Ricardo Quaresma fala em terminar a carreira de futebolista daqui a dois anos. O jogador admite que será difícil, mas que já tem uma ideia do que virá a seguir.
O craque joga atualmente no clube turco Kasimpasa. E foi diretamente da Turquia que esteve à conversa, através de um direto no Facebook, com a jornalista Patrícia Matos.
Ao seu lado estava Daphne, a mulher que o acompanha há cerca de 10 anos e mãe dos seus filhos mais novos. Ricardo e Kauana, de sete e quatro anos, respetivamente. Quaresma é ainda pai de Ariana, de nove, fruto de uma relação anterior.
«Conhecemo-nos no aeroporto. Marcámos encontro»
Daphne contou como se conheceram: «No aeroporto. Eu tinha um primo que tinha um amigo em comum com ele. Marcámos um encontro no aeroporto e conhecemo-nos. E, desde aí, nunca mais nos separámos. Ele ficou caidinho. Estamos juntos há 10 anos.»
«Conhecemo-nos e ele trouxe-me logo para a Turquia», disse. «Vim para a Turquia em 2010. Depois fui para o Dubai. A seguir, Porto. E depois voltámos para cá», explicou o jogador.
Estão há sete anos seguidos na Turquia. E o jogador não sabe quanto mais tempo vai lá ficar. Não sabe se fica mais um ano no clube onde está. Mas certo é que ainda não está preparado para acabar a carreira de futebolista. Quaresma quer calçar as chuteiras por mais dois ou três anos.
«Gostava de ter uma loja de roupa»
«Não sei se é o meu último ano aqui. Ainda tenho uma reunião marcada com o clube para saber o que eles pretendem. Há a opção de continuar ou não. Ainda não está nada decidido. Mas ainda não vou acabar a minha carreira», afirma.
«Ainda tenho alguma coisa para dar. Muito não sei, porque já tenho 36 anos. Mas mais dois ou três aninhos penso que ainda dê para aguentar», conta, adiantando que só a falta de «entusiasmo» e «alegria» que ainda sente pelo futebol o irão levar a parar já.
«Abandonar o futebol vai-me custar muito. Já me estou a mentalizar para isso, mas vai ser difícil para mim», assume.
Sobre o que vem a seguir, Quaresma tem uma ideia. «Estamos a pensar em ter os nossos negócios, mas não sabemos ao certo o quê. Gosto muito de moda. E gostava de ter uma loja de roupa», conta.
Daphne lembra que não é fácil ser mulher de um jogador como Ricardo Quaresma, principalmente por ter de estar longe da família e das coisas que mais gosta em Portugal.
Uma das coisas que sentiram falta foi «carne de porco», mas lá arranjaram «forma de comprar» lá e matar as saudades. Quando isso não é possível, vêm a Portugal «encher a mala» e levam de volta para Turquia.
«A Daphne já chegou a ir no voo da manhã e a regressar no voo da tarde para ir buscar papas para os meus filhos a Portugal», diz o futebolista.
«A Daphne se engordar, meto-a fora de casa»
Sobre o período em que estiveram em quarentena obrigatória por causa da pandemia da Covid-19, Quaresma confessa que não foi fácil. Foi um desafio por estar fechado em casa com duas crianças e uma luta para não engordar.
Tivemos de fechar a boca a muita coisa. Eu sou guloso, gosto muito de chocolates e gomas (…) e o stress puxa-te a comeres. Foi difícil, tentamo-nos controlar ao máximo. Eu perdi dois quilos. A Daphne se engordar, meto-a fora de casa», solta a brincar.
Os filhos ajudaram-nos a não ganhar uns quilos a mais.
«Com dois filhos pequenos é quase impossível pararmos um bocadinho. Chegámos a comprar um trampolim e irmos os quatro para lá. Chegava à noite e estava todo partido. Mas tem de ser, temos de fazer sempre algo, as crianças têm de se divertir», diz. «É muito complicado ter dois filhos fechados em casa. E os meus têm muita energia. É difícil pará-los. Tens de inventar alguma coisa para os cansares, para chegar à noite e dormirem tranquilos», explica.
«Senti que muitas vezes me criticavam apenas por ser cigano»
Num tom mais sério, Ricardo Quaresma falou da sua etnia cigana. E de como se sentiu muitas vezes discriminado em relação aos seus colegas da bola.
«Senti que muitas vezes me criticavam apenas por ser cigano», começa por dizer.
«Sentia que era diferente dos outros. Se eu desse uma entrevista e se dissesse a mesma coisa que um colega meu, a mim caiam-me em cima. E, se calhar, ao meu colega diziam que achavam muito bem», continua.
«Por exemplo, muitos comentadores diziam que eu tinha um talento enorme, mas que faltava qualquer coisa. Em mim faltava sempre alguma coisa. Ou era porque não defendia ou era porque quando tinha de passar, chutava… faltava sempre alguma coisa em mim. Enquanto nos outros não. E eu sabia que era melhor que os outros. Mas era isso que me dava vontade de estar em campo e de provar que o melhor era eu», explica.
O craque diz que não é o facto de se ser cigano ou de crescer num bairro problemático que vai ditar o futuro.
«Tu podes ser quem quiseres. Tens é que ter força para lutares por aquilo que queres. Não é por eu crescer num bairro que vou ser traficante ou drogado. Essa mentalidade só existe para os fracos. Não era por eu ter nascido num bairro que não ia ser alguém na vida», afirma, agradecendo a Deus as oportunidades que teve e o que alcançou.
A polémica com André Ventura não ficou esquecida. Aqui pode ver a resposta que Quaresma deu ao líder do Chega.
Texto: Inês Neves; Fotos: reprodução Instagram
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