Deu por terminada a carreira em 2007, altura em que acreditou já ter cantado tudo o que havia para cantar. Porém, passados três anos a realidade do País mudou e Paco Bandeira sentiu necessidade de voltar a gravar. O novo CD chama-se Share ou Não Share… Eis a Questão e fala sobre "o estado de crise talentoso que atingimos". "Tenho o sonho de ser útil às pessoas e a cantar acho que o sou", disse à VIP, numa produção onde posou com a família e onde falou sobre o concerto de dia 19 de Novembro, no Coliseu dos Recreios, que serve para apresentar as novas canções.
VIP – Esteve três anos afastado dos palcos. Já tinha saudades?
Paco Bandeira – Sim, claro. Embora tenha continuado a cantar na televisão.
O que é as pessoas lhe diziam na rua a respeito destes três anos de ausência?
Elas dizem-me para voltar. Houve alturas em que recebia 900 cartas em média por mês a pedir para cantar.
Quais é que são as expectativas para este concerto, que calha num dos dias da Cimeira da Nato?
Nós estamos convencidos que José Sócrates leva Barack Obama ao meu espectáculo depois de jantar.
Convidou mesmo o primeiro-ministro, ou está a brincar?
Convidei sim. Somos muito amigos. Não sei se ele vai, mas já tenho a presença garantida de outras personalidades como Mário Soares e a mulher, que são pessoas que acompanho desde os anos 70. Para mim, Mário Soares é a maior referência da democracia em Portugal e um ícone que tento seguir a nível de ética.
Porque abandonou os palcos em 2007?
Porque achei que já tinha cantado tudo o que tinha para cantar e queria fazer outras coisas.
Como por exemplo?
Iniciei o projecto de televisão TV Sul, fizemos imensos programas, transmitimos daqui para todo o Mundo através da RTP Internacional, da Regiões TV, mas agora isto vai ficar meio parado por causa do TGV, que passa a 40 metros desta propriedade.
O que é que o TGV implica com a TV Sul?
É impossível fazer televisão com dezenas de máquinas a fazer escavações, a abanar isto tudo, com as explosões de dinamite que vão haver, porque o comboio passa a 15 metros de profundidade e solo aqui é muito duro.
Como é que o avisaram que ia ser "vizinho" do TGV?
Formalmente fui avisado há mais de um ano, porque me pediram autorizações para estudos geológicos. Obviamente eu não sou contra o progresso, sou contra o que me prejudica. Neste momento eu não sei muito bem a minha vida. Alguns dos sócios abandonaram o projecto e nós temos contratos a cumprir, dívidas ao banco a pagar. Estamos com alguns problemas graves e eu não tendo mais nada para fazer neste processo resolvi editar as quatro canções e iniciar espectáculos. Porque a verdade é esta: eu preciso de angariar fundos para pagar as minhas dívidas.
Estamos a falar num pre-juízo de quanto?
Neste momento já temos entre dois a três milhões de pre-juízos directo.
Considera acabar com a TV Sul?
Não, eu tenho o compromisso de criar um canal de televisão para o Sul. Estou numa pausa obrigatória, mas o projecto não morre.
Não podem mudar os estúdios de sítio?
Os estatutos da empresa obrigam a que os estúdios sejam aqui porque é um sítio isento, que não cria bairrismos exacerbados. Vamos ver.
Transmitem na TV Regiões e funcionam como produtora. Porque é que não têm um canal por cabo?
Acho que o nosso projecto causa "comichão" a muita gente, não sei porquê. E não é por ser eu, acho que é por ser o Alentejo. Sempre houve qualquer coisa contra o Alentejo. Ainda me lembro que na tropa as pessoas de cá não podiam ascender na carreira acima de sargento. Houve sempre uma discriminação, não sei porquê…
Pediram um canal por cabo?
Sim e damos garantias porque está connosco um dos maiores empresários do País: Rui Nabeiro. Nós já pedimos à ZON, à MEO e nada. Mas eu não desisto. Só peço é que me digam, caso seja por estar eu à frente do projecto, que a TV Sul só tem um canal se mudar de director.
Porque é que havia de ser isso?
O meu estatuto é livre demais e incomoda. É a mesma coisa que acontece com Fernando Nobre. Ele já fez tudo aquilo que qualquer político gostava de prometer poder fazer se fosse Presidente da República. E já começaram a desacreditá-lo. Porque ele mete medo, é demasiado livre.
É para ele que vai o seu voto nestas presidenciais?
Se não for nele, não voto em ninguém.
Voltando a José Sócrates, como ficaram amigos?
A nossa amizade nasceu num comício para a candidatura de Jorge Sampaio, era ele um dos homens fortes do Guterres. Conheci-o e apercebi-me das grandes capacidades de comunicação e da boa vontade dele. Porque ele tinha as mesmas simpatias que eu pela ecologia, pelo valor das pessoas. Eu fui das primeiras pessoas que lhe deu força para candidatar-se à liderança do PS.
Não lhe pediu para afastar o TGV daqui?
Nunca, este é um assunto meu com a sociedade. Nunca lhe pedi nada. Ao contrário, sempre me disponibilizei para o que ele precisasse.
Tem uma filha de 11 anos. Como é a relação com ela?
É uma paixão enorme agora. A Constança nasceu já eu tinha 53 anos. Se não fosse ela eu teria envelhecido mais depressa.
Sente que com a Constança tem a oportunidade de corrigir alguns erros do passado?
Como todos os homens tive alguns fracassos e alguns triunfos na família, mas a família é o mais importante da minha vida. Eu acho que posso fazer outras experiências com ela. Ela tem uma rapidez de compreensão enorme. Consegue perceber o que eu estou a pensar sem eu dizer nada. É muito inteligente e preocupada comigo.
Com uma diferença tão grande de idades para as irmãs como é a relação delas?
As irmãs adoram-na e ela tem um respeito muito grande por elas, mas não tem grande afinidade. Elas estiveram sempre um bocado longe, sobretudo porque a educação dela é muito importante e ela está sempre no colégio. Eu gostava que ela estivesse mais próxima.
O que é que ela quer ser?
Quer ser cardiologista. Ainda no outro dia o padrinho Almeida Santos, ficou muito surpreso porque ela lhe foi dizer que quer ser médica. Sabe porquê? Porque ela quer evitar que as pessoas morram. Estuda loucamente, quer melhorar a matemática.
Com a vida que leva, com a família que tem, com os valores que reitera, sente-se um homem realizado?
Sim, acho que não me falta fazer nada. Acho que em relação ao que fiz até hoje não me sinto arrependido de nada, acho que tudo o que fiz foi um pouco acima porque sempre tive alguma sorte. Acho que tudo o que fiz mesmo as que me deixaram mal visto, não foram feitas para sair assim.
O seu nome apareceu diversas vezes associado a alguns escândalos. Qual foi o que mais lhe custou?
Logo após o 25 de Abril, o José Jorge Letria foi para os jornais chamar-me bufo da PIDE. Ao fim deste tempo todo ainda não perdoei este boato.
Mais recentemente teve um diferendo com a RTP. Como ficou isso?
Estamos a resolver tudo sem chegar a tribunal. Tanto que a RTP está a promover o concerto, o que antes era impossível.
Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Paulo Lopes
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