A cidade norueguesa Alesund sugere ao forasteiro a ideia de que, ainda antes de colocar os pés em terra, vai aterrar num cenário fabricado para um conto de fadas. Nevou na noite anterior, mas já não há sinais de manto branco na cidade situada entre fiordes, capital do bacalhau.
Fomos, obviamente, como qualquer português, carregados de camisolas de lã e casacos. O frio é, porém, muito menos agressivo do que se imaginava.
Esta pequena cidade portuária tornou-se conhecida pelo estilo arquitetónico Art Nouveau, que ganhou na reconstrução após um incêndio que, a 23 de janeiro de 1904, destruiu todo o centro.
Mais de 850 casas ficaram reduzidas a cinzas e pelo menos dez mil pessoas perderam o lar. Mas, por incrível que pareça, apenas uma vida se perdeu. Hoje, para além de capital do bacalhau, Alesund é uma referência arquitetónica.
Grande parte dos edifícios das margens são antigos armazéns de peixe, agora transformados em apartamentos e hotéis de ar de industrial chic. Feito o check in no nosso hotel, saímos para explorar a cidade. E, inevitavelmente, os restaurantes.
O XL Diner – com vista para um pôr do sol tardio à beira-mar – começa por nos revelar o que nos espera nos próximos dias: precisamos de bastante espaço no estômago para tanto codfish, como eles dizem…
Bacalhau é rei e senhor do espaço e é-nos apresentado à portuguesa, à italiana, à espanhola e à norueguesa. No final, o apelo do nosso patriotismo fala mais alto. Embora, como bons portugueses, não nos importemos de partilhar os pratos entre amigos. Voltámos ao hotel. Aliás, rebolámos. O dia caía vagaroso e o sol persistia, radioso, pela noite dentro. Sim, sol de noite. Há luz natural das cinco da manhã à meia noite, nesta altura do ano. E em pleno verão, haverá, quanto muito, três a quatro horas de breu.
Descobrimos depressa que tudo o que já havíamos lido sobre a Klippfiskakademiet (Academia do Bacalhau) era verdade. O espaço em si e a área envolvente far-nos-ia gastar um rolo de Kodak se estivéssemos nos anos 90. Lá fora, as focas são alimentadas enquanto os pinguins descansam ao sol.
A viagem ganha entretanto todo um outro interesse quando nos fazemos acompanhar de chefs de cozinha. Renato Cunha, Louis Anjos, Rodrigo Castelo e Patrick Simões guiam-nos pelos sabores da confecção portuguesa do bacalhau num país onde este é consumido maioritariamente em estado fresco.
Os vencedores do concurso A Revolta do Bacalhacau vestiram a jaleca e a portugalidade e levou os noruegueses a duvidarem de que pudesse existir tal coisa como enchido de bacalhau ou até sobremesa de bacalhau. Naquela noite, o amor serviu-se à mesa. Serviu-se frito, fresco, desidratado, panado e… foi o céu.
Marta Amorim, na Noruega, a convite do Conselho Norueguês da Pesca
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