Nasceu em Angola em 1963 e aos 13 anos veio viver para o Porto. Muito jovem ainda começou a trabalhar como jornalista desportivo. Coleccionador de relógios, já apresentou programas (como o "QI", com Teresa Guilherme), gostava de ter sido cantor e lançou-se recentemente na escrita, tendo dois romances de sucesso. Casado há 20 anos com uma professora, Manuela, é pai de André, de 19 anos, e Mariana, de 15 anos. O desporto é uma das suas grandes paixões. A somar ao basquetebol, que já praticou, e a outras modalidades que foi ensaiando, aprende actualmente a fazer surf na praia de Carcavelos e na Foz, consoante está em Lisboa – durante a semana – ou no Porto – aos fins de semana. Os 17 anos da TVI apanham-no como director de informação. Júlio Magalhães mantém a calma, mas confessa que atravessa tempo turbulentos.
VIP – Júlio Magalhães, Nuno Santos, José Fragoso… Três directores das três estações de TV vieram do jornalismo desportivo. Há uma razão para isto?
Júlio Magalhães – Há: é que o jornalismo desportivo é uma grande escola, que obriga a versatilidade e à produção diária de muitas notícias. Fazer uma ou mais voltas a Portugal em bicicleta, como eu acompanhei, fazer um campeonato do mundo de futebol, cobrir um evento desportivo, obriga a uma destreza e a uma rapidez de processos que não é comum nas outras secções, onde tudo é mais trabalhado e mais ponderado. O jornalismo desportivo dá uma capacidade de adaptação muito rápida às outras áreas do jornalismo e é uma escola fantástica para quem quer começar no jornalismo.
Júlio Magalhães já está há cerca de oito meses à frente da informação da TVI. Qual é o balanço que faz?
Em primeiro lugar a TVI segue o seu caminho, como foi prometido. Mantemos a liderança das audiências e quem achou que isto ia ser um descalabro enganou-se. O nosso caminho não é de destruir o que foi feito, mas sim continuar e ir introduzindo aos poucos as nossas ideias, a nossa forma de estar e actuar na televisão. Nesse aspecto, o balanço é muito positivo. O que é negativo ao longo destes seis meses é o facto de a TVI estar sempre na imprensa. Têm sido seis meses muito violentos e muito difíceis. Estamos a fazer o nosso trabalho, estamos compenetrados no nosso trabalho e, ao mesmo tempo, todos os dias somos confrontados com notícias novas e com polémicas permanentes que envolvem a TVI e que, como é óbvio, não nos deixam trabalhar com a tranquilidade que queríamos. Mesmo assim os resultados estão à vista e as pessoas podem perceber que estamos aqui para trabalhar e vamos resistindo como podemos – às vezes como nos deixam – a tudo o que é dito sobre a TVI e a tudo o que tem sido feito.
A maneira como está a falar dá a entender que considera que esta instabilidade tem sido provocada deliberadamente…
Não. O facto de a Ongoing ter anunciado em Outubro que ia comprar e isso ainda não estar resolvido, o facto de a TVI estar envolvida no processo da escutas e ainda a polémica sobre a forma como acabou o Jornal Nacional… Já lá vão seis meses e continuamos a falar da mesma coisa. As pessoas que trabalham na TVI todos os dias ouvem e lêem rumores e notícias e temos que trabalhar com esta instabilidade. Eu não acho que haja o propósito de nos prejudicar e prejudicar o nosso trabalho; não penso isso. Acho é que estamos a ser penalizados pelo facto de as coisas se arrastarem há muitos meses. É muito mais difícil trabalhar nestas circunstâncias do que se estivéssemos a trabalhar com a tranquilidade que queríamos.
É então apenas uma circunstância?
Sim. Quando entrámos na TVI sabíamos que existia essa circunstância e que se viviam momentos conturbados, mas nunca pensámos que se iam eternizar todos estes meses. E não está à vista um fim para breve.
Qual a principal diferença na informação da TVI de José Eduardo Moniz para a era de Júlio Magalhães?
Não é muito grande. Estamos a continuar aquilo que José Eduardo Moniz nos deixou. Temos dois canais para sustentar em termos informativos – a TVI e a TVI 24 -, mantemos o compromisso com o espectador, mantemos a nossa independência… O que não temos é uma informação tão agressiva como nessa altura. Já não há o Jornal de sexta-feira, mas quando chegámos já tinha acabado. Hoje o que temos é um Jornal Nacional que atravessa a semana toda com a mesma importância, de sexta a Domingo,. As diferenças não são grandes: quem viu a TVI nos últimos dez anos continua a ver e continua a sentir que a TVI faz parte das pessoas. É, na minha opinião, a televisão que mais comprometida com o público e menos com a política.
Quando diz que talvez a informação seja menos agressiva, isso não quer dizer menos independente?
