Prestes a completar 43 anos, Teresa Caeiro, deputada do CDS/PP, ocupa o cargo de vice-presidente da Assembleia da República. Na adolescência sonhava ser arquiteta, mas foi em Direito que se formou depois de uma adolescência memorável na Bélgica. Já em Portugal, a política acabou por falar mais alto. Mãe de um menino de cinco anos, Pedro, casou pela segunda vez no último verão com Miguel Sousa Tavares. No dia-a-dia empenha-se em ter tempo de qualidade com o filho. Para isso cumpre religiosamente uma regra de ouro: “Jantar com ele e deitá-lo”.
VIP – Teve uma infância diferente, devido à profissão do seu pai (oficial da Marinha), viveu até aos cinco anos no Estoril, depois passou por Cabo Verde e passou dez anos na Bélgica. Que recordações guarda?
Teresa Caeiro – No geral guardo recordações extraordinárias, foi um privilégio ter a oportunidade de tão cedo conhecer outros sítios, outros povos, outras línguas. Mas há o reverso da medalha, quando somos pequenos custa mais sermos arrancados do meio ambiente que conhecemos. Mas penso que foi fundamental para a minha formação.
Onde gostou mais de estar?
Gostei muito de viver na Bélgica. É natural ficarmos com um apego emocional muito grande ao sítio onde nos tornamos seres adultos. Passei lá toda a minha adolescência e gostei verdadeiramente de viver na Bélgica. Foi aí que se concretizou esse contacto permanente com variadíssimas nacionalidades que me permitiu perceber que, muitas vezes, existem preconceitos injustificados a todos os níveis. Só conhecendo as pessoas e os povos é que vemos que há caricaturas que são exageros.
Foi na Bélgica que aprendeu a falar alemão e francês?
Sim. Estava na escola alemã. Caí lá de paraquedas, aprendi o alemão no colégio e o francês da vivência.
E aprendeu a tocar piano.
Na Bélgica as juntas de freguesia tinham muitas atividades. Embora gratuitas, eram levadas muito a sério. Primeiro tive de aprender solfejo durante quatro anos e só depois passei para o piano, mas revelou-se uma desgraça (risos).
Mas gosta de música?
Muito, mas na ótica do utilizador.
Conseguia fazer amigos facilmente?
Na Bélgica tinha vários grupos de amigos, diversificados. Isso deve-se ao facto de estar uma cidade onde mais de 1/4 da população era estrangeira. E foi muito importante. Às vezes, quando se fazem caricaturas sobre determinados povos e grupos, são feitas de ânimo leve, sem conhecimento de causa. Por isso, ainda hoje, tenho sempre o cuidado (posso errar e erro imensas vezes), mas tenho sempre o cuidado de aprofundar as questões antes de ter uma opinião, antes de tomar decisões precipitadas. É muito mais fácil ter ideias preconcebidas, ser monoteísta e defender absolutamente uma coisa do que tentar encontrar os prós e os contras. Normalmente, as situações relevantes da nossa vida são questões complexas e às vezes seria mais fácil ter uma atitude mais simplista. E faço esse exercício constante, que é ponderar os vários aspectos e pontos de vista.
Regressa a Portugal com quase 19 anos.
Sim e fui diretamente para a Faculdade de Direito.
Porquê Direito?
Se gostava de ter sido logo advogada? Não. Achava a área do Direito interessante, mas… vou ser sempre uma arquiteta frustrada. Sempre tive muito gosto, muita aptidão para desenho e também gostava de construções, o meu brinquedo preferido eram Legos… construí casas inteiras com Legos.
E porque é que o Direito surge como a opção?
Porque sonhei que através do Direito se podia fazer justiça, achava interessante a elaboração e aplicação das leis. Foi através do Direito que comecei a ter essa noção de se fazer justiça, por outro lado também tinha o sonho de que é através do Direito que se regula a vida da sociedade.
Chegou a um Portugal após o 25 de Abril. Como é que encontrou o País e como olhou para ele?
Sim, regressei quando todo o clima estava mais calmo. Passou-me um bocado ao lado toda a exuberância e entusiasmo político a que se assistiu nos finais dos anos 70, princípio dos anos 80. Eu lembro-me, porque vinha cá nas férias, as pessoas eram muito motivadas, os jovens nos liceus eram muito empenhados, tinham uma garra política muito forte e andavam com autocolantes dos partidos. Por outro lado também se sentiam muito mais as clivagens ideológicas.
