O Vice-almirante Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo tem 60 anos e coordena a ‘Task Force‘ para o plano de vacinação contra a covid-19 desde o início de fevereiro deste ano, após a saída de Francisco Ramos. Esta liderança tornou-o num dos homens mais falados em Portugal nos últimos meses. Por essa razão, venha connosco conhecê-lo melhor.
Gouveia e Melo nasceu no dia 21 de novembro de 1960 em Quelimane, Moçambique. No dia 25 de novembro de 1975 fugiu com os pais para São Paulo, no Brasil, tendo chegado a Portugal quatro anos depois, para ingressar na Escola Naval como Cadete do curso “Carvalho Araújo”. Em setembro de 1984, após terminar o curso na Classe de Marinha, com 23 anos, foi promovido a Guarda-Marinha. Nada o fez parar e, em 2017, foi promovido a Vice-almirante (posto de oficial general, existente nas forças navais. É o posto imediatamente inferior ao de almirante e superior ao de contra-almirante. No entanto, em alguns países é o posto naval efetivo de maior patente, já que o de almirante é apenas uma dignidade honorífica).
Aceitou comandar a ‘Task Force’ porque o País precisava dos “skills” (em português, habilidades) que adquiriu ao longo da carreira. “Quando entrei para os submarinos, nos lemes, havia um letreiro que dizia: ‘A Pátria honrai que a Pátria vos contempla’. Achava aquilo mesmo serôdio! Mas evoluí. Sou militar e, se for necessário defender o meu País, não posso falhar”, revelou, em junho, ao Sol.
No entanto, “a cultura do português” é algo que o chateia. “Como povo, temos coisas fantásticas, mas, ao nível organizativo, acreditamos muito no improviso. Nisto sou muito anglo-saxónico e faz-me confusão a inércia do sistema. As pessoas estão mais preocupadas com a sua posição do que com aquilo que devem fazer”, comentou ainda na mesma entrevista.
– Gouveia e Melo recebido por manifestantes anti-vacinas em Odivelas
É o oficial da Marinha Portuguesa com mais horas de navegação e de imersão submarina
É o oficial da Marinha Portuguesa com mais horas de navegação e de imersão submarina: 32 mil horas de navegação e mais de 20 mil debaixo do mar (o que dá 2,3 anos fechado dentro de uma cápsula). Fez também parte da missão mais prolongada dos submarinos portugueses, 31 dias de mar seguidos. Por fim, e no meio de tantas curiosidades, foi o primeiro submarinista a passar de baixo de água de um submarino para o outro.
Os submarinos são, de facto, a sua grande paixão. Assim como a matemática e a física. E a verdade é que estas três coisas juntas já protagonizaram uma história que tinha tudo para correr mal.
No passado, quando exercia a função de comandante do NRP Delfim (antigo submarino da Marinha Portuguesa), teve menos de 20 minutos para evitar que o aparelho se afundasse no Mediterrâneo, devido a uma falha no sistema. A bordo seguiam 53 tripulantes. “Aconteça o que acontecer, não abandono o navio. Prefiro morrer aqui do que ter de viver para justificar a perda do submarino”, pensou naquele momento delicado (citação que surge em várias entrevistas que já deu). Quase por instinto, Gouveia e Melo lembrou-se de uma manobra tão rara e hipotética que nunca a tinha treinado: fechar o submarino — que na realidade é um tubo estanque dividido em cinco compartimentos — e aspirar o ar de fora para o interior, de modo a tornar o navio numa gigante câmara hiperbárica: com maior pressão do ar, a água deveria começar a ser empurrada para sair, em vez de entrar. Esta estratégia funcionou.
O sonho de Gouveia e Melo
O também Adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas já revelou, por diversas vezes, que se pudesse escolher, preferia morrer no mar. E era lá que gostaria de realizar o seu maior sonho: passar por baixo da calota polar ártica, ser o primeiro submarino convencional a passar de um lado para o outro.
Entre os vários cursos que fez ao longo da sua carreira, destacam-se a especialização em Comunicações e Guerra Eletrónica, o curso geral Naval de Guerra e o de promoção a Oficial General no Instituto de Estudos Superiores Militares. Mas isto é uma pequena amostra. O mesmo acontece com as condecorações que já recebeu. Veja aqui o currículo do vice-almirante Gouveia e Melo.
– Marcelo Rebelo de Sousa condecora vice-almirante Gouveia e Melo pela sua carreira militar
“Ando sempre noutro hemisfério”
No campo pessoal, Gouveia e Melo considera-se, em jeito de brincadeira, “uma pessoa muito aborrecida”. “Estou de tal maneira focado nas coisas que tenho de fazer que roubo a paciência às pessoas que vivem comigo. Ando sempre noutro hemisfério”, disse ainda na publicação referida acima. É do Benfica, “por causa do Eusébio“, que também nasceu em Moçambique. No entanto, admite que tem “muito pouco prazer em ver 22 homens a correr atrás de uma bola”. Um dos seus passatempos é “fazer aviões de papel que ficam a planar como por magia”.
O Vice-almirante só toca em bebidas alcoólicas quando é para se fazer um “brinde”. “Beber e sentir que podia perder o controlo fazia-me muita aflição. Uma vez, bebi uma cerveja: aquilo era amargo. Foi a última”, rematou.
Veja as fotos na nossa galeria.
Texto: Ivan Silva; fotos: Arquivo Impala e Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República
Siga a Revista VIP no Instagram