Mais de um ano depois da morte do seu pai, Hernâni Carvalho abriu o livro e falou sobre aquele que considera ser um dos episódios mais marcantes da sua vida.
Em entrevista a Daniel Oliveira, para o programa Alta Definição, o anfitrião do formato Linha Aberta recordou com saudade a figura do progenitor. A entrevista foi realizada em abril do ano passado e repetida, este sábado, pela SIC.
«A perda dos nossos é uma coisa avassaladora. Mesmo! A finitude de não poderes tornar a estar com aquela pessoa, a ouvir aquela pessoa, a fazer uma festa àquela pessoa… Isso é avassalador. Isso deixa-te destruído», defendeu o também comentador de assuntos criminais d’O Programa da Cristina. No caso da perda do seu pai, falecido em março de 2018, doeu «muito». «Perdi o meu pai há um ano e ainda não estou bom [riso nervoso]. Não sei se alguma vez vou estar», admitiu Hernâni, esboçando um sorriso.
E continuou: «Foi violento, foi dificílimo. Trabalhar, ler, procurar estar longe daquela memória é o que mais aconselho a quem quer que seja, mas sei que é um conselho precário. Mas foi assim que eu cá cheguei. Mas dói ainda. Muito.»
Questionado por Daniel Oliveira sobre se pai e filho se tinham despedido, Hernâni anuiu, lembrando, contudo, que o progenitor «viveu mais do que um mês inconsciente». «Mas, dentro do possível, sim, despedimo-nos. Falámos de tudo o que tínhamos para falar. A seu tempo. Não tínhamos nenhum esqueleto no armário. Falámos de tudo. A sós. Às vezes que foram necessárias», disse, orgulhoso.
«Ele estará contente com aquilo que fiz no último ano»
O pai de Hernâni Carvalho foi, na opinião do jornalista, «um dos grandes pilares da construção» da sua personalidade, pela «forma como defendia valores, noutros tempos e ao longo dos tempos». «O meu pai transmitiu-se sempre valores muito fortes. Desde muito cedo. E o discurso foi sempre igual, preocupado com a construção de uma mentalidade de um homem bom. Não lhe chegarei aos calcanhares, mas procuro ser um homem bom», complementou.
«Invariavelmente», continuou, «fiz coisas com que ele não estaria de acordo ao longo da vida, mas nem por isso deixei de o ouvir, porque era garantidamente um exemplo fabuloso do que é um homem honrado. E isso faz sempre falta.» Por isso, o que mais custa a Hernâni Carvalho é o «futuro». Em conversa com Daniel Oliveira, explicou porquê: «Perdeste a oportunidade de viver o futuro com aquela pessoa que valia a pena. No caso do meu pai, a pessoa que mais valia a pena. Portanto, perdi a oportunidade de viver o futuro com ele. Mas decorre de uma lei natural da vida, não é? Havia de acontecer. Podia ter acontecido mais tarde. Isso faz-me falta.»
O comentador d’O Programa da Cristina terminou lembrando que a troca de opiniões entre pai e filho eram constantes e que nem sempre o acordo era alcançado. «À medida que os anos foram passando, talvez por eu estar mais crescido, ele foi introduzindo uma expressão final nas frases que era ‘Mas tu é que sabes’», riu-se. Um ano depois do desaparecimento da figura paterna, o balanço era positivo: «Acho que, neste último ano, não me portei mal. Portanto, ele estará contente com aquilo que fiz no último ano.»
«Os teus silêncios foram rios de amargura que quiseste atravessar»
A notícia da morte do pai de Hernâni Carvalho foi dada pelo rosto da SIC, numa mensagem publicada nas redes sociais em que salientava pontos fortes da sua vida. «Pai, tinhas a Humildade brilhando nos olhos e a Honra inscrita no rosto. E assim viveste. Mais preocupado com o respeito pelos outros do que com a Dignidade que lhes mereceste», podia ler-se.
«Sei que estarás por perto sempre que o meu caminho ficar árduo e sei que acharás maneira de me dizer de novo nesse teu tom calmo: Ponderação! Foi assim que viveste. Os teus silêncios, sei-o melhor que ninguém, foram rios de amargura que quiseste atravessar. A sós. Nunca te ouviram um protesto em publico, e no entanto, olhavas o Mundo como os sábios. Respeitado como poucos, abdicavas do verbo e impunhas-te pela atitude. A Honra que te roubou alegrias, mantém-se, intacta, colada à memória que todos guardam de ti. Obrigado, meu querido Pai!», escreveu ainda.
Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Arquivo Impala e reprodução redes sociais
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