Vai ser pela televisão que Jéssica Augusto vai acompanhar o desempenho do namorado, Eduardo, guarda-redes da Selecção das Quinas, no Mundial. A atleta não poderá viajar para a África do Sul porque está a preparar-se para o Europeu de Atletismo, mas está confiante no sucesso de Portugal. O casal tem uma relação de 12 anos e Jéssica Augusto, de 28, admite seguir o seu amor numa aventura fora do País, caso o passe do jogador venha a ser comprado por um clube estrangeiro. Ter filhos é, sem grandes dúvidas, o próximo passo.
VIP – É atleta federada desde 1997. O que a motivou a abraçar uma carreira no mundo do desporto?
Jéssica Augusto – Comecei na escola com os corta-matos e competições interescolas de pista coberta. Não gostava de correr, mas sim de saltar. Queria ser saltadora em comprimento, mas como nunca me apurava acabei por experimentar os 1000 metros e ganhei. Foi aí que tomei a iniciativa de vir para as escolinhas do Sporting de Braga.
Como vê o seu percurso?
Acho que tenho um percurso interessante, porque comecei com 14 ou 15 anos e fui evoluindo até atingir o nível de categoria mundial. Não sou uma atleta que apareceu num ano e desapareceu no outro. Fui traçando o meu percurso aos poucos e todos os anos faço algo bonito pelo País: vou ao mundial e passo à final ou bato um recorde.
Ter participado nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, foi o ponto alto da sua carreira até agora?
Não. O ponto alto será quando eu conseguir ganhar uma medalha olímpica. Mas marcou--me pela experiência e pela ligação entre várias modalidades. Já tinha participado em Sydney, em 2000, como convidada pelo Comité Olímpico para estar num acampamento de juventude, que eu gostei muito. Foi fundamental para me decidir sobre o que eu queria realmente, que era continuar no atletismo e ser atleta de alta competição.
Ser atleta é uma vida de sacrifícios?
É um bocado. Temos de nos privar de algumas coisas. Às vezes queremos sair à noite e não saímos. Eu abdiquei dos estudos, porque não conseguia conciliar a enfermagem com o atletismo. Foi um desgosto, porque estava a gostar do curso.
Pretende retomar mais tarde?
Sim, mais tarde, mas irei fazer outro curso, porque enfermagem é muito prático e exige estar lá. Como eu gosto de correr e quero continuar até aos 40 anos, não posso esperar até essa idade para ser enfermeira.
Não é só a Jéssica que está ligada ao desporto, o seu namorado também, o
Eduardo, que é o guardião da Selecção e do Sp. Braga. Como é namorar com alguém ligado à mesma área profissional?
Chegámos os dois a um nível bastante elevado em que é muito difícil conciliar a nossa vida pessoal. Há fins-de-semana em que ele está disponível e eu tenho competição. Quando ele está de férias estou eu na época mais importante, que é quando eu tenho de treinar muito e estou em estágio. Para mim, ele é o melhor de Portugal.
Então como é que gerem isso tudo?
Sempre que temos um fim-de-semana aproveitamos e fugimos um bocado daqui. Mas tem sido muito difícil.
Como é que compensam essas ausências?
Costumo dizer que quando há um casal que está ao mais alto nível no desporto, um acaba por ficar para trás. Vai chegar a uma altura em que um de nós vai ter de abdicar da carreira e acho que serei eu.
Está disposta a isso?
Não estou muito disposta, mas se tiver de ser…
Está disposta a ser, como se costuma dizer, mulher de jogador de futebol? Ou seja, deixar de ter profissão e dedicar-se inteiramente ao casamento ou à relação?
Não. Uma das coisas mais difíceis que está a acontecer neste momento, e que deve acontecer com a maior parte dos casais de desportistas de alta competição, é mesmo isso. É chegar a uma altura em que um tem de abdicar e neste caso ele tem mais peso, teria de abdicar eu. Mas tenho os meus sonhos, não consigo. Então, profissão “mulher de jogador” nem pensar, nunca na vida.
