Ana Rocha de Sousa surpreendeu tudo e todos quando revelou, recentemente, que foi vítima de abuso sexual aos 17 anos. Em entrevista a Júlia Pinheiro, a atriz falou abertamente sobre este episódio traumático da sua vida, que lhe provocou feridas difíceis de sarar. “Comecei a perceber que as coisas não estavam bem arrumadas nas minhas gavetas quando casos públicos me começaram a afetar”, disse. “Acho honestamente que a minha própria história não é um bom filme”, lamenta.
A também realizadora – que em 2020 foi premiada pela sua primeira longa-metragem Listen, no Festival de Veneza – confessa que durante anos tentou apagar dos seus pensamentos a violação de foi vítima. “Acho que existe uma espécie de proteção física e psicológica que se tornou maior em mim”, afirmou, lembrando que tentou seguir caminho e andar para a frente.
“Ainda hoje tenho dificuldade em verbalizar isso”
Júlia Pinheiro quis saber se este abuso lhe retirou algo. “Não sei, porque só depois de ter falado no Tivoli é que, verdadeiramente, comecei a lidar de frente com isto. A importância de falar e de comunicar, para mim, esteve sempre mais associada aos outros do que a uma necessidade minha. Nesta fase da minha vida é muito fácil de compreender que a última coisa que faria sentido era aparecer a falar sobre isto”. No entanto, Ana Rocha de Sousa não conseguiu ficar indiferente aos casos recentes de abusos sexuais que foram ganhando eco na imprensa.
No seu caso, conforme adiantou Júlia Pinheiro, mais do que um abuso sexual foi mesmo uma violação. “Ainda hoje tenho dificuldade em verbalizar isso. Mas a verdade é que “o Código Penal enquadra a minha situação em violação”.
Sobre o facto de as pessoas falarem na necessidade de as vítimas dizerem o nome do abusador, a atriz, atualmente com 42 anos, refere que não o faz porque não pode. “Não se trata de proteger ninguém, como é óbvio. Gostava muito de dizer o nome dessa pessoa por uma razão simples: Todos deveríamos ter o direto de saber o risco que algumas pessoas correm na presença de…”.
O dia em que foi violada
Em conversa com a apresentadora da SIC, Ana Rocha de Sousa recordou que conheceu o abusador num dia em que estava a passear com os pais. “Vi um cartaz que aquela pessoa iria estar ali para uma sessão de autógrafos e fiquei na fila para lhe agradecer o facto de me ter respondido a algumas questões, por fax. Essa pessoa não sabia que me tinha ajudado”. Não se conheciam. No entanto, o alegado abusador retirou-a de uma fila cheia de gente. Ao acaso. “Porquê eu?”, questionou, fascinada, no alto dos seus 17 anos. Pessoalmente, Ana agradeceu-lhe e ele elogiou a sua beleza, pedindo para que ela lhe ligasse.
O pai da atriz não gostou do que viu, achou estranho a filha passar à frente de tanta gente na fila e fê-la prometer que só ligaria se fosse à frente dele. Ana assim o fez. Mas depois não contou que marcou um encontro.”Tenho essa culpa. A culpa de lá ter ido”, revela, bastante emocionada.
A atriz conta que foi atacada “de uma forma muito brusca, repentina e agressiva”. E fala sobre uma questão pertinente. “Fala-se muito sobre a questão do não. Sublinho que não é preciso, porque uma miúda petrifica… Eu não disse que não, mas o meu corpo disse que não”, frisa, acrescentando que hoje tem a noção de “que esta pessoa é um predador” e não esquece as suas palavras quando conseguiu fugir, apanhando o abusador desprevenido: “Disse-me: ‘Eu não fiz nada’”. Ana Rocha de Sousa correu para a rua com todas as suas forças e só quando chegou a uma estação cheia de gente se sentiu segura. “Se viessem atrás de mim, já podia pedir ajuda”.
Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Reprodução SIC e redes sociais
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