José Carlos Malato
“Tenho um amor incondicional por eles”

Famosos

O apresentador educou os sobrinhos
Quando o cunhado morreu, há seis anos, de cancro no pulmão, viu-se a braços com uma realidade nova de ‘pai’.

Sex, 26/12/2008 - 0:00

VIP – Que balanço faz do tempo que leva como “pai”?
José Carlos Malato
– Eu não sou pai, sou tio! O pai deles era o meu cunhado Mateus Oliveira, que faleceu há seis anos, vítima de cancro. Mas mesmo antes desse trágico acontecimento, a minha irmã e o meu cunhado sempre partilharam comigo a educação dos miúdos. Isso foi de uma enorme generosidade. Na brincadeira, costumo dizer que a minha irmã teve os filhos por mim. Só faltava a rapariga. Ela casou com o meu actual cunhado, o Roger, e agora tenho outra sobrinha, a Luísa, que tem dois anos e meio. O balanço é muito positivo. Considero que temos feito um bom trabalho, em termos da sua formação como pessoas, que é o mais importante.  
 
Enquanto pessoa, o que mudou desde essa data?  
Descobri uma nova forma de amar. É um amor que não tem comparação, nem limites. É absolutamente incondicional. Seria capaz de dar a vida por eles.  
 
Este papel obrigou-o a ser mais responsável?  
Sim, de certa maneira. No sentido de honrar todos os compromissos que fiz com eles até hoje. Posso dizer que nunca falhei a um acordo, a uma promessa, a nada. É daí que vem a minha autoridade e respeito que sei que eles têm por mim.  
 
Não o sendo, acha que daria um bom pai?  
Não tenho a menor dúvida. Mas percebi muito cedo que não ia ter filhos.  
 
Porquê?  
Porque me conheço bem e porque isso implicaria um vínculo com alguém para a vida inteira e essa não é a minha natureza, nem a minha vocação. Ainda bem que não o fiz e não fiz ninguém infeliz. Adoro ser tio. Tem as suas vantagens: não passei noites sem dormir nem mudei fraldas (risos).  
 
Nunca mudou a fralda à sua sobrinha?  
Já, mas não gosto nada! (risos) Curiosamente, quando a minha sobrinha me pede para mudar a fralda, pergunto-lhe: “Quando o tio for velhinho também me mudas a fralda?”. Ela sorri, responde “shim”, e isso dá-me uma certa motivação. Mas não é o meu forte (risos).  
 
Há aspectos que podia melhorar na relação com os seus sobrinhos?  
Pode-se sempre melhorar. Sinceramente, acho que não me tenho saído mal. Não sou tão tolerante como o amigo da escola, nem tão “mandante” como os pais. Estou no meio-termo, mas não abdico da minha autoridade. Eles sabem-no e respeitam-no.  
 
Como definem o vosso tio?  
Fábio Malato -Ele é como um pai para nós. Em toda a vida tem estado ao nosso lado, apoia-nos em tudo.  
Nuno Malato -É uma excelente pessoa e um exemplo a seguir.  
 
Qual a importância que tem nas vossas vidas?  
F.M. -É importante porque tudo o que se passa comigo é a ele que eu conto. É o primeiro a saber todas as minhas experiências. No fundo o meu tio é como se fosse um “padre”, chego ao pé dele e confesso tudo.  
N.M. -Tem toda a importância possível, porque ajuda em tudo.  
 
Quais os valores que faz questão de incutir na vida do Fábio e do Nuno?  
A minha preocupação é “dar-lhes” mundo. Uma vez, tinham eles 10, 11 anos, tivemos uma conversa séria. Eles ficaram de pé, encostados à parede, com os olhos muito abertos, enquanto lhes dizia “o mundo não é a preto e branco. Entre estas duas cores, há muitas outras e vocês têm obrigação de olhar para elas e de as respeitar nas suas diferenças. Um dia, vão perceber a verdadeira dimensão das minhas palavras”. Muitas vezes lembramos essa conversa. Um tio serve para isso. Para lhes colocar na razão e no coração, as sementes da sua humanidade.  
 
Continua a ser o confidente deles?  
Sim, às vezes até me contam coisas a mais. Estou sempre a dizer-lhes que não quero e não devo saber tudo. Só quero saber as coisas que eles realmente têm necessidade de me contar. Eles têm direito à sua privacidade. Só assim é que posso exigir que eles respeitem a minha e o meu espaço.  
 
Pedem-lhe muitos conselhos?  
Sempre, a toda a hora. E eu dou. Mas salvaguardo que é o meu ponto de vista. Os conselhos servem apenas para os ajudar a tomarem as suas decisões e serem capazes de construir o seu próprio caminho. Afinal, já são maiores de idade e nós não duramos para sempre.  
 