Claro que não. Fala-se demais de independência no jornalismo. Acho que não há nenhum jornal, nenhuma rádio nem nenhuma estação de televisão cujos jornalistas não sejam absolutamente independentes. Não podemos dizer que os jornalistas que nós conhecemos estejam vendidos ou comprometidos com o poder político ou económico: a independência é comum a todos. Também não acho que só a TVI tenha uma linha editorial de independência.
O que há hoje é um novo cenário que não podemos ignorar. Por causa da exposição no mercado, os grandes grupos económicos sentem uma atracção muito grande pela comunicação social, sobretudo pelas televisões. O cenário que se alterou para os jornalistas é que os órgãos de comunicação social estão a ser geridos em termos economicistas. Ou seja, para a independência do jornalismo é importante estar apoiado numa boa empresa. A Prisa não é económico normal, é um grupo de comunicação social, o que nos tem dado uma sustentação grande para fazermos o nosso trabalho como queremos. O cenário que provoca este ruído todo é que os grupos económicos têm influência nas estações, os políticos têm influência nos grupos económicos e muita gente pensa que esta cadeia chega às redacções. Mas não chega. Nunca chegou.
Que garantias é que tem por parte do grupo económico que gere a estação de que acontecimentos como a suspensão do Jornal Nacional de sexta-feira não voltam a ocorrer?
No dia em que uma coisa dessas acontecer eu faço o que tenho a fazer: saio. Sempre recebi da Prisa a garantia de que o nosso trabalho é independente e de que a redacção pode trabalhar sem restrições. Temos que perceber que o Jornal Nacional era uma coisa especial, que não havia nada parecido nem na TVI, nem nos outros órgãos de comunicação social. Era uma ilha, que funcionava na TVI com estilo próprio, com uma equipa própria e com um formato de jornal muito diferente de todos os outros. Provocou uma polémica tremenda, que entrou no terreno da política, e nessa altura as coisas pioraram. Não podemos é ser todos penalizados por isso. Eu, enquanto director da redacção do Porto e enquanto jornalista que vinha a Lisboa editar e apresentar todos os fins de semana, nunca senti qualquer tipo de pressão. Nem de José Eduardo Moniz, nem da Prisa. Como não sinto agora qualquer tipo de pressão. E no dia em que sentir, saio.
Como é que está a ser ter a família no Porto e viver em Lisboa?
Tranquilo. Os meus filhos já estão crescidos e têm tido muito apoio da mãe, mas é difícil. Venho à segunda ou terça para Lisboa e vou à sexta para o Porto. Não faço nem mais nem menos do que centenas de administradores de empresas, deputados, políticos… As coisas estão a correr bem, a minha mulher dá aulas, os meus filhos estão na escola e há hábitos que não é preciso quebrar em nome de um projecto profissional. O Porto é aqui ao lado e, num período de dois anos, não há necessidade de nos mudarmos todos só por casa do projecto de uma pessoa. A partir dos dois anos, essa será uma reflexão a fazer.
A verdade é que o grande fluxo de trânsito que vejo na auto-estrada, que vem à segunda-feira e volta à sexta, é o reflexo de um grande centralismo: o país tem todo que se deslocar para Lisboa, coisa que sempre me irritou e continua a irritar.
E a carreira literária, ficou suspensa?
Não. Estou a atentar continuar. Não me considero um escritor mas sim um jornalista que escreve livros. O livro "Os retornados: um amor nunca se esquece" tem 70 mil exemplares vendidos, o "Amor em tempo de guerra" já vai em trinta mil… Acho que há tempo para tudo: gerir a carreira profissional e ter uma carreira pessoal paralela, onde devemos fazer o que nos dá gozo. Escrever livros é uma coisa que me dá gozo, que me mantém motivado e, como tal, é bom para a minha carreira profissional. Alem disso, na TVI não trabalho sozinho, tenho uma equipa. Trabalhamos muito mas também temos tempo livre e temos tempo para nós…
Isso quer dizer que há um livro novo na forja?
Sim, tem a ver com a emigração para o centro da Europa. É um tema que eu próprio vivi, o da emigração, e que está por explorar. Naqueles anos 50 e 60 há histórias muito engraçadas para contar.
Sempre foi apontado como uma pessoa que poderia facilmente enveredar por uma carreira política e isso nunca foi posto de parte por si. É um projecto adiado?
Para já é um projecto adiado, mas é algo que eu um dia gostaria de experimentar. Já recebi vários convites e recusei sempre. As pessoas conhecem a minha neutralidade em termos políticos e portanto era muito difícil para mim, nestas condições, aceitar uma coisa dessas. Mas também sempre disse que aprecio muito mais a carreira política autárquica, mais próxima das câmaras municipais, do que a política nacional. Também me fascinava trabalhar num clube de futebol de uma empresa como o Futebol Clube do Porto.
Já fez as pazes com Pinto da Costa?
Eu nunca me zanguei com ele, ele às vezes é que se zanga comigo, mas depois passa.
Como é que imagina o resto da sua carreira?
Gostava de acabar só a escrever livros, a viajar e a praticar desporto.
Texto: CFA; Fotos: Tito Calado; Impala
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