Todos os dias, de segunda a sexta-feira, das 7h às 10h, o programa Café da Manhã, da
RFM, é a companhia de muitos milhares de ouvintes durante o pequeno-almoço e no caminho para o emprego. Carla Rocha, de 38 anos, e José Coimbra, de 39 anos, são os animadores deste espaço radiofónico líder de audiências, que comemora dez anos de emissões. A dupla bem-humorada não teve medo de estragar a magia da rádio e deixou-se fotografar em exclusivo para a VIP. E contam como é acordar milhares de portugueses todos os dias: "Sentir que há gente que tem vindo a crescer connosco é maravilhoso."
VIP – São as vozes da rádio que mais pessoas ouvem ao acordar. Sentem o peso dessa responsabilidade?
José Coimbra – Não, de todo. Saber que ajudamos muitas pessoas de manhã, saber que conseguimos mudar o dia de uma delas é, isso sim, bastante reconfortante. Estamos no ar há dez anos, somos líderes quase desde o início. Saber que as pessoas nos ouvem é um privilégio que anula todo o peso que isso acarreta.
Carla Rocha – Fazemos parte da rotina. Aparecemos algures entre o acordar às oito, o vestir os filhos, a toma do pequeno-almoço… É bom saber que criámos essa necessidade nas pessoas.
A vossa rotina é um bocadinho diferente da dos ouvintes…
JC – A nossa rotina começa logo na noite anterior, que tem de ser, obrigatoriamente, mais curta. O programa obrigou-me a ser mais selectivo nas minhas saídas…
CR – E nas amizades, mesmo (risos)…
JC – Claro (risos). Às 22h, 22h30 tenho de estar na cama, acordo às cinco e às 13h está acabado o dia…
Um horário que muitas das pessoas que passam horas no trânsito não desdenhariam.
JC – Pois… Não há trânsito, há sempre lugar para estacionar…
CR – O lado negativo é mesmo o social e o familiar. A minha filha, Inês, de dez anos, não se lembra da altura em que eu a levava à escola. No primeiro ciclo ainda perguntava porque é que era a única que não ia com a mãe. Compensava-a nas datas festivas, como o aniversário dela e o Carnaval, porque a tinha de pintar e para isso tinha de tirar folgas. Agora já vai percebendo. O Vasco, que só tem dois anos, por exemplo, acha estranho como é que a minha voz está ali e eu não estou.
“A magia ainda está lá, mas tem tendência a desaparecer”
Sentem que “fazem parte” da vida de muita gente?
CR – Sim e isso é gratificante. E ainda por cima, de ouvintes tão fiéis. Estamos a falar de pessoas que viveram várias fases da sua vida ao som de uma rádio. A nossa função agora é manter essas pessoas connosco todos os dias. Surpreendê-las e agradá-las. E isso não é fácil. É como cuidar de uma relação.
JC – O Café da Manhã faz parte da vida de pessoas que há dez anos atrás eram pré-adolescentes e hoje estão na faculdade. Ainda há uns dias, o Zé Manel (ex-Fingertips) esteve no programa a celebrar o seu 23.º aniversário e percebemos que já é a terceira vez que lhes damos os parabéns na rádio. Aliás, andamos a falar com ele desde que tem 12 anos, quando, enquanto ouvinte, ganhou um passatempo nosso. Sentir que há gente que tem vindo a crescer connosco é maravilhoso.
A rádio tem mudado muito ao longo destes dez anos. Como é que enfrentaram essas mudanças?
JC – Evoluímos com a rádio. Antes talvez fôssemos mais locutores, hoje temos um papel mais de animadores. Estamos muito mais próximos da pessoa que nos ouve. Estamos num ponto mais informal da locução e isso toca as pessoas. Vêem-nos como duas pessoas normais. Não somos “o sr. locutor”, somos seres normais como eles.
Essa proximidade não afecta aquele ambiente mágico que a rádio sempre teve?
