Mary Trump, a sobrinha do presidente dos Estados Unidos, escreveu um livro sobre a família e as origens de Donald Trump.
Em “Too Much and Never Enough: How My Family Created the World’s Most Dangerous Man” (Demasiado e Nunca suficiente: Como a Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo, em português), descreve o tio como um homem com «comportamentos retorcidos», marcado por um pai «sociopata».
A família tentou que a obra não fosse publicada devido ao acordo de confidencialidade, mas sem sucesso. O livro tem data de publicação marcada para 14 de julho, mas já está em pré-venda. E já chegou às mãos de vários jornalistas nos Estados Unidos e, consequentemente, às manchetes dos jornais.
De acordo com a imprensa internacional, o livro da sobrinha de Donald Trump descreve a família em detalhes sórdidos, baseado nas memórias da autora, que passou boa parte da infância na casa onde o presidente dos Estados Unidos cresceu, no bairro do Queens, em Nova Iorque.
E traça o retrato do milionário tornado Presidente com base na sua infância e relações familiares, sobretudo com o pai e o irmão mais velho (pai da autora).
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O pai «sociopata»
A psicóloga, de 55 anos de idade, conta que a infância do tio foi marcada por abuso emocional e manipulação do pai (Fred Trump Senior) que, «destruiu» Donald Trump e interferiu «na sua capacidade de desenvolver e experienciar todo o espectro das emoções humanas».
Mary descreve o seu avô como um «sociopata» e aponta-o como o responsável pelo filho Donald ter desenvolvido «comportamentos retorcidos», como o de ver as pessoas apenas «pelo aspeto monetário» ou usar o «engano como forma de vida», destaca o The New York Times.
Conta, também, que o presidente cresceu a ver o pai intimidar o filho mais velho, Freddy Jr. (irmão de Donald e pai de Mary) – que morreu de problemas ligados ao alcoolismo quando a autora tinha apenas 16 anos. Mary aponta o avô como principal responsável pelo declínio do seu pai, ao pressioná-lo a trabalhar no império imobiliário da família e a acusá-lo de não ser duro o suficiente.
«A suavidade era impensável nele», diz Mary sobre o avô. «O Fred odiava quando o seu filho mais velho fazia uma asneira ou não conseguia intuir o que era suposto fazer, mas odiava ainda mais quando, depois de ser chamado à pedra, ele pedia desculpa», escreve a autora no livro. «Gozava com ele. O Fred queria que o seu filho mais velho fosse ‘um matador’», pode ler-se.
Donald Trump, sete anos mais novo que o irmão, «teve muito tempo para aprender enquanto assistia Fred humilhar o filho mais velho», escreve Mary Trump.
Ao observar este comportamento, Donald Trump moldou-se e adaptou-se à imagem daquilo que o pai desejava, analisa a autora, que é também psicóloga clínica de profissão e aponta traços narcisistas ao tio. «A lição que ele aprendeu, na sua forma mais simples, foi que era errado ser como o Freddy (…) A única maneira de Donald escapar ao mesmo destino era formar a personalidade dele para servir os propósitos do pai. É isso que os sociopatas fazem: atraem os outros e usam-nos para os seus próprios fins», escreve Mary Trump.
«Fred não respeitava o filho mais velho, assim como Donald», conta a autora. Na noite anterior à morte do seu pai – que morreu aos 42 anos de um ataque cardíaco ligado ao alcoolismo de que sofria -, a família enviou-o para o hospital, sozinho. Mary aponta que o tio, Donald Trump, foi «ver um filme» na noite seguinte, enquanto o irmão morria sozinho no hospital.
Trump pagou a colega por exames de acesso à universidade
Mary Trump afirma que o tio terá pago a um colega para fazer por ele os SAT (exames de acesso à universidade) por saber que assim teria melhor nota. Esses resultados escolares terão ajudado o agora Presidente a entrar na Wharton, a prestigiada faculdade de Gestão da Universidade da Pensilvânia.
Donald Trump contratou «um colega inteligente, com a reputação de ser bom em testes, para fazer os SATs por ele», escreve. «Donald, a quem nunca faltou dinheiro, pagou bem ao amigo», acrescenta Mary.
«Tinha que derrubar Donald»
No livro, Mary Trump conta que forneceu documentos fiscais ao jornal americano The New York Times, que os usou para publicar uma reportagem sobre os «duvidosos esquemas fiscais de Trump durante os anos 90, incluindo casos de fraude, que aumentaram bastante a fortuna que recebeu dos pais».
Mary Trump disse que foi abordada por jornalistas na sua casa em 2017 e inicialmente ficou relutante em ajudar. Um mês depois, enquanto assistia o tio «destruir normas, ameaçar alianças e passar por cima dos mais vulneráveis», decidiu entrar em contato com o repórter do New York Times. Entregou-lhe vários documentos ilegais que incriminavam o tio.
«Foi o momento mais feliz que vivi em meses (…) Não me bastava ser voluntária numa organização que ajuda refugiados sírios (…) Tinha que derrubar Donald», escreve no livro.
O acordo de confidencialidade e a sentença do tribunal
Segundo Mary Trump, o livro baseia-se nas suas memórias e em momentos reconstituídos por relatos que lhe foram feitos por alguns membros da família, bem como em documentação.
Mary Trump e o irmão acusam a outra parte da família de não lhes ter dado a quota-parte respetiva que estava prevista no testamento do pai, o que levou a um processo judicial que terminou em acordo entre ambas as partes.
É esse mesmo acordo que agora outro irmão da família Trump, Robert S. Trump, cita para tentar travar a publicação deste livro nos tribunais. Em causa está o acordo de confidencialidade que Mary Trump teria assinado à altura.
Até ao momento, um juiz de Nova Iorque recusou uma providência cautelar para impedir a editora Simon & Schuster de publicar o livro. E em breve deverá proferir a sentença sobre se Mary Trump violou ou não o acordo de confidencialidade.
Texto: Inês Neves; Fotos: reprodução Instagram e D.R.
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