Como é ver o seu namorado em campo? Fica nervosa?
Fico nervosa quando as bolas vão à baliza, mas confio nele e eu sempre acreditei no Eduardo. Conheci-o na escola, no 10.º ano, muita gente pensa que foi no estádio, mas não. Sempre admirei a maneira dele trabalhar e foi difícil porque ser guarda-redes é um lugar ingrato. Não basta ter qualidades, estar bem nos treinos e defender tudo. Se o treinador não gostar, não há hipótese.
Vibra quando vê futebol?
Não. Vibro com ele quando o vejo defender. Sou adepta do Braga e vibro com o Braga, mas também simpatizo com o Porto.
E se a Jéssica estiver a competir e o Eduardo estiver presente, isso dá-lhe mais confiança?
Sinto-me mais segura e dá-me mais prazer correr, porque está a pessoa que eu gosto na bancada. Uma pessoa tem tendência a exibir--se e a esforçar-se mais. Fico nervosa.
Vai à África do Sul acompanhar a selecção?
Não, porque vou estar numa época muito importante. Estou a preparar a final dos dez mil metros que se vai disputar em Barcelona e é impossível viajar até à África do Sul. Estarei a fazer um estágio em altitude. Prefiro acompanhar pela TV e também tenho algum receio, por causa da segurança.
Lamenta não poder ir junto?
Fico um pouco triste, mas tenho de abdicar de algumas coisas para me dedicar ao que mais gosto de fazer, que é praticar atletismo.
Acha que a Selecção de Portugal vai chegar à final ou ser campeã?
Claro! Sou portuguesa. Espero que consigam passar à fase final, mas tem de ser um passo de cada vez para não sofrermos desilusões. Eles são seres humanos e são muitas equipas em competição.
Acredita que o Eduardo irá manter-se como o guarda-redes titular?
Acho que não há dúvidas! Há? Era um desgosto para ele se não fosse titular. Ele também acredita, temos de acreditar também.
Está noiva desde 2008. Acha que após o Mundial é uma boa altura para se casar?
Não sei, vamos ver o futuro. Temos de pensar, porque a vida de jogador é difícil. Eu também não sei onde é que ele vai estar depois do Mundial, se vai para outro clube.
E filhos, gostava de ter?
Gostava de ser mãe depois dos Jogos Olímpicos de 2012. Vou pensar seriamente nisso.
Ele partilha o mesmo desejo?
Sim, já era um desejo dele em 2008, mas eu achei que era muito cedo e que ainda podia dar mais um salto no atletismo. Não me arrependo. Penso que, em 2012, vou a tempo. Tenho 30 anos, posso ter um filho, regressar e correr maratonas.
Tem adiado o sonho de ser mãe.
Sim, porque eu queria ter sido mãe aos 18 anos e fui adiando. Mais um ciclo olímpico e penso que 2012 é mesmo uma boa altura para ser mãe.
Namoram há 12 anos. Qual é o segredo da longevidade da relação?
É o amor. E a paciência que ele tem para me aturar (risos). Todos os casais têm crises, chateiam-se, nós já passámos por isso, o que é normal, mas o amor tem superado tudo.
O que mais aprecia no Eduardo?
A simplicidade. É muito humilde, simpático, divertido e amigo.
O Eduardo tem vindo a despertar interesse de clubes europeus. Pondera acompanhá-lo numa aventura no estrangeiro?
Tanto eu como ele temos adiado essa conversa. Eu não vou empatar a carreira dele, mas ele também não me pode pedir para eu deixar de correr para me dedicar apenas a ser mulher de jogador. Por isso, depois do Mundial logo se vê. Acredito que vai dar salto para outro clube.
Mas vê-se a ir para fora?
Depende. Tenho de ter condições e um grupo de treino. Não posso ir assim, senão não vou correr. Desanimo e desisto. Depende do clube, da cidade, de muita coisa…
Se houver condições, admite ir com ele?
Talvez sim. É uma conversa que temos de ter os dois.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Rui Costa
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