Com apenas 27 anos, Carminho é uma das mais promissoras vozes do fado. Alma é o seu mais recente trabalho, definindo-o como “um conjunto de grandes paixões”. Numa carreira ainda curta, a fadista orgulha-se do caminho que tem percorrido e revela que as experiências de vida são as suas verdadeiras fontes de inspiração. É também lá fora, no país vizinho, que a jovem tem dado que falar, depois do seu dueto com o artista espanhol Pablo Alborán, uma experiência que confessa ter adorado e que lhe abriu portas para o mundo.
VIP – Que inspirações foi buscar para este novo disco?
Carminho – Este disco é a continuação da linha que me conduziu no primeiro. É fazer aquilo que gosto e cantar os fados que gosto. Conseguir interpretá-los e identificá-los comigo, com a minha vida e com minha história. Isto é um conjunto de grandes paixões e de coisas que gosto muito.
Quais as expectativas que tem para o novo trabalho?
Não procuro expectativas. O segundo disco, como já entra em comparação com o primeiro, pode criar desilusões. Procuro não me focar nisso. Recebo as reações como forma de aprendizagem e de motivação para seguir em frente. A grande felicidade que tenho ao trabalhar estes discos é fazê-los de uma forma verdadeira e acreditar naquilo que estou a cantar, independentemente da reação que as pessoas tenham. Antes mesmo de as pessoas poderem reagir eu já os amo como meus filhos.
Porquê o nome Alma?
Existe música para o corpo e para o relaxe. O fado é música para a alma e um diálogo entre almas. Não é só precisa a predisposição do cantor para abrir a sua alma, para dar aquilo que tem, mas também há a necessidade de o ouvinte a receber.
Como foi cantar com Pablo Alborán?
Foi maravilhoso. Fiquei surpreendida com o convite até porque nem o conhecia. Fui conhecendo-o e identifiquei-me muito com ele. Entre as várias coisas que temos em comum, tem o facto de ter uma inspiração de raiz. A inspiração do flamenco de Andaluzia, Málaga, que é de onde ele é. Mesmo na sua forma de cantar e na sua composição, existe muito daquilo que são as suas influências e isso ligou-o muito a mim. Somos duas pessoas que seguem a tradição. Além disso, é uma pessoa extraordinária, simples, humilde e generosa. Já o acompanhei numa série de concertos em Espanha, o que também é excelente para mim e para a minha carreira. Quando as coisas são mais genuínas acabam por furar. As pessoas sentem.
Foi assim a primeira portuguesa a ficar em primeiro no top espanhol…
A música é do Pablo, quem está em número um é ele. Fiquei muito orgulhosa por tê-lo acompanhado nesse pódio e é algo muito impactante para mim porque chego a Espanha e as pessoas conhecem-me.
Acabou por abrir-lhe algumas portas…
É verdade. É um facto que me abriu estas portas e que me ajudou a chegar aos fãs dele. Muitos deles nunca tinham ouvido falar em fado. De repente querem saber quem sou. As carreiras também se fazem de sorte. Porém, tem de se agarrar a sorte e os desafios com força e com trabalho. Estou disposta a agarrar esta pequena oportunidade.
Já ponderou convidar Pablo para um disco seu?
Sim e até já falámos sobre isso. A primeira vez que ele ouviu fado foi na voz da Dulce Pontes e isso faz com que ele tenha uma ligação muito grande ao fado.
Uma revista britânica elegeu o seu primeiro disco como um dos dez melhores. Como reagiu à notícia?
Todas essas coisas são um conjunto de felicidades que me têm acontecido na vida. Sou uma pessoa feliz por fazer o que gosto. Tenho de continuar a empenhar-me para nunca defraudar a expectativa dos outros.
Antes de gravar o primeiro disco Fados viajou durante um ano para participar em ações de ajuda humanitária. Essa viagem acabou por ser uma fonte de inspiração para o fado?
Sem dúvida. Fui para decidir a minha vida. Havia pessoas a proporem-me gravar e ainda não me sentia preparada. Tinha de crescer humanamente. Angustiava-me pensar que era inconsciente acerca da dureza do mundo. Contactar com essas pessoas fez com que me enchesse de respeito pela humanidade. O que fica é o respeito pelas pessoas e pela diferença. Enchi-me e preenchi-me de experiências para poder cantar. Quando cheguei é que senti que estava preparada para dar alguma coisa. Até lá era uma pessoa meio vazia. Tinha vontade, mas não tinha conteúdo.
Antes da viagem, tinha já a consciência de que ia gravar quando chegasse?
Já tinha propostas de algumas editoras e várias pessoas diziam-me “o comboio da vida só passa duas vezes! Vais perder a oportunidade”. Isso ainda me deu mais vontade de ir embora. Estava a sentir-me pressionada a fazer uma coisa que sabia que não era capaz de fazer. Não tinha o direito de entrar dentro desta indústria, sem ter uma mensagem. Até podia gravar um disco, mas depois não iria saber defendê-lo.
Vê-se a fazer mais alguma coisa?
Agora não. Estou preenchidíssima. Cantar é o que quero fazer. Está a dar-me um prazer tão grande e sou muito feliz naquilo que faço. Tenho sido tão gracejada pela vida e pela sorte que não posso desejar outra coisa senão aquilo que já tenho.
Texto: Cátia Matos; Fotos: Impala
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