Não há assuntos tabu?  
Nenhum. Falamos de tudo e mais alguma coisa. Quando digo tudo, é mesmo tudo.  
 
E nunca se chateiam?  
Muitas vezes. Algumas, seriamente. Eles já passaram pela infância, pela idade do armário, pelo da prateleira, e até pelo da estante (risos). Cada idade tem as suas vicissitudes. Há que actuar de forma diferenciada. Sou flexível, mas não dobro. Quando é a sério, é a sério. E a minha irmã apoia-me incondicionalmente.  
 
Ralha muito com eles, ou são bem comportados?  
Sempre que se justifica. Em situações mais delicadas converso com a minha irmã e o que decidimos em conjunto tem a força de uma ordem. Exercemos a nossa autoridade sem sermos autoritários. Quanto ao comportamento, a coisa está a melhorar. Sobretudo na escola. O Nuno é mais rebelde, mais assertivo, o Fábio faz mais pela calada. Mas eu acabo sempre por descobrir as artimanhas.  
 
Sempre foram bons alunos ou teve que os por de castigo?  
Eles não tiveram uma adolescência fácil e isso reflectiu-se na escola. Nessa altura, pedi ajuda a um psicólogo que os acompanhou e me sossegou. Agora estabilizaram, mas houve uns castigos pelo meio. E continua a haver, quando é preciso.  
 
Há algum tempo, o Fábio tinha queda para os computadores e o Nuno para a educação física. Enveredaram por estas áreas?  
O Nuno, continua na área e a jogar futebol no Carcavelos. O Fábio entrou para a escola de audiovisuais Val do Rio, em Oeiras, e tem futuro na televisão. Fizemos um plano, logo a seguir à morte do pai. O Fábio cumpriu na íntegra, por isso ofereci-lhe a carta de condução e um pequeno carro. O Nuno, nem por isso, mas vai lá chegar. Quando isso acontecer também terá a sua carta, como prometi.  
 
Gostava que fossem os novos Malatos da televisão?  
Na apresentação, não creio. Mas acredito que o Fábio possa ser câmara ou editor de vídeo. O Nuno é uma incógnita. Dava um bom manequim. Pelo menos tem altura, corpo e cara para isso. Podia ser assistente do Preço Certo. (risos)  
 
Tem medo que algo possa estragar a vossa relação?  
Nada, nem ninguém, pode estragar a nossa relação. E quem se atrever, apanha.  
 
Pode dizer-se que são os filhos com que sempre sonhou?  
Tenho os “filhos” que queria. São maravilhosos e não trocava estes por nenhuns.  
 

NATAL EM FAMÍLIA

Como costuma ser o vosso Natal?  
É Natal, mas não é Natal. A minha mãe é Testemunha de Jeová e não celebra o Natal. Na noite da consoada, ficamos juntos, jantamos e oferecemos presentes às escondidas. (risos) Não há enfeites, nem árvore de Natal.  
 
É uma época de alegria ou é o momente em que recordam o passado com tristeza?  
Eu tento que seja uma época de alegria. Naturalmente, eles terão as suas recordações. Se sentirem necessidade de expressar os seus sentimentos nós estamos sempre dispostos a falar, a conversar. Mas eu penso que o seu luto ainda está a ser feito. O Nuno tatuou o nome do pai, em caracteres árabes, no braço, e o Fábio, o da mãe.  
 
E quem é o mais guloso dos três?  
Primeiro eu e depois o Fábio. O Nuno é o magro, o top model. Tem um cuidado extremo com o físico e com a aparência. Anda sempre a mostrar os dentes e os abdominais. Acha-se o máximo. Eu e o Fábio é mais bolos! (risos)  
 
Qual a melhor prenda que podia receber dos teus sobrinhos?  
Queria que o Nuno levantasse as notas a algumas disciplinas e que o Fábio terminasse o curso. E que continuassem atinados, dentro do que é possível, na idade deles.  
 
Querem aproveitar para pedir uma prenda ao tio?  
F.M. -Não quero nenhuma prenda. Só mesmo o carinho que ele tem para me dar.  
N.M. -Ele já nos dá muito mas a carta e o carro davam jeito (risos).  
 
Costumam passar o Ano Novo juntos?  
Os anos passados sim. Este ano ainda não combinámos, mas acho que eles devem querer passa-lo com as namoradas. São lindas, a Andreia e a Maria.  
 


Texto:
Bruno Seruca;
Fotos: Luís Azevedo; Produção: Zita Lopes; Maquilhagem: Dina Almeida 

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