JC – A magia ainda está lá, mas tem tendência a desaparecer. Qualquer ouvinte pode contactar com as pessoas da rádio de uma forma muito mais rápida e directa. Antes era preciso escrever uma carta, esperar que ela fosse entregue e que o “sr. locutor” não a colocasse no lixo. Agora basta ir à página do Facebook, fazer um comentário e há a certeza de que do outro lado o locutor vai estar a ver. E isso é bom. Tanto para eles, ouvintes, como para nós, que percebemos muito mais facilmente o que o público quer.
Estas novas ferramentas da rádio permitem que os ouvintes também vos possam ver. Dão autógrafos na rua?
JC – (Risos) De vez em quando reconhecem-me, mas felizmente não é nada por aí além… Mas as coisas às vezes não são assim tão óbvias. Ainda no outro dia fui surpreendido por uma ouvinte, no Estoril Open, que não me conhecia, mas ouvia todos os dias a nossa emissão.
“É de manhã que tudo se passa”
Não deve ser fácil abrir a via às sete da manhã sempre com a mesma boa disposição.
CR – A manhã tem um outro entusiasmo. Gera em nós uma adrenalina que dificilmente outro horário consegue. É de manhã que tudo se passa, é de manhã que as pessoas começam o dia e poder integrá-las na nossa boa disposição, é qualquer coisa de mágico. Por muitas condicionantes que isso crie à minha vida, a rádio é feita de manhã.
Continuam a ouvir rádio ao longo do dia, mesmo depois de saírem da RFM? Ou já só querem ver televisão?
JC – (Risos) Eu sou viciado em rádio. Gosto sempre de ouvir o que os meus colegas (e não só da minha rádio) fazem. Só não faço o que um ouvinte normal faz, pois não mudo de estação quando o locutor começa a falar. Se calhar mudo é quando começa a dar música (risos).
E quando vão de férias? Ligam o rádio logo pela manhã, ou nem sequer querem ouvir falar em acordar cedo e muito menos em rádio?
JC – Confesso que acordo sempre cedo, mesmo de férias. E das primeiras coisas que faço é ligar o rádio e ouvir aquilo que os outros, que trabalham à mesma hora que eu, fazem, que é algo impossível quando estou a trabalhar. É um vício que tenho desde pequeno. Adoro ouvir rádio.
Pode dizer-se que é uma paixão antiga?
CR – Comigo, o tal “bichinho da rádio” aconteceu por acaso, a um nível de rádio local, mas cedo se transformou em paixão. E levar essa paixão para a RFM é algo de inacreditável. Porque, muito sinceramente, a não ser que nos ofereçam um contrato para uma grande rádio de Nova Iorque, não vejo onde podemos estar melhor.
JC – Foi sempre um sonho que nunca pensei que fosse possível. Comecei aos 16 anos, numa rádio local de Santarém, um bocado por acaso, e as coisas foram acontecendo. Era um ouvinte assíduo, mas confesso que nunca pensei poder vir a fazer da rádio a minha vida. Nunca me passou tal coisa pela cabeça.
Quando aconteceu o tal “click”?
JC – Quando fui contratado para a rádio Energia e percebi que a coisa estava a ganhar forma e aquilo ia ser mesmo a minha vida. De repente, estava a trabalhar com as pessoas que idolatrava: o Nuno Santos, o Miguel Quintão, o Augusto Seabra, o José Mariño… O meu primeiro pensamento foi: "Como é que eu me vou safar desta? Onde é que eu me vim meter?"… Duvidava mesmo que fosse capaz.
Em alguma altura pensou desistir?
JC – Pensei. Estava em Alcântara-Mar à espera do 28, num dia de Verão, em 1991, e duvidei bastante das minhas capacidades, de poder estar a um nível tão alto. Felizmente o autocarro chegou e essa ideia desvaneceu-se rapidamente. Até hoje (risos).
Textos: Miguel Cardoso; Fotos: Bruno Peres ; Produção: Manuel Medeiro
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