A posição política conhecia-se pelo comportamento?
As pessoas afirmavam-se muito politicamente, ainda que fosse resultado de um turbilhão que decorria de uma democracia muito recente. E portanto, às vezes, havia posturas um pouco extremadas. Tenho pena que hoje em dia tenhamos caído no oposto, que as pessoas tomem a democracia como garantida e que haja um adiamento tão grande, por parte dos jovens, em relação ao que é a política, isto, independentemente das ideologias que se sigam. Custa ouvir comentários como “não quero saber da política para nada”, como se não fosse isso que pautasse o nosso dia-a-dia e toda a nossa vida, quer seja na educação, na saúde, segurança social, transportes… tudo. Tudo resulta de decisões políticas.
Em sua casa falava-se muito de política?
Sim. Os meus pais sempre fizeram questão de acompanhar o que se passava. Mas é sempre diferente a vivência à distância. A minha aproximação à política partidária só aconteceu muito mais tarde. Nunca me envolvi nas associações políticas nem nos movimentos de estudantes. Na altura estava a adaptar-me ao País e isso não me deixou espaço para um envolvimento político-partidário no tempo da universidade. Mas também se faz política fora dos partidos, como no voluntariado. Só depois de ter começado a trabalhar no Parlamento é que me deixei envolver pela área.
Depois da faculdade faz um estágio de seis meses num escritório de advogados. Trabalha também como tradutora freelancer do Tribunal de Justiça e do Tribunal de 1.ª Instância da Comunidade Europeia e de seguida começa a despertar para a política.
Tive o privilégio de ser assessora da Primeira Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Ficava deslumbrada com os debates políticos e ideológicos e depois achava interessante debater os assuntos legislativos, ver concretizado, posto em prática, muito daquilo que estive a estudar durante cinco anos.
Filia-se no CDS/PP e acaba por assumir, em 2002, o cargo de governadora civil de Lisboa, quando o seu partido se coligou com o PSD, liderado na altura por Durão Barroso. Passa ainda pela Segurança Social e depois, quando Santana Lopes é nomeado para o cargo de primeiro-ministro, torna-se secretária de Estado das Artes e Espetáculos. De seguida, manteve-se como deputada e agora é também vice-presidente da Assembleia da República. Tem um filho com cinco anos e voltou a casar. É fácil conciliar tudo?
É uma aprendizagem. Só podemos estar bem connosco se assumirmos que qualquer coisa vai ficar para trás e é um processo de aprendizagem que estou a fazer. Agora, é possível, e na maior parte dos casos o sucesso é encontrar um equilíbrio. Saber que não dá para tudo, o ideal é não haver desequilíbrio e não deixar que um desses elementos da nossa vida fique demasiado para trás. Tenho de ter, também, o bom senso de não dizer que é muito. O que importa não é o termos de ser a supermãe que levanta a criança, veste-a, vai levá-la à escola, meia hora depois faz um grande discurso, à tarde faz projetos, depois vai buscar o filho para a levar à natação, pelo meio dá atenção aos pais, aos amigos e à noite ainda vai participar em debates televisivos. É um processo de aprendizagem, é esse o meu desafio: não desequilibrar alguns destes elementos da minha vida.
O seu filho já percebe os cargos que tem, as obrigações profissionais? Como é que ele reage?
Eu levo-o muitas vezes comigo para os bastidores dos debates na televisão, nas campanhas e aproveito o máximo de tempo que tenho com ele. Ele acha graça, mas é importante para ele também. Para além de gostar abre-lhe a visão para o mundo. Mas há uma coisa que cumpro religiosamente: jantar com ele e deitá-lo. Para mim, isso garante ter tempo de qualidade com o meu filho. O meu principal objetivo e desafio é ser uma boa mãe e depois, quanto mais o tempo passa, mais eu vejo os meus objetivos como uma coisa transversal, mas também nunca pensei: “Quero ser isto”, ou “quero conseguir aquilo”. O que quero é, em todos os sectores, conseguir um equilíbrio. Que não falhe muito como mãe, como filha, irmã, mulher, amiga, membro do CDS. Ao fim e ao cabo, não quero falhar enquanto elemento da sociedade.
Texto: Inês Pereira, Fotos: Impala e DR
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