Kate Moss
Leia a entrevista a MARIO SORRENTI feita pelo jornalista GLENN O’BRIEN

Famosos

KATE MOSS é uma das estrelas do Calendário Pirelli, que este ano é assinado pelo fotógrafo italiano
Mario Sorrenti, fotógrafo italiano que este ano assina o conhecido calendário Pirelli, acredita que cada imagem fala por si. Por isso tentou que “cada foto ganhasse vida”.

Ter, 06/12/2011 - 0:00

 Glenn O’Brien: Já tinha visto o Calendário Pirelli antes de fazê-lo?

Mario Sorrenti: Nestes últimos anos comprei alguns livros sobre o calendário. Gostei deles e usei-os muito como referências, mas nunca tinha visto o calendário.

Cada Calendário é publicado numa edição "muito limitada”. Surpreendeu-me que tenha sido o primeiro fotógrafo italiano a realizar este calendário produzido por uma grande empresa italiana.

MS: Bem, a mim também. Agora todos me perguntam: “Por que não o fizeste em Itália? Porquê a Córsega?”

Mesmo assim, é “quase” Itália, não?

MS: Muito perto. Em qualquer caso é Mediterrâneo.

Parece que os franceses dizem que os corsos são meio italianos, É verdade?

MS: Meio italianos e meio franceses, isso é a sua identidade natural. Têm imensas vibrações no sangue.

Foi você que escolheu a Córsega?

MS: Sim, por dedução: tinha de encontrar os lugares que queria e que, considerando o período do ano, reunissem as condições climatéricas encontrar as árvores exatas, as rochas…

As árvores são realmente surpreendentes…

MS: São preciosas. E as rochas são incríveis. Podia tê-las aproveitado mais, são realmente algo em que não se acredita.

Já conhecia a Córsega?

MS: Nunca estive lá. Visitámos muitos lugares, fizemos muitas investigações, mas foi suficiente. Um lugar assombroso aonde vou regressar.

Há uma declaração divertida na sua página da Wikipédia. Diz: “Mario Sorrenti, conhecido sobretudo pelos seus nus.”

MS: Sim, sim!

Como é que se tornou famoso com os nus? Não se vêem muitas fotos de nus na moda.

MS: Para mim é natural, porque é algo que adoro fazer. Além disso, sempre pensei em tirar a roupa às pessoas, mas de uma maneira que me permitisse estar mais perto do indivíduo, da pessoa, isto é, para encontrar mais verdade e pureza. Penso que se deve ao facto de o meu pai ter sido pintor e de o ver a pintar mulheres nuas. Fui criado dessa maneira e pensei que era a forma para aproximar o mais possível a minha obra à arte.

E nunca se sentiu embaraçado?

MS: Nunca tive qualquer problema. Nem físico, nem mental. O nu nunca me afligiu, até porque, quando era modelo, costumava fazer muitas fotos de nus com outros fotógrafos. Assim, naquele período, associava isso com o que mais se aproximava à expressão artística. Naquela época não havia assumido a fotografia como arte feita por ideias, ou pensado no que se podia conseguir através da sua conceitualização. O que me aproximava mais da fotografia de arte era fazer um nu. Por isso, continuava a fazê-los

Foi fácil conseguir que os seus sujeitos se sentissem cómodos enquanto lhes tirava fotos nus? Creio que há diferenças entre as pessoas, mas..

MS: Recordo que na altura pensava que era fácil, porque eu mesmo tinha sido modelo e pensava saber como se sente um modelo diante de uma máquina fotográfica. E muitos dos meus sujeitos eram amigas ou amigos que tinha conhecido durante a minha carreira de modelo. De qualquer modo, tinha a sensação de que se tinham podido eliminar algumas barreiras porque existia um conhecimento profundo e nos entendíamos, em certo sentido. É sempre difícil descobrir-se completamente diante de outra pessoa. No entanto, sempre fui um fotógrafo que gosta de partilhar o seu trabalho com os outros e que adora explicar o que faz, sobretudo aos sujeitos das minhas fotos. Quero que entendam o meu trabalho e que o apreciem e que possam repetir a experiência no futuro, porque gostaram de trabalhar comigo.

Consegui exatamente o que queria?

MS: Claro. Sim…

Por conseguinte, foi você que escolheu as modelos?

