Maria João Abreu
A relação com José Raposo, o bullying e a família. Recorde a entrevista da atriz

Nacional

Maria João Abreu foi convidada de Daniel Oliveira no Alta Definição em 2019, pouco tempo antes da estreia de “Golpe de Sorte”. A SIC recorda o programa no dia das cerimónias fúnebres da atriz.

Sáb, 15/05/2021 - 13:00

Em 2019, Maria João Abreu deu uma entrevista a Daniel Oliveira, no Alta Definição. Esta conversa foi transmitida poucos dias antes da estreia da série “Golpe de Sorte”, que ficou marcada por ser a primeira vez que a atriz dava vida a uma protagonista. Este sábado, 15 de maio, data em que decorrem as cerimónias fúnebres de Maria João, o canal de Paço de Arcos volta a transmitir o programa, no qual a atriz  relembrou a infância difícil, falou sobre o amor e sobre a carreira artística, dando grande destaque ao novo projeto que se aproximava. 

“Os portugueses vão-se apaixonar por esta mulher. É muito simples e generosa. Esta personagem tem muitos altos e baixos. É muito completa”, dizia a atriz sobre a pesonagem Céu, uma vendedora de fruta que, de um dia para o outro, ganha 100 milhões de euros, no Euromilhões. “Ela procura realizar os sonhos dos filhos, tal como eu”, contava a mãe de Miguel, de 33 anos, e de Ricardo, de 26, frutos do casamento com o ator José Raposo.

“Se eu ganhasse 100 milhões de euros, ia fazer muitas doações como ela. Continuava a trabalhar, mas seria mais seletiva”, confidenciava, entre sorrisos. 

“Trabalhar com o José Raposo é fácil?”

Casada com João Soares, desde 2012, Maria João Abreu revelava ainda que sempre foi fácil trabalhar com José Raposo, de quem se divorciou em 2008, depois de terem estado casados 23 anos. O ator também entrava na nova séri. “É o pai dos meus filhos, é uma excelente pessoa. Um grande ator, talvez o melhor da geração dele”, dizia a atriz.

Ainda sobre Golpe de Sorte, Maria João congratulava o diretor geral de Entretimento da SIC. “Daniel, deixa-me dar-te os parabéns. A série tem atores mais velhos. Temos tanto a aprender com eles. Hoje em dia parece que a mãe é quase da idade da filha”, dizia.  

Sobre o marido, a atriz também abria o coração: “O João trouxe-me frescura. Voltei a acreditar no amor. É uma pessoa muito calma, ao contrário de mim!”

“Sofri de bullying no teatro, ao ponto de ir parar ao hospital”

A grande aventura na representação começou aos 19 anos, quando Maria João Abreu fez um casting para um musical e foi selecionada. Desde então, construíu uma carreira sólida, sendo uma das atrizes mais conceituadas do nosso País. No entanto, nem tudo foi um “mar de rosas”. “Sofri de bullying no teatro, ao ponto de ir parar ao hospital. Foi grave, muito grave. Tive muitos pesadelos. Cheguei a pensar que fosse algo pessoal. Foi-me dito que não, de pessoas que já tinham sido vítimas de bullying da mesma pessoa”, contava.

“Quando percebi que essa pessoa era assim, pensei que ela deveria ter um problema. Passei a trabalhar a compaixão dentro de mim e, um dia, estou num semáforo e essa pessoa passou. Já tinha sentido raiva e de repente passei a sentir compaixão… pena”, dizia ainda.

“Acontecia até em cena, no palco. Estilo estar a fazer um casal amoroso e a pessoa em vez de olhar para ti muito apaixonada, olha-te com ódio e cospe-te na cara e aperta-te a mão e empurra-te quando vais entrar em cena. Eu não queria acreditar que aquilo estava a acontecer. Como estavam pessoas mais idosas no elenco fui aguentando, aguentado, até que fui parar ao hospital. Fui parar ao hospital com um ataque de ansiedade”, desabafava. 

“Tinha uma grande necessidade de sentir amor”

A eterna Lucinda da série “Médico de Família”, também da SIC, falou ainda sobre a difícil infância que teve. “Os meus pais exigiam que eu fosse a melhor. Que fosse a melhor na escola. Eles queriam que eu tivesse uma vida melhor do que a que eles tiveram. Sempre trabalhei, desde muito nova”, contava a Daniel Oliveira.

“Lembro-me de estarmos à procura de tostões nas gavetas para irmos comprar um quilo de arroz para o jantar. Tinha sete, oito anos. A minha mãe é uma força da natureza. Trabalhava muito. Eu ia arranjando as coisas. Aos oito anos fiz o meu primeiro arroz de tomate. Sempre fui uma criança muito madura. Não sabia brincar. Tinha pânico de falhar e tinha uma grande necessidade de sentir amor», relembrava. 

A ex-mulher de José Raposo, atual companheiro de Sara Barradas, considerava que a “representação veio para colmatar tudo aquilo” que não brincou. “Sempre fui muito tímida. A representação veio para me soltar um bocado, descobrir facetas que não conhecia”, dizia ainda.

Os anos passaram e Daniel Oliveira perguntava se a atriz tinha saudades de ter os filhos em casa. “Muitas. De cantarmos todos juntos, lermos um livro”, respondia, levando o apresentador a perguntar: “Sofreste do complexo do ninho vazio?”. “Sim, muito. Saíram os dois de casa no mesmo dia. Foi horrível!”

Por fim, a artista revelava que já tinha sido traída algumas vezes por ser “demasiado honesta”. Em relação a pedidos de desculpa, garantia: “As pessoas importantes para mim e que me magoaram, já me pediram desculpa. Há pessoas que nunca mais quero voltar a ver ou com as quais quero voltar a trabalhar. Mas não estou chateada com ninguém”.

Texto: Ivan Silva; Fotos: Impala e reprodução redes sociais

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