa para nada, o que é complicado.
Sente-se mais sábia e serena?
Sim e acho que a partir de agora, embora haja uma deterioração do físico, o corpo espiritual é muito mais perfeito, bonito e harmonioso. É evidente que seria preferível ter as duas coisas, mas não podendo ter uma delas, prefiro ter a capacidade para enfrentar a vida com mais tranquilidade e sabedoria. Aos 30 anos podemos estar no auge físico, mas ter eventualmente uma confusão espiritual, obsessões terríveis, falta de direção e de compreensão do nosso papel.
E a Mila já se libertou disso tudo?
Sim. Mesmo antes dos 40 anos, que é aquela fase do vazio existencial, iniciei esse percurso de saber o que sou, porque estou aqui, qual a nossa missão na vida… Graças a Deus há muitos anos que venho trilhando um determinado caminho que me deu alguma sabedoria espiritual, me permitiu aprofundar enquanto ser humano e saber quem sou. Acho que os 50 anos conferem a sabedoria, o saber estar e o que queremos.
Mudava algumas das escolhas que fez?
É claro que sim. Somos seres imperfeitos. Enquanto seres imperfeitos que somos e na tentativa de um aperfeiçoamento é claro que erramos muito. E é no errar que está a aprendizagem.
O que acha que poderia ter feito diferente?
Podia ter seguido muito mais o meu instinto, que me disse sempre para não tomar certas decisões, como na aceitação de alguns projetos que vieram a ser pesados e difíceis para mim. O meu instinto falou sempre, eu é que se calhar ouvi mais os outros. Se não o tivesse feito, a minha vida teria sido diferente e mais leve.
Nunca teve filhos…
É verdade, nunca tive filhos. Por uma opção pessoal, que tem a ver com coisas íntimas… Depois, a certa altura, até pensámos nisso, mas era um bocadinho tarde. Quando arranjei a casa onde moro foi também a pensar em adotar crianças. Foi sempre o meu sonho. Infelizmente, a vida está tão complicada.
Sente-se ainda assim realizada?
Sim, sinto. Não há uma parte de mim que diga que tive um grande desgosto. Há aspectos que gostaria ainda de vir a aprofundar, nomeadamente na apresentação de programas. Acho que nesta fase da minha vida merecia. Não estou a fazer-me à posição, mas para sermos merecedores temos de mostrar que queremos fazer alguma coisa. Gostaria de fazer algo ligado à área do fitness. Tenho 50 anos e uma boa forma física, pelo que podia ajudar as pessoas a sentirem-se melhor com o seu corpo. Gostaria imenso de ter uma rubrica num programa de televisão ou mesmo um programa na televisão por cabo.
Como surgiu o fitness na sua vida?
O fitness surgiu porque a vida nem sempre está fácil e o meu marido disse-me: “Tu gostas tanto de fitness, é sempre lá que curas as depressões e tristezas, vens sempre com a alma lavada. Porque é que não tiras um curso e fazes disso também um modo de vida?” E eu fui inteirar-me dos cursos que havia. Encontrei o CEF, que gostei imenso, e a partir deste ano escolheram-me para ser embaixatriz.
É cantora, advogada e professora de fitness. Como concilia tudo?
Com muito trabalho. É difícil vir de um evento do disco e ser confrontada com problemas de Direito complicados, que exigem muito estudo e ponderação. Comecei também um curso de pilates em julho e nessa altura nem descansámos. É trabalhar, trabalhar, trabalhar… E não vejo neste momento que as pessoas possam sobreviver de outra maneira.
Lançou recentemente o sétimo álbum de originais, Sopro da Alma. O disco é intimista? Fala de si?
Fala de mim, mas com tendência para a universalização das emoções. O meu objetivo ao falar de mim é para com os outros. Não é um disco egoísta. É um disco onde partilho as coisas que sei que podem tocar o coração das pessoas e fazer–lhes bem. És Metade de Mim é a única canção na qual canto para mim e que acabou, curiosamente, por ser o single e integrar a novela Doce Tentação. A minha preocupação nos CDs é mais o que as pessoas precisam de ouvir.
Partilha a sua vida com o Rui Moura há 27 anos, mas nunca se casaram… Casar com o homem da sua vida seria um bom presente de aniversário?
“Em casa de ferreiro, espeto de pau.” Como muito cedo fui confrontada com a legislação do divórcio, enquanto advogada, e com o imiscuir do estado na vida jurídica das pessoas, é muito pesado. Fiz muitos divórcios litigiosos e as pessoas magoam-se muito e eu disse: “Nunca quero passar por isto.” Houve uma certa aversão à instituição casamento. No entanto, ao fim de três ou quatro anos, o meu marido ofereceu-me um anel e pediu-me para casar com ele na rua. Íamos a andar e ele disse: “Toma este anel. Queres casar comigo?” E eu disse “sim” e ficámos casados. Estamos espiritualmente casados há muitos anos.
E qual é o segredo desta união?
Não temos receitas. As pessoas têm de encontrar um companheiro com coisas em comum, que funcionem em equipa e não como adversários. O bem comum do casal sobrepõe–se ao ego das pessoas e há que fazer certas cedências.
Conheceu o seu marido quando procurava um pianista para a acompanhar num espetáculo de música francesa. Ele ainda toca para si?
Ainda toca para mim e agora temos o espetáculo de música francesa outra vez, que se chama Bonsoir Paris. Vou retomar durante o inverno. Ele será sempre a ser o meu pianista. Sempre.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelo: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel
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