MS: Claro. Mas, evidentemente com algumas limitações devido a compromissos anteriores das modelos ou a tudo o que não podes controlar. Mas sim, escolhi tudo. Trabalhei com a casting agent, que me disse: “A maioria destas modelos já posou para edições anteriores do calendário.” Ao que respondi: “Não importa. São as que eu gosto, que quero fotografar e que estarão no calendário. São mulheres que conheço há dez anos, algumas até mais, há quase 20 anos. Por conseguinte, têm de ser elas, porque me representam verdadeiramente, em certo sentido.” Além disso, também escolhi algumas raparigas novas, justamente para que houvesse mais novidade, mais frescura, suponho.

Creio que uma das melhores coisas que fez foi justamente juntar uma mescla fantástica de idades diferentes. Estão Milla e Kate e logo as modelos mais jovens. Una mistura preciosa.

MS: Queria que as pessoas compreendessem que todos nos conhecíamos bem. Pensei que quanto mais se percebesse esta sensação de familiaridade, mais nos aproximaríamos da verdade.

Quantas pessoas ficam no plateau quando fotografa um nu. Reduz ao mínimo as presenças?

MS: Fico eu e o meu ajudante. Os outros ficam fora. Faço um programa muito simples do dia e das fotos que quero tirar. Em geral, passava as duas ou três primeiras horas com a modelo, fotografava-a e tratava de a conhecer. Depois, chamava ao plateau todos os que trabalham nos bastidores. Não queria que as modelos se distraíssem. Muitas nem sequer queriam que as filmassem para o vídeo do backstage.

É uma sensação que verdadeiramente se percebe. Lembra-me muito as fotos dos anos quarenta, onde estavam apenas o fotógrafo, a modelo e a natureza. Quase como fazia Weston.

MS: É isso que queria conseguir. Como se dissesse: “Quero regressar à fotografia; quero regressar a Edward Weston e Bill Brandt [conhecidos fotógrafos ] ”, e concentrar-me, dessa forma, na fotografia. Foi maravilhoso. Com o tempo, tornei-me impermeável a esta situação de multidão até ao ponto de que, quando trabalho, pode haver 20 pessoas atrás de mim e nem sequer me dou conta. Creio que, por vezes, isso também pode suceder à modelo. Parece que está olhando para um grupo de pessoas ao seu redor e é como se ela não visse nada. Quando comecei a fazer fotos, mandava toda a gente para fora do plateau. Impressionava-me muito que estivessem a ver, mas agora não me dou conta se estão ou não. Por isso, voltar de repente atrás foi maravilhoso.

Penso que muitos não se dão conta realmente como trabalha uma grande modelo. Não é um objeto, alguém que pose como se fosse um fruto sobre uma mesa. Há muito trabalho, concentração e reação.

MS: São muitas as emoções entre o fotógrafo e a modelo. As melhores modelos são as que conseguem permanecer nessa situação emocional e que, dia após dia, te devolvem essas emoções. Por vezes, quando fotografas alguém, estás a comunicar, mas sem palavras. Começas a imitar, elas imitam-te, olham-te nos olhos e de repente começas a comunicar e nem sequer te dás conta de como está a acontecer. As melhores modelos são as que deixam que isto aconteça. E é daí que saem os melhores trabalhos.

Quando deu conta que ia usar o preto e branco e a cor? Porque o preto e branco dá uma sensação de dramatismo…

MS: Em geral, a minha atitude profissional é que costumo pensar sempre que tudo terá de ser parecido, tudo terá de ter um idioma constante e não descoordenado. Quando tirei estas fotos, ainda que presumivelmente haja coerência de linguagem, não queria os mesmos enquadramentos e os mesmos cortes. Não queria uma série de fotos a preto e branco iguais. Queria que cada foto ganhasse vida, que tivesse uma existência própria e independente.

Penso que o calendário tem um formato maravilhoso. Qual é a sua opinião?

MS: Uma das coisas interessantes deste calendário é justamente o seu formato e como foi concebido. O facto de Karl Lagerfeld ter desenvolvido o seu próprio formato de calendário no ano passado contribuiu para enriquecer “a experiência” do Calendário Pirelli. Quis seguir e aprofundar esta tendência.

O desenho é magnífico. Foi uma ideia sua a de que o calendário fosse interativo para que se pudesse decidir que imagem se associasse a cada mês?

MS: A princípio, queria que fossem apenas 12 imagens. E não me interessava saber quem iria representar um mês ou outro. Digamos que pensámos: “Como podemos realizar um objeto que seja só um calendário mas também um portfolio?” Então o diretor criativo encontrou a solução, a ideia da interatividade.

O preto mate contribui para dar uma sensação de clássico e destaca as imagens.

MS: Claro que sim. Muito clássico. Fala das fotos e as fotos falam por si sós.

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