O auto-intitulado “rei dos reality shows” regressou ao seu habitat natural. Sintra tem sido o seu refúgio depois de uma aventura de 23 dias “perdido na tribo” no Norte da Namíbia, bem no meio da sua África natal. A estadia com os Himba marcouJosé Castelo Branco, que, em entrevista à VIP, prometeu regressar para assumir o lugar oferecido pelo chefe da tribo: o de pastor da sua própria igreja.
VIP – Como é que correu a sua aventura na Namíbia?
José Castelo Branco – Foi a maior experiência humana que eu tive até hoje. Já fiz três reality shows, posso mesmo dizer que sou um animal do reality, mas este foi, sem qualquer dúvida, o mais duro de todos. Sabia que ia ser difícil, mas nunca pensei que pudesse ter sido tão duro.
O que é que lhe custou mais?
O facto de não haver comunicação. A produção estava lá toda, mas não havia qualquer ligação entre nós. 'Bom dia', 'boa noite', 'passaram bem a noite?', 'precisam de um médico?'… Nunca mais do que isso. E a tribo… Era quase dramático, porque não percebíamos uma palavra.
Qual era o seu maior receio à partida?
Nenhum. Mas a verdade é que fui o único que realmente “atiraram” para a selva. Não o digo por vaidade ou compaixão de mim próprio, mas por ser verdade.
Não estava preparado?
Não, de todo. Estava em Nova Iorque, a gravar a canção Pata Pata. Recebi um telefona da TVI a perguntar da disponibilidade para ser o cabeça-de-cartaz de um novo reality show que incluía ficar perdido na selva.
Ficou assustado?
Depois de me explicarem o que era e onde era, fiquei doido para ir. Escolhi logo a Namíbia. Fui o único que pude escolher o país para onde ia. Estava focado no Pata Pata, uma música que está muito relacionada com África, e aquilo, na minha cabeça, fez logo todo o sentido.
Levou bastante bagagem?
Fiz muitas mais malas do que devia. Levei um malão gigante, duas malas normais, um saco grande, uma chapeleira, um pegase e um beauty case.
Lá dentro ia o quê?
Quando me disseram para o que ia, entrei em pânico e resolvi falar com a Eva Lima, da Maison, que me ajudou muito e depois de uma volta ao closet, e de uma meia dúzia de peças que comprei, conseguimos encontrar umas roupinhas que se adaptassem ao local e, principalmente, ao calor que ia encontrar.
Pelas imagens que já houve oportunidade de ver, chegou em grande estilo…
Ia vestido em alta costura, em versão jungle, tribal Dolce & Gabbana, com uma capeline gigante da Patricia Underwood, uns stilettes acabados de estrear da Vanessa Noel e umas luvas maravilhosas do Ulisses, e lá chego eu à selva. Foi o choque!
O que pensou quando aterrou?
Lembro-me de dizer: “Mas onde é que eu vim parar?” A viagem de carro durou, sem exagero, algumas 18 horas do aeroporto até à “entrada” da tribo! Fizemos uma paragem ao fim de seis horas, num hotel estranhíssimo, e, depois, mais 12 horas em estradas de terra batida. Quando cheguei, com a mesma roupa, um camisola de gola alta fininha (porque não pude mudar para depois tudo fazer raccord), foi o susto total. Era só lama… as minhas malas a serem transportadas em burros, atadas com umas cordas…
Como é que resolveu esse problema?
A Vera montou-se logo num burro, com o Sérgio a puxar o animal, a Marta desatou a correr atrás do nativos, e eu com sete bagagens… Mandei-me para o colo do, diga-se assim, “subchefe” da tribo, e lá fui eu. A pé é que não ia.
E os nativos receberam-no bem?
Muito bem, mas foi um choque. Fui logo agarrado pelas mulheres, cheias de ocre, a tocarem nos meus leopardo Dolce & Gabbana, e dei por mim a pensar: “Meu Deus, para onde me mandaste!” As outras, que já iam naquela versão “pobrezinhas que moram longe”, da loja dos 300, estavam à vontade. Elas é que foram espertas.
Pensou em voltar para trás?
Não. Apesar de nem a Agatha Cristhie poder imaginar, na Morte no Nilo, algo tão bizarro, nunca tal me passou pela cabeça. Mas quer dizer… Carregado com o styling da Eva, as malas em cima da bosta… E ainda por cima, começa a chover. 'Isto não me pode estar a acontecer', pensei. Pior, eu tinha imaginado que chegava lá, todo maravilhoso, ia para umas tendas “à Kadhafi” e depois passava o dia com os locais. Nada disso. Era viver na selva. Mesmo. Mas adaptei-me depressa. No dia seguinte, já estava na maior, todo embrulhado em chiffons de tigresse e com o corpo todo cheio de ocre. Estava lindo.
Ia entusiasmado com a aventura? Afinal, nasceu em África…
Ia com muita vontade de regressar a África, 30 anos depois. Saí de Moçambique com nove ou dez anos de idade e só lá voltei aos 14, mas já estava numa versão muito avant- garde, e acabei por ser convidado a sair por ter dado um mergulho no mar, na passagem de ano de 1981, de fio dental.
Não chegou a ir a Moçambique…
Infelizmente, não pude lá voltar, mas só o facto de estar perto já era como se fosse o regresso à terra que me viu nascer. Quando aterrei na Namíbia, saí do avião e beijei o chão. Foi o regressar com passaporte VIP moçambicano, sem visto… África era minha. Foi com esse pensamento que lá cheguei. E foi isso que me fez suportar tudo. As raízes falam muito alto.
O que mais lhe custou nesses dias?
Não poder falar com a Betty. Foi a primeira vez que não o pude fazer. Estava lá há dois dias quando me permitiram, pela única vez, falar com ela e saber, finalmente, o resultado da biopsia que tinha feito depois da cirurgia, para saber se estava o tumor todo removido. A partir desse dia, e ao contrário do que me haviam prometido, nunca mais falei com ela. Foi dramático. Poderia estar abandonado na tribo, com sentido de quaresma, mas nunca iria abandonar a minha mulher.
Como é que se deu com a tribo?
Muito bem. Foram todos maravilhosos. Tornei-me no feiticeiro da tribo. E foi uma grande honra o dito “subchefe”, a pessoa que mais me apoiou, principalmente nos primeiros dias, em que me senti completamente perdido, sozinho, me pedir para lá construir uma igreja e ser o pastor da tribo. É o meu próximo projecto. José em versão missionário.
E a vivência diária com um povo com uma cultura tão diferente da sua?
Foi um susto. Não tinha noção. Estávamos no carro, quase a chegar, quando a Vera começou a falar sobre a tribo e, apesar de inclinado a assumir o papel de mulher, por aquilo ser uma tribo matriarcal, desisti depressa quando ela me disse que só os homens é que tomavam banho. E não todos. Só os que estão na altura da procriação, ali entre os 16 e os 35 anos. As mulheres “lavam-se”, e este “lavam-se” é mesmo entre aspas, com uns fuminhos e umas cinzas nos genitais e é tudo.
A falta de higiene incomodou-o?
Isso foi para esquecer. Se tomei dez banhos em 23 dias, foi muito. E mesmo esses eram tomados numas poças cheias de girinos e mosquitos. Vim de lá mais macho. Comecei a fazer chichi de pé, como os homens! Eles ficaram espantados comigo. Porque o Sérgio, por exemplo, entrou naquele papel de homem forte, de tronco nu e bastão na mão, como se fosse um dos deles, e eu não. E apesar de, como eles disseram, não ter sido capaz de “aguentar as minhas mulheres”, que estavam sempre a tomar banho, fui adoptado como um dos membros da tribo.
E a comida?
Qual comida? Houve dois “banquetes”. Mataram um bode velho e comemos todos. De resto, era farinha de milho com água. Foi uma fome desgraçada.
Sempre deu para perder peso…
Perdi seis quilos e fiquei todo contente. Foi um verdadeiro Biggest Loser. Saímos de lá todos com um corpo maravilhoso. Até o Sérgio, que chegou lá na versão esteróide e saiu na versão Tarzan.
Foi muito assediado?
Bastante. Todas as noites. Desde o primeiro dia, que foi qualquer coisa de assustador. Fui levado para a tribo das mulheres e elas começaram a tocar nas maminhas da Marta, a tentar que ela tirasse o soutien e ela agarra na pilinha de um bebé e começa a apontar para mim: “José… pilinha.” Quando perceberam, correram todas para mim. Abriram-me a braguilha, baixaram-me as calças e ficaram loucas. Desde esse dia, foi o terror.
Texto: Miguel Cardoso; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Joana